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Manifestantes pró-governo durante discurso de Putin, em Moscou, no dia 18 de março.| Foto: Reprodução/Youtube

“Um mundo que se perde na decadência LGBT, em gênero e nas políticas identitárias, que sairia ganhando com a derrota definitiva da Rússia e consolidaria um novo ‘momento unipolar’, no qual floresceriam perversão, escravidão e duplicidade.” O trecho extraído de um artigo do colunista Constantino Ceoldo, publicado com destaque no site nacionalista conservador pravda.ru – não confundir com o histórico jornal de esquerda Pravda – retrata um pouco da visão que boa parte dos russos tem do Ocidente, mais especificamente da União Europeia e dos EUA.

Para entender o apoio de muitos russos ao presidente Vladimir Putin, é preciso considerar a conjuntura política atual do país e a carga de informações que recebem. O partido conservador Rússia Unida, de Putin, tem 336 dos 450 deputados da Duma, a câmara baixa do legislativo. O Partido Comunista, segunda força política do país e que traz heranças da extinta União Soviética, soma apenas 43 parlamentares.

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Aprovação de Putin cresceu nas últimas semanas.

Nacionalista, o Rússia Unida de Putin defende o retorno do país como superpotência, um papel preponderante do Estado na economia e a manutenção dos valores tradicionais. Em suas raízes ainda está vivo um pouco do sonho do grande império russo. Ao mesmo tempo que se opõe ao marxismo, também não respalda as teses do Partido Liberal Democrata.

Para simpatizantes de Putin, a elite política e econômica do Ocidente busca a derrota da Rússia para promover a dissolução do imenso território do país. Muitos formadores de opinião na Rússia acusam os meios de comunicação ocidentais de manipularem a opinião pública para criar medo e ódio e disseminar a russofobia.

Outro colunista do pravda.ru, Timothy Bancroft-Hinchey, jornalista nascido no Reino Unido, também expressa um pouco dessa visão russa do Ocidente. Em um de seus últimos textos, intitulado “O projeto de pensamento global versus a verdade” (em tradução livre), Bancroft-Hinchey faz a narrativa da existência de um plano para “ditar os valores globais da Humanidade”. E nesse projeto entrariam os grandes conglomerados de mídia ocidentais, especialmente as plataformas de mídia sociais.

A tese de um plano de dominação do pensamento global tornou-se ainda mais forte entre russos após a decisão do Conselho Europeu, no dia 2 de março, de proibir todas as atividades dos canais russos Russian Today (RT) e Sputnik News. A medida vale para toda a União Europeia, que acusa os dois veículos russos de espalharem desinformação. A Sputnik é uma agência de notícias ligada ao governo russo com publicações em vários idiomas, inclusive português. A RT é um canal internacional de televisão, também com transmissões em diversas línguas.

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Cerca de 100 mil pessoas lotaram o estádio Luzhniki, em Moscou, para apoiar Putin.| Reprodução/Youtube

Outras decisões que fizeram crescer a narrativa russa de que o Ocidente tem um plano para estabelecer o pensamento único foram tomadas recentemente por companhias globais de tecnologia, como o Google, e plataformas digitais, como o Youtube. O Google, da Alphabet, bloqueou de sua Play Store aplicativos relacionados à RT e à Sputnik.

O YouTube derrubou o canal Sputnik Brasil no dia 11 de março e bloqueou, em todo o mundo, os canais de mídias financiadas pelo Estado russo. Logo após o bloqueio, a Sputinik pediu em seu site para os visitantes se inscreverem no canal da empresa no Telegram. E informou que os vídeos podem ser acessados pela plataforma Odysee.

Leonid Savin, analista e cientista político russo, em entrevista ao pravda.ru bate na tecla da tese difundida em todo o território russo: a ação militar na Ucrânia foi feita por causa do aumento da ameaça existencial à própria Rússia.

“O Ocidente quer nos estrangular. Eles literalmente querem que morramos. Se sobrevivermos, eles verão o que podem fazer, mas agora querem que morramos. Isso é muito típico do Ocidente”, diz trecho de um texto de Bancroft-Hinchey, intitulado “A mídia tem o direito de informar”, publicado no pravda.ru em 23 de março e que traduz um pouco do sentimento dos russos apoiadores de Putin.

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