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Diário de bordo: como produzir um curta-metragem na marra (parte 4)
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Depois de alguns dias longe daqui, voltamos no blog ao nosso “diário de bordo” da produção do curta-metragem O Vulto. Os últimos dias, de quinta-feira a domingo, foram intensos, mas já posso trazer uma boa notícia: o curta foi filmado, editado e já está finalizado. Ao menos a ideia não morreu na praia. Agora, se o filme ficou bom, já é outra história.

O LANÇAMENTO SERÁ AQUI MESMO NO BLOG, NESTA QUARTA-FEIRA (7), ÀS 9H. 

Antes disso, publicarei mais dois posts detalhando como se deu o processo de filmagem e edição e os vários percalços envolvidos no meio do caminho — lembrando que, desde o início, a proposta era fazer um curta amador, sem a utilização de equipamentos profissionais, atores ou técnicos capacitados, justamente para que a experiência sirva de motivação ou referência para outros colegas que querem “brincar” de fazer cinema.

Se você quer se inteirar do que rolou até então, basta dar uma olhada nos posts anteriores, onde falamos sobre roteiro, concepção visual e design de produção.

4. FILMAGEM

20140502_004509Chegamos enfim ao momento de colocar a mão na massa, apertar o botão da câmera e deixar a cena rolar… ou quase isso. Afinal, a câmera que tínhamos à disposição, uma Nikon D300, não filmava, apenas fotograva. A nossa alternativa era fazer várias fotos em um curto período de tempo (cerca de 9 por segundo) para depois, na hora da edição, reproduzi-las em velocidade acelerada para criar a ilusão de movimento. O porém envolvido nesse processo é que o ator em cena precisa se movimentar em câmera lenta, justamente para que esse conjunto de fotos consiga reproduzir esses movimentos de maneira fluída, sem que em um segundo o braço dele esteja no alto e no próximo segundo esse braço, milagrosamente, surja ao lado do corpo.

Isso fez com que o processo de filmagem, logicamente, fosse muito mais demorado e minucioso do que o normal. Na quinta-feira de feriado, trabalhamos durante seis horas e, no sábado, por mais três horas e meia. Tudo para reproduzir 13 cenas que estavam no roteiro. Nesse processo, o Ronan Turnes, nosso diretor de fotografia e responsável por operar a câmera, tirou exatamente 4.465 fotos — incluindo aí várias, claro, que não chegaram a ser incluídas no curta finalizado. Essa imensidão de imagens se transformou em um curta de 3 min e 34 seg.

dollyDois equipamentos se mostraram essenciais para as filmagens. Um tripé (item de sobrevivência pra qualquer fotógrafo que se preze) e uma dolly improvisada. Dolly é um mecanismo utilizado para filmar principalmente travellings, movimento em que a câmera se desloca em direção a um objeto ou personagem, seja indo em direção a ele ou o acompanhando em uma corrida, carro ou caminhada, por exemplo. Neste caso, a câmera é fixa em um equipamento com rodas ou trilhos, justamente para que ela não fique tremendo ao se movimentar. No nosso caso, utilizamos um skate longboard e uma prateleira de armário, com o tripé posicionado em cima desta prateleira. O resultado você vê na foto ao lado. A dificuldade era justamente conseguir movimentar a nossa dolly sem que a câmera tremesse muito ou se dirigisse rápido demais ao “alvo”.

portãoAqui, vale reforçar a disposição e paciência do nosso único ator em cena, Matheus Dutra. O Matheus foi o voluntário para viver nosso único personagem do curta-metragem, que nem sequer tem nome na trama. Ele não é ator profissional — na verdade, acho que é a primeira vez que participa de um filme. Assim como eu, o Matheus é jornalista e está cursando a pós-graduação em Cinema pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP). O desafio do Matheus foi fazer em câmera lenta expressões e movimentos rotineiros, sem que, depois da edição, tudo ficasse caricato ou estranho demais. E pode-se dizer que ele foi bem sucedido.

Voltando um pouco, vale destacar também dois procedimentos que ajudaram — e muito — na hora das filmagens. Primeiro, economizamos tempo pensando antecipadamente quais enquadramentos e movimentos de câmera poderíamos usar em cada cena, com base no que estava escrito no roteiro. Abaixo, por exemplo, seguem as anotações (em letras maiúsculas em vermelho) que o Ronan fez na descrição que eu havia escrito da primeira cena.

1.INT. QUARTO. NOITE

Escuridão total. De repente, ouvimos o som de uma campainha estridente – O TÍTULO APARECE AO SOM DA CAMPAINHA -, ainda em um volume baixo. A campainha toca pela segunda vez, – A IMAGEM ABRE COM A CÂMERA NO TETO, MOSTRANDO O RAPAZ DEITADO NA CAMA – agora mais alta. A câmera mostra o rosto do RAPAZ deitado na cama. Ao fundo, temos uma noção do quarto bagunçado, a porta aberta. Ele abre os olhos, confuso. Procura o celular ao lado da cama. – O ÂNGULO AGORA É UM MEIO CLOSE COM A CÂMERA AO LADO DA CAMA – Ele pega o aparelho, o liga e a luz ilumina seu rosto. Ele devolve o celular a mesa de cabeceira – CLOSE NA TELA DO CELULAR – O celular marca 3 e meia da manhã.

O Rapaz se levanta, está de camiseta branca e de bermuda, com o cabelo despenteado. Ele vai em direção à porta do quarto.

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20140502_122615Esse tipo de anotação é essencial para agilizar as filmagens. Perderíamos realmente muito tempo se, apenas na hora de começar a filmar, pensássemos em como enquadrar. Aí, haja tempo e paciência pro ator. Claro que em vários momentos revimos o que havíamos previsto inicialmente e fizemos tentativas diferentes, mas ao menos já tínhamos de onde partir. Outro procedimento super simples mas essencial foi a utilização de uma claquete para identificar os takes — mais uma vez, de forma improvisada, com anotações a caneta em um caderno (veja a foto ao lado). Antes de cada cena, por menor que fosse, fotografávamos o caderno com o número da cena e do take. Aí, no momento em que o Ronan jogasse as fotos pro computador, saberia separar o início e o fim dos takes.

20140502_122644Neste mesmo caderno, fazíamos anotações detalhando o que aconteceu em cada take: se a cena foi filmada sem problemas, se houve uma falha no meio, se rolou algum problema de iluminação, etc (como na foto ao lado). Aí, na hora de editar, já teríamos uma noção de qual take utilizar, sem que precisássemos rever todas as imagens no computador. Esse trabalho mais “burocrático” de anotar tudo o que estava rolando e identificar as cenas ficou a cargo das amigas Talita David e Claudia Vicentin, também colegas da pós-graduação que deram vários pitacos e ajudaram a organizar a produção. Ao fim, a nossa equipe foi formada por estas cinco pessoas.

O resultado final deste trabalho em equipe vocês conferem, então, na quarta-feira. Antes disso, nesta terça, publicarei um último post falando sobre aquela que é talvez a etapa mais tensa na hora de produzir um filme, seja longa ou curta-metragem: a edição, tanto de vídeo quanto de som.

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