| Foto: Fotos: Aniele Nascimento

Em seu livro ‘Os Rocha Loures: uma família paranaense em 300 anos de história' (1995), a pesquisadora Maria Cristina Pieruccini constata que os Rocha  Loures estão presentes  no  poder  político  e  econômico  do  Paraná  desde  a época  da  fundação  da  cidade  de  Curitiba,  há  mais  de  trezentos  anos. A história da família se confunde com a história paranaense, com ligações de parentesco que se entrelaçam com outros nomes históricos como Carrasco dos Reis, Matheus Leme, Afonso Camargo, Bento Munhoz da Rocha, Ney Braga e tantos outros.

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Em três séculos o clã Rocha Loures enfrentou altos e baixos, mas se manteve praticamente intacto, até 2017, quando uma ‘bomba atômica política’ atingiu o ramo mais conhecido da família na atualidade. O então deputado Rodrigo Rocha Loures, chamado pelos mais próximos de Rodriguinho, foi filmado carregando uma mala com R$ 500 mil que supostamente seriam propina do grupo J&F destinada ao ex-presidente Michel Temer.

Até Rodriguinho ficar conhecido nacionalmente, o nome de maior expressão da família era seu pai, Rodrigo Costa da Rocha Loures. Fundador da empresa Nutrimental – famosa pelas barrinhas de cereais Nutry – presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) por dois mandatos e ex-integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (criado pelo governo Lula), Rodrigão, como é chamado por alguns, decidiu quebrar o silêncio que vinha mantendo sobre o episódio da mala e suas consequências para a família.

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Afastado da direção da empresa que fundou, Rocha Loures mudou-se com a esposa para São Paulo e hoje integra o Conselho da Federação das Indústrias de São Paulo, a poderosa Fiesp. Também joga suas energias em uma parceria com o centro universitário UniAmérica com o intuito de formar profissionais preparados para o mercado de trabalho.

Nesta entrevista, concedida na sede da Nutrimental, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, o pai de Rodriguinho desabafa. Se diz perseguido por agentes públicos com interesses políticos e afirma que seu filho foi envolvido em uma trama para derrubar o presidente da República. Avalia também que a suspeição sobre a classe empresarial e a criminalização da política estão entre os fatores que levaram à crise econômica do país.

Rodrigo da Rocha Loures , presidente da Nutrimental .| Foto: Gazeta do Povo

“A turbulência política, a insegurança jurídica e até o ambiente de suspeita com relação aos empresários e à vida empresarial no Brasil prejudica a economia. A própria criminalização da política, os excessos de zelo do Ministério Público, tudo faz com que a economia se ressinta.”

O momento econômico e político do Brasil é de otimismo ou de preocupação para os empresários?

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Estamos num processo de encontrar caminhos, mas tem alguns aspectos positivos. O fortalecimento do protagonismo do Congresso é um fato relevante. O novo estilo do governo está sendo experimentado, a própria sociedade, a imprensa, o Congresso e o universo empresarial vão colocando os limites e auxiliando o Executivo a ir ajustando a sua atuação. Agora, o que vai resultar disso só a dinâmica do país vai apresentar prognósticos. A economia continua não indo bem, nós, empresários, sentimos tudo muito difícil, os enroscos são muito grandes, a segurança jurídica está abalada diante de uma série de fatos presentes. Há muita incerteza no ar, há muitas dúvidas.

O empresário brasileiro precisa mudar para competir no mercado globalizado?

O que falta no empresariado brasileiro em geral – com exceção do setor do agronegócio, onde os empresários são organizados e têm obtido sucesso, assim como na área financeira – é articulação, representatividade e agenda efetiva. Na indústria, por exemplo, a conhecida desindustrialização precoce no Brasil é um tema presente há muitos anos. De uma condição de 25% do PIB, a indústria de transformação detém hoje apenas 10%. Está perdendo dia-a-dia competividade e produtividade, por conseguinte não se vê nenhuma ação concreta do governo nessa área.

É possível mudar esse cenário no curto prazo?

Quando se faz uma mudança econômica não se pode perder de vista que deve encaminhar o ambiente onde as empresas operam para se equivaler aos ambientes que os competidores têm lá fora. Aqui no Brasil, as condições são muito adversas. Não é por outra razão que está havendo desindustrialização, fechamento de fábricas, alto nível de desemprego.

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Rodrigo da Rocha Loures , presidente da Nutrimental .| Foto: Gazeta do Povo

“Esses excessos (das forças de investigação) têm provocado consequências desastrosas. Quantas empresas quebraram? Quando uma empresa quebra é como um animal quando morre, não ressuscita. As empresas são estruturas, têm as máquinas, os trabalhadores, os gestores, os sistemas de operações, todo um ativo tangível e intangível por trás daquilo que gera riqueza para o país. Do momento em que se desestrutura uma empresa, não tem como recuperar mais.”

