• Carregando...
Trump - plebiscito
| Foto: Divulgação/Campanha de Trump/Facebook

Desde a saída de Franklin Roosevelt – o único presidente da história dos Estados Unidos a cumprir três mandatos –, em 1945, a maioria dos presidentes norte-americanos passou no teste da reeleição. A busca por um segundo mandato necessariamente coloca ao eleitor a possibilidade de avaliação do que o presidente fez nos quatro primeiros anos. Mas, em poucas eleições anteriores, a disputa ganhou caráter plebiscitário tão forte como agora em 2020, quando a avaliação de Donald Trump tornou-se mais relevante que a candidatura do adversário Joe Biden.

Gerald Ford, Jimmy Carter e George H. W. Bush (Bush pai) foram os únicos que perderam a disputa para um segundo mandato. Todos os outros foram vitoriosos na corrida pela reeleição: Harry Truman, Dwight Eisenhower, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Ronald Reagan, Bill Clinton, George w. Bush (Bush filho) e Barack Obama. Houve o caso do assassinato de John Kennedy, mas seu vice, Lyndon Johnson, assumiu a Presidência e conseguiu se reeleger. Há que se registrar ainda o caso de Nixon, que ganhou duas eleições, em 1968 e 1972, mas renunciou no início do segundo mandato em meio ao escândalo conhecido como Watergate.

Para grande parte dos analistas americanos, o que está movendo muitos eleitores neste ano é o “sim” ou “não” a Donald Trump. Até o próprio adversário de Trump, o democrata Joe Biden, deu declarações de que espera conquistar muitos votos daqueles que estão indo às urnas com o intuído de tirar o republicano do poder. Por outro lado, não são poucos os que têm na figura pessoal e polêmica de Trump sua principal razão para votar em favor de sua permanência.

Trump versus Biden;Obama reforça campanha
Obama entrou na campanha para ajudar Biden a conquistar os insatisfeitos com Trump.| Divulgação/Campanha de Biden/Facebook

Levantamento do Pew Research – um centro de pesquisas não partidário – mostra as principais questões que os americanos estão levando em consideração ao votar. Quase oito em cada dez eleitores registrados (74%) disseram que a economia será muito importante para eles na tomada de decisão sobre em quem votar. Em segundo lugar vem os cuidados com a saúde: para 65% dos eleitores, a proposta para resolver os problemas de saúde será um fator muito importante em sua decisão.

Além da economia, os americanos estão muito preocupados com a composição da Suprema Corte (63%) e com a pandemia de coronavírus (55%), segundo o Pew Research. E há ainda a imigração e a desigualdade racial e étnica (52%).

De todos esses pontos, Trump vinha se saindo bem no principal deles, segundo a avaliação dos americanos: a economia. Mas a pandemia jogou o país na recessão, o desemprego explodiu e seu principal pilar de campanha sofreu sérios abalos.

Mesmo com a crise, é na economia que Trump ainda aposta para tentar vencer o ‘plebiscito’ sobre seus quatro anos na Casa Branca. O Instituto Gallup fez aos eleitores uma pergunta que se repete desde a campanha presidencial de 1980 – quando Reagan perguntou aos americanos: "Você está melhor hoje do que há quatro anos?". O resultado agora em 2020 foi favorável a Trump, já que 56% disseram que a situação está melhor que quatro anos atrás, enquanto 32% afirmaram que está pior.

Esse ponto favorável a Trump, entretanto, não ofusca a insatisfação dos eleitores com a condução que ele vem dando ao país, especialmente aos temas de saúde, violência e relações internacionais. O mesmo Gallup levantou que apenas 28% dos americanos disseram em outubro estar satisfeitos com os rumos do país.

Em editorial do último dia 31 de outubro, o Wall Street Journal – jornal que apoia abertamente a reeleição – diz que o caso para Donald Trump é a ruptura política. “A Presidência Trump certamente entregou isso, para o bem e para o mal. Suas políticas e quebras das convenções realizaram muito do que era necessário. Mas sua governança divisora e falhas pessoais o colocaram em risco de perder para um democrata cujo tema de campanha é essencialmente que ele não é Donald Trump”, publicou o periódico simpatizante de Trump.

Ao citar que o republicano nunca teve um índice de aprovação superior a 50% em quatro anos, o Wall Street Journal avalia que “a maioria das pessoas gosta dos resultados da política econômica do Sr. Trump, mas não gosta da maneira como ele conduziu sua Presidência”.

New York Times – que declarou apoio ao candidato democrata –, também em editorial, publicou que os EUA são hoje um país “mais fraco, com mais raiva, menos esperançoso e mais dividido do que há 4 anos”. Para o jornal mais importante do país, Biden é o candidato capaz de restaurar a “confiança do público nas instituições democráticas”.

Muita coisa que funcionou a favor de Trump há quatro anos, agora está jogando contra ele diante da crise do coronavírus – o novo na política, o candidato que diz o que pensa, que odeia o Estado e que cada um deve procurar ‘se virar’ são alguns exemplos. Também entra nessa balança a brutalidade policial discriminatória para com os afro-americanos e o fortalecimento do racismo sistêmico.

Mas o jogo está sendo jogado até o último instante. Os aliados de Trump demonstram estar mais animados do que eleitores de Biden. Nos últimos dias, a campanha do presidente tem buscado incursões entre as minorias e ele declara repetidamente quantos afro-americanos tirou da prisão. Outra aposta é a possibilidade do voto ‘envergonhado’, que representaria uma grande massa de americanos que planejam votar nele, mas não admite publicamente. Para esses, Trump fez um bom trabalho e a economia está se recuperando.

Todos esses ingredientes evidenciam que esta eleição tornou-se, mais do que muitas disputas anteriores, um plebiscito sobre o presidente. Se Biden vencer, como aponta a maioria das pesquisas, a derrota de Trump representará um feito maior que a vitória do democrata. Mesmo que o triunfo possa ser de Biden, o foco será a queda de Trump.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]