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Lula eleito
| Foto: Ricardo Stuckert

Na eleição mais acirrada do Brasil desde a redemocratização, o resultado das urnas deixa uma mensagem clara da maioria dos eleitores: o país precisa de paz e entendimento, de reforço da democracia, para retomar os caminhos de crescimento econômico, de justiça social e de melhores condições de vida à população, especialmente à grande parcela que hoje vive em graves dificuldades. A maioria decidiu que é preciso resgatar a harmonia entre os poderes, assegurar o respeito às instituições, dar um basta ao ódio e à intolerância, recuperar direitos destruídos nos últimos anos, substituir a indiferença (descaso) pela empatia e governar para todos e todas, sem discriminações.

O resultado das urnas também mostra uma polarização ainda maior que a registrada no país em 2018, mas com inversão (houve aumento do número de eleitores que optaram pelo programa progressista). A vitória progressista, no entanto, não espelha a composição do próximo Congresso Nacional, que será composto por numerosa força conservadora, da qual faz parte também representantes da extrema-direita.

O próximo presidente terá de negociar com uma parcela significativa de parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado que foram eleitos com base no programa do presidente Jair Bolsonaro. E tem o desafio de encontrar uma saída para resolver o repudiável orçamento secreto, que garantiu até agora base de apoio a Bolsonaro, mas que é rechaçado pela população. Do lado dos oposicionistas, a expectativa é de uma oposição responsável, como se requer os regimes democráticos.

A divisão do país, entretanto, não pode se sobrepor à decisão da maioria. Os eleitores que deram vitória a Lula optaram por rejeitar uma série de ações que foram normalizadas no Brasil nos últimos anos: aumento da desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos; volta da miséria, com milhões de pessoas com insegurança alimentar ou passando fome; indiferença diante de uma pandemia que deixou mais de 680 mil mortos; ataque às instituições para causar instabilidade e colocar em risco a democracia; retirada de direitos, especialmente trabalhistas; descuido com o meio ambiente; uso da fé para tirar vantagens eleitorais e a mistura de religião com política; ausência de políticas contra a discriminação, como discriminação social, racial e de gênero; incentivo à violência e a propagação do ódio; e disseminação de desinformação como forma de manipular as pessoas.

O resultado da eleição demonstra também que uma maioria não apoia questões como privatização de empresas estatais estratégicas, redução do tamanho e do papel do Estado, mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF) e maior liberação de armas à população como instrumento de segurança pública.

Mas há questões que unem os dois lados do eleitorado e são esses os temas que abrem possibilidades para o próximo governo atuar de forma a unir o país. O combate rigoroso à corrupção é uma delas. Há unanimidade no país (exceto para alguns beneficiários) de que a corrupção é um mal que precisa ser extirpado.

Propostas vencedoras nas eleições precisam ser efetivadas

  • Salário mínimo com aumento acima da inflação todo ano
  • Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil
  • Valorização dos servidores públicos
  • Milhões de empregos desde o primeiro ano de governo
  • Para a juventude, formação e empregos melhores
  • Salário igual para homens e mulheres
  • Bolsa Família de R$ 600 e comida barata no mercado
  • Desenrola Brasil para livrar famílias das dívidas
  • Empreende Brasil, para você que sonha em ter o próprio negócio

Outros pontos de convergência e que abrem janelas de entendimento e pacificação do país são o fortalecimento da educação e do Sistema Único de Saúde (SUS), o resgate e maior acesso à cultura, a solução para a dívida das famílias, a simplificação do sistema tributário, o apoio ao empreendedorismo e o estímulo à ciência e tecnologia.

A proposta vencedora é pela redução de tributos dos mais pobres e do consumo, com a compensação de aumento da tributação dos mais riscos. Também venceu a proposta de aumento dos investimentos públicos como meio para impulsionar o crescimento e as atividades econômicas nos diversos setores privados.

Venceu a proposição de que a política de reajuste do salário mínimo deve levar em conta aumentos reais como forma de elevar a renda e o poder aquisitivo da grande parcela de trabalhadores e trabalhadores, além dos aposentados, que recebem o piso.

Outra urgência é a reinserção do Brasil no palco na política internacional, com ações propositivas e de liderança, com protagonismo na América Latina e entre os países do mundo em desenvolvimento. No mundo desenvolvido, a política ambiental, com destaque para a Amazônia, terá papel decisivo na reconquista da confiança.

Lula sai da eleição mais acirrada desde a redemocratização legitimado para conduzir os rumos do país. Uma oposição responsável deve ter o compromisso de não impedir a implantação, por parte do próximo governo, de medidas aprovadas nas urnas. O julgamento será novamente feito pela população nas urnas daqui há quatro anos. Sem golpes no meio do caminho.

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