No ano passado veio a público que a família Rocha Loures estava decidida a vender a Nutrimental. A venda continua nos planos?

A empresa precisa crescer e para crescer precisa investir, acessar mercados. Não estamos vendendo a empresa, estamos procurando sócios, investidores. Para isso, contratamos o Banco Itaú, mas o contrato está terminando neste mês. Essas negociações são demoradas, dependem de encontrar parceiros, e o ambiente de negócios brasileiro neste momento prejudica.

Quais fatores contribuem para esse ambiente ruim?

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A turbulência política, a insegurança jurídica e até o ambiente de suspeita com relação aos empresários e à vida empresarial no Brasil prejudica a economia. A própria criminalização da política, os excessos de zelo do Ministério Público, tudo faz com que a economia se ressinta, assim como também as questões trabalhistas. Esse cenário faz com que o empresário fique retraído e, se o empresariado não empreende, não investe, a economia se ressente. Isso está acontecendo em todas as escalas, desde o pequeno investidor até os grandes. E é essa massa de investidores que faz a economia funcionar. O Brasil foi literalmente tirado do mapa global de investimentos há algum tempo e ainda há expectativa de como isso vai se desenrolar.

O senhor vê então criminalização da classe política neste momento no país?

Há a presunção de que todo político é corrupto, que todos os políticos são corruptos. Ora, os políticos desempenham papeis fundamentais, tem o prefeito, os vereadores, os deputados, os senadores. Não se trata de dizer que são perfeitos, mas temos que acreditar nos mecanismos institucionais. A democracia representativa foi um avanço da humanidade.

Como explicar o episódio de abril de 2017, quando seu filho – o então deputado federal Rodrigo Rocha Loures – foi filmado em ação controlada da Polícia Federal recebendo uma mala com R$ 500 mil do executivo Ricardo Saud, da JBS, que supostamente seria destinada ao então presidente da República, Michel Temer?

Não se justifica ele ter aceito carregar aquela mala, mas, pelas circunstâncias como aquilo foi montado, fica evidente que houve uma conspiração, uma trama, para ter as fotos, as imagens, numa tentativa de derrubar o presidente Temer. Logo depois do episódio passaram a pressionar meu filho e toda a nossa família – eu fui vítima dessa pressão. Naquele momento ele compreendeu e foi muito responsável, não dando motivo para que a trama fosse em frente e causasse a desestabilização do sistema institucional do país. O objetivo não era meu filho, o objetivo era derrubar o presidente Temer. Ele foi envolvido, não conhecia o Joesley (Batista, um dos donos da JBS), nunca teve contato com o Joesley anteriormente. Aquilo foi jogado na mão dele para ser entregue ao Temer, mas não se sabe se o presidente tinha algum acerto para receber aquilo. Então fica visível que havia uma trama, uma montagem, uma conspiração.

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A mala então não era para o Temer?

Não sei, ninguém sabe, nada ficou comprovado. Fica evidente que havia uma trama para atingir o poder central da nação. Meu filho também não sabe, ele foi envolvido para o centro do episódio combinado entre o Joesley e o Ministério Público.

Rodrigo da Rocha Loures , presidente da Nutrimental .| Foto: Gazeta do Povo

“Não se justifica ele (o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures) ter aceito carregar aquela mala, mas, pelas circunstâncias como aquilo foi montado, fica evidente que houve uma conspiração, uma trama, para ter as fotos, as imagens, numa tentativa de derrubar o presidente Temer.”

Quais foram os impactos desse episódio na família?

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Em todos os níveis. Para os filhos do Rodrigo, para a mãe dele, todos passaram por grande sofrimento. Para ele, politicamente foi uma tragédia. Eu pessoalmente fui objeto, de forma injusta, de investigação, de suspeita de ter participado de tudo que aconteceu. Recentemente saiu notícia nos jornais de que a Receita Federal abriu processo de representação contra mim, minha esposa, minha filha, minha ex-nora. Tudo isso como instrumento de pressão sobre a família em busca de delações. Isso se caracteriza claramente abusos, são medidas arbitrárias.

Qual o impacto na vida empresarial?

Para a empresa, os empregados, os colaboradores, todos ficaram assustados. Dificultou muito, os juros para nós subiram, estamos tendo que pagar juros mais altos, mas estamos funcionando, estamos nos reorganizando. Bancos com os quais trabalhamos há cerca de 50 anos, como o BRDE, por exemplo, passaram a recursar a nos dar crédito para investimento na empresa. O BRDE passou a adotar restrições – barreiras essas informais, já que ninguém escreve, mas as barreiras surgiram. Pensam assim: ‘olha, o filho não é sócio da empresa, mas o pai é’. Nossa empresa tem mais de 50 anos, uma posição reconhecida no mercado, por isso estamos suportando e superando. Mas tem empresas que não suportam, desmoronam, e aí vão embora a produção, o recolhimento de impostos, os empregos.

