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O guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado na festa de aniversário dos seus 50 anos, e o médico Giovanni Quintella Bezerra, preso por estuprar gestante durante o parto: o retrato da violência política e social no Brasil.
O guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado na festa de aniversário dos seus 50 anos, e o médico Giovanni Quintella Bezerra, preso por estuprar gestante durante o parto: o retrato da violência política e social no Brasil.| Foto: Reprodução/Facebook

Os milhares de casos de violência política e social e de discriminação, além do aumento das desigualdades sociais e econômicas, registrados recentemente no Brasil mostram que o país regrediu rapidamente no seu processo civilizatório. Os exemplos são muitos e estão presentes nos mais diversos setores da vida da nação, mas alguns episódios recentes de grande repercussão - como os assassinatos do guarda municipal Marcelo Arruda, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips e do estupro de uma gestante durante o parto - deixam claro que a barbárie está avançando.

A violência social e política no Brasil se propaga impulsionada por uma parcela da população que segue princípios antidemocráticos e pela ação de líderes políticos. Os agressores pregam abertamente a solução de conflitos por meios violentos e têm a arma como símbolo de idolatria. Os resultados dessa ofensiva da intolerância estão em vários estudos.

Violência política e social
O jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, assassinados no Amazonas. | Reprodução/Facebook

Levantamento do Observatório da Violência Política e Eleitoral, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), mostra que os casos de violência política registrados no Brasil em 2022 cresceram 23% em relação ao mesmo período de 2020, ano em que foram realizadas eleições municipais. Foram contabilizados 174 episódios de janeiro a junho de 2020 contra 214 no mesmo período de 2022.

Quando os dados são comparados com os do ano passado, verifica uma explosão de violência política. De acordo com o Observatório da Unirio, o país registrou 113 casos de violência contra lideranças políticas entre janeiro e março deste ano, um aumento de 48,7% em relação ao trimestre anterior.

A violência política no segundo trimestre de 2022, de acordo com o levantamento do Observatório, atingiu integrantes de 22 partidos, de diferentes posicionamentos políticos (direita ou esquerda). “O PSD liderou o ranking com 12 casos (11,9%), seguido por PL, com 10 casos (9,9), PSDB e Republicanos com nove casos cada (8,9% cada), PT com sete (6,9%), e PSOL com seis (5,9%). Não foi possível identificar a filiação partidária de oito vítimas”, diz o relatório.

Os casos de estupros, mesmo subnotificados – grande parte da violência contra mulheres, crianças e adolescentes não é registrada –, também explodiram. A Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) registrou um total de 7.447 denúncias de estupro no Brasil nos cinco primeiros meses de 2022. Das vítimas, 5.881 são crianças ou adolescentes. Comparados aos 6.279 registros de estupro do mesmo período de 2021, o aumento supera 19%.

Alguns dados registrados em redes sociais ultimamente servem para comprovar que a sociedade brasileira está doente. Um exemplo? O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, filmado estuprando uma gestante durante a cesariana realizada no Hospital da Mulher de São João de Meriti, Rio de Janeiro, contava com apenas 365 seguidores em seu perfil no Instagram antes do episódio. Logo após a divulgação do caso, chegou à 11 mil seguidores em poucas horas.

Também gravíssima é a posição de autoridades, como o vice-presidente da República, Hamilton Murão, que classificou o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda pelo agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu, como briga de "gente que provavelmente bebe e aí extravasa as coisas". Os fatos mostram até o momento, pelas imagens coletadas, que o episódio se trata de um atentado. O que ocorreu foi a invasão de uma festa de aniversário para atacar pessoas com posições políticas com as quais o agressor não concorda.

As instituições e entidades da sociedade civil, o Poder Judiciário, o Ministério Público e a população como um todo precisam reagir para conter o retrocesso. É preciso enfrentar os bárbaros da atualidade e trabalhar para formar as gerações futuras. Só assim o país escapará das trevas e criará as condições para um mundo melhor, livre da violência, da discriminação, da desigualdade de direitos sociais.

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