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Rejeição à vacina contra covid-19
Aprovação da vacina da Pfizer pela FDA, agência reguladora dos EUA, trouxe ânimo aos americanos.| Foto: Divulgação/Pfizer

Em setembro, metade dos americanos declararam em pesquisa conduzida pelo Instituto Gallup que estavam dispostos a tomar uma vacina contra covid-19. Um mês depois, em outubro, a disposição subiu para 58% e agora, em dezembro, chegou a 63%. Em Portugal, levantamento do Barómetro Covid-19 mostra que em setembro, 26% dos portugueses pretendiam esperar “muito tempo” ou “não tomar” a vacina; em novembro, a rejeição à vacina caiu para 18%.

A crescente aceitação da vacina em outros países contrasta com a rejeição no Brasil, que vem aumentando, embora o país tenha alto índice de pessoas que afirmam estar dispostas a receber um imunizante. Pesquisa do Datafolha divulgada no sábado (12) perguntou aos entrevistados se eles pretendem tomar vacina contra o coronavírus. A grande maioria (73%) disse que sim, mas em agosto a aceitação era maior, de 89%. Em contrapartida, o número de brasileiros que dizem que não vão se vacinar aumentou de 9% para 22% em novembro.

Um estudo do Instituto de Inovação em Saúde Global (IGHI), do Imperial College London, destaca que as atitudes das pessoas diante de uma vacina contra coronavírus têm grandes diferenças entre os países. De 15 países pesquisados, os britânicos mostraram a maior disposição, com cerca de 2 em cada 3 (65%) concordando que estariam dispostas a receber uma vacina em 2021. Em vários países, a rejeição fica abaixo de 20% (veja quadro abaixo).

Rejeição à vacina contra covid-19
Percentual de pessoas que disseram rejeitar totalmente ou parcialmente uma vacina contra covid-19 em 15 países pesquisados pelo Imperial College London.| Reprodução/Imperial College London

Segundo o levantamento do Imperial College, Dinamarca e Austrália vêm em segundo e terceiro lugares entre os países com maior aceitação. Em contraste, a população francesa teve a menor parcela de entrevistados dispostos a se vacinar, com apenas um terço dizendo que tomaria uma vacina no próximo ano (35%).

A diferença de posicionamento das pessoas entre os países é confirmada por outros estudos, mas os números não são idênticos. Uma pesquisa supervisionada pelo Vaccine Confidence Project (VCP) – programa de vigilância global sobre vacinas fiduciárias financiado pela Comissão Europeia e empresas farmacêuticas – e realizada em 19 países, revelou que 71,5% dos participantes teriam muito ou alguma probabilidade de tomar a vacina contra covid-19. Mais de 60% relataram que aceitariam a recomendação de seu empregador para fazê-lo.

No estudo do VCP, a surpresa vem dos países asiáticos. Na China, por exemplo, mais de 90% dos participantes disseram que aceitam se vacinar, enquanto que no Japão a aceitação supera 80%.

Aceitação de vacina contra covid-19
Aceitação de vacina contra covid-19 é maior em países asiáticos.| Reprodução/FSFW

Cientistas de todo o mundo e a Organização Mundial da Saúde (OMS) são unânimes em estimar que 70% da população dos países precisará ser vacinada contra a Covid-19 para que a imunidade de rebanho seja atingida, condição necessária para controlar o vírus. Seguindo esse porcentual, o Brasil teria de vacinar mais de 140 milhões de pessoas para cumprir a sua parte.

Em vários países, especialmente nos EUA, analistas veem o aumento de pessoas interessadas em tomar a vacina como consequência do avanço no desenvolvimento de imunizantes e do recuou de lideranças políticas e governantes em rejeitar a vacinação, além da menor influência de grupos antivacina. No caso americano, a atuação do presidente Donald Trump nas últimas semanas foi considerada decisiva para que mais pessoas decidissem por se vacinar.

Em agosto, segundo o histórico de pesquisas do Gallup, os republicanos – partidários de Trump – dispostos a tomar vacina somavam apenas 37%. Agora, são 50%. Entre os democratas, atualmente 75% dizem que vão se vacinar.

No Brasil – com presença diminuta de ativistas antivacina organizados –, a resistência é propagada em perfis pessoais nas redes sociais e influenciada, em grande parte, por declarações do presidente Jair Bolsonaro e algumas lideranças aliadas. O presidente já afirmou mais de uma vez que não tomará vacina contra covid-19 e tem feito declarações questionando a vacinação.

A construção da confiança da população na vacina, de acordo com especialistas, será fundamental para atingir a meta de 70%, o suficiente para debelar a pandemia. “As vacinas são intervenções altamente seguras e oferecem nossa melhor esperança para controlar a pandemia e retornar à vida normal. Mas elas só serão eficazes no combate ao vírus se o público os aceitar e estiver disposto a recebê-los”, disse o professor e pesquisador Ara Darzi, codiretor do Instituto de Inovação em Saúde Global (IGHI), do Imperial College London, ao comentar o relatório da instituição.

O professor Daniel Freeman, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, e líder de um estudo desenvolvido pela instituição para medir a rejeição dos britânicos à vacina contra covid-19, defende que é preciso mensagens fortes de que tomar a vacina é realmente um dever que devemos cumprir para o benefício de todos. “Surpreendentemente, aqueles que estão hesitantes não estão trazendo à mente o benefício de tomar uma vacina covid-19 para todos. Também há a crença, por parte dessas pessoas, de que o vírus não é pior do que a gripe e que os efeitos colaterais da vacina não serão conhecidos até mais tarde. Muitas vezes (a rejeição) está enraizada em uma desconfiança mais profunda, incluindo opiniões negativas dos médicos, raiva de nossas instituições e, às vezes, até crenças conspiratórias”, comenta Freeman ao comentar o estudo para o portal Biopharma.

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