O senhor acha que houve perseguição?

Eu me sinto perseguido, assim como toda minha família. Meu filho errou, não deveria ter aceitado aquilo, mas não é certo perseguir toda sua família. Para isso tem um processo judicial, que vai apurar tudo e chegar a uma conclusão. Isso vai levar muitos anos e vai acabar com quase toda a vida dele. Agora, é justo acabar com a vida da mãe dele, da mulher dele, do pai dele, do primo, de toda a família? Não é correto. Outro problema é que eu sou eu, meu filho é meu filho, o irmão dele é irmão. Todas essas pessoas não são ele. Então, por que se uma pessoa de uma família comete uma irregularidade tem que penalizar o seu pai, a sua mãe, os seus irmãos e irmãs, toda a família? E o entendimento desse pessoal é expor todos.

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Mas foram ações de combate à corrupção...

É salutar o combate à corrupção, mas não pode ser com motivação política, com excessos. Não pode ser com a lógica de atingir objetivos políticos. A lógica usada contra minha família foi essa, com fins políticos.

Quais são as consequências desses supostos excessos?

Esses excessos têm provocado consequências desastrosas. Quantas empresas quebraram? Quando uma empresa quebra é como um animal quando morre, não ressuscita. As empresas são estruturas, têm as máquinas, os trabalhadores, os gestores, os sistemas de operações, todo um ativo tangível e intangível por trás daquilo que gera riqueza para o país. Do momento em que se desestrutura uma empresa, não tem como recuperar mais. Perde-se um ativo social. Toda empresa presta um serviço público, apenas a propriedade é privada. O benefício é social e tudo isso foi ignorado.

O senhor se sente injustiçado?

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Me sinto sim injustiçado pelo Ministério Público. Em decorrência desse episódio, tive uma fazenda invadida, com enormes prejuízos e com risco de até haver contaminação do gado sem vacinas e de espalhar doença para a pecuária do Paraná. Eu não posso entrar na minha fazenda (localizada no município de Boaventura de São Roque, na região Centro-Sul paranaense). São 500 alqueiras, que tinha 1.200 cabeças de gado, tratores, maquinários, pastagens, todo o patrimônio foi dilapidado. A fazenda era produtiva, gerava empregos, impostos. Qual é a vantagem para economia do país paralisar toda uma estrutura produtiva?

Mas a Justiça mandou reintegrar...

Um juiz mandou fazer a reintegração, mas o Executivo estadual não cumpre essa determinação. Pedi uma audiência ao governo do estado para tratar dessa questão e não fui recebido. Dá para viver numa sociedade que exclui um cidadão de ser assistido sobre um tema que é de seu interesse? Não quero me indispor com o governador Ratinho, aprecio muito ele, desejo sucesso para o trabalho dele, mas veja que constrangimento os executivos e os políticos ficam sujeitos por conta dessa estigmatização provocada por uma imperícia de certos setores do sistema público de investigação e verificação.

O senhor ainda tem contados com muitos políticos ou ficou isolado?

Com o Requião tenho contato periodicamente, quando encontro ele no avião. Se damos muito bem assim como me dou bem com o Álvaro, que é um pouco mais novo que eu, me dou bem também com o Jaime Lerner, admiro muito o Greca, que está fazendo um bom governo.

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O senhor se considera de direita ou de esquerda?

Não sou de direita nem de esquerda; sou defensor do processo democrático, do pragmatismo. Me relacionei e me relaciono bem com Requião porque somos amigos desde a época de juventude, mas do ponto de vista político, em muitas vezes fomos adversários, desde a época universitária. Já nos confrontamos em certas situações, mas sempre nos respeitamos. O Requião deu uma importante contribuição para o Paraná, sempre foi super responsável quando esteve no exercício do poder. Assim como eu tenho bom relacionamento com o Jaime Lerner, que também deu uma enorme contribuição ao Paraná. Essa é a virtude do sistema democrático, da alternância no poder, vai permitindo que as agendas dos diversos segmentos sociais vão de alguma forma sendo atendidas. Curitiba é um exemplo disso, que teve Jaime Lerner e fez uma grande planejamento, depois vieram outros prefeitos com estilos diferentes e foram agregando. Fui vizinho do Jaime Canet, que fez um grande governo, tive bom relacionamento com o Ney Braga, que é primo da minha mãe, deu uma enorme contribuição para o estado, o Bento Munhoz que era casado com uma prima irmã do meu pai.