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O instigante exercício de ver, rever… e se surpreender
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Costumo comentar aqui no blog que tal filme merece ser “visto e revisto”. Em parte, porque meu repertório de elogios é limitado — não sou crítico de cinema, já disse –, mas também porque considero esse um parâmetro interessante para medir a longevidade de certas obras. Há certos filmes que você assiste uma vez somente e pronto. Não há mais o que fazer na frente da telinha. Já outros urgem por uma segunda olhadela, seja para desvendar questões que ficaram nebulosas, voltar a encarar aquele diálogo ou sequência que é tão genial ou simplesmente ter novas sensações diante das mesmas cenas que você já viu antes.

E é justamente esse último exercício que acho tão interessante e que mostra como assistir a um filme pode ser uma prática intensamente passional. Um bom roteiro, uma boa direção, ótimas atuações, uma fotografia de tirar o fôlego ajudam, e muito, a termos uma boa experiência cinematográfica. Mas não adianta. Nosso humor, disposição e bagagem emocional sempre farão muita diferença.  Em muitos casos, temos que “estar no clima” para digerir tal filme. Em tantos outros, é justamente a nossa necessidade de arejar a cabeça e esquecer frustrações recentes que tornarão aquela comédia ou romance açucarado tão brilhantes. Afinal, o espectador de cinema não é um robô. Longe disso.

Spartacus: épico de Kubrick surpreende aqueles que conseguem chegar ao final das mais de três horas de filme.

Spartacus: épico de Kubrick surpreende aqueles que conseguem chegar ao final das mais de três horas de filme. (Foto: Divulgação)

Um caso do tipo aconteceu recentemente comigo. Um tempo atrás, ano passado, se não me engano, comecei a assistir o clássico Spartacus (1960), dirigido por Stanley Kubrick e protagonizado por Kirk Douglas. Não cheguei ao fim das quase três horas e meia do filme. Abandonei-o pela metade. Desliguei o DVD decepcionado. “Que filme chato”, “que atuação canastrona do Douglas”, “que diálogos forçados“, era o que pensava na hora. Mês passado, resolvi dar uma “segunda chance” a Spartacus. Dessa vez, cheguei ao fim extasiado. Os diálogos, que antes eu achara forçados, assumiram uma nova dimensão, repletos de poesia e significado. O desfecho dramático do filme “me pegou” de jeito. E, ao fim, as três horas e pouco passaram como se fossem nada.

Claro que, neste caso, a mudança brusca de opinião tem a ver também com o fato de eu ter assistido ao filme por inteiro (abandonar uma projeção pela metade deveria ser uma heresia, como já comentei aqui no blog). Outro exemplo, então. Quando vi pela primeira vez Clube da Luta (Fight Club, 1999), lá pelos meus 15, 16 anos, me limitei a pensar “que filme pirado” era aquele. E só. Anos depois, já “adulto”, comprei o DVD e assisti novamente. Até hoje, Clube da Luta aparece como um dos meus 10 filmes preferidos, os quais vejo com frequência, justamente por me fornecer uma sensação curiosa: a cada sessão, pareço gostar ainda mais do filme. Pode isso, Arnaldo?

E os exemplos se seguem. O exercício de ver e rever parece, inclusive, estar na raiz do ato de colecionar filmes (que também já foi tema de post aqui no blog). Posso estar enganado, mas ninguém, em sã consciência, adquire um DVD ou Blu-Ray se não for para assistir mais de uma vez depois. Entre os filmes da minha modesta coleção que assisto pelo menos uma vez ao ano estão Taxi Driver (1976), Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000) e Apocalypse Now (1979).

Jimmy Bolha: comédia nonsense que pode causar risadas... ou frustração pela perda de tempo na frente da TV.

Jimmy Bolha: comédia nonsense que pode causar risadas… ou frustração pela perda de tempo na frente da TV. (Foto: Divulgação)

Uma última ressalva. Como podemos nos surpreender com certos filmes assistindo-os uma segunda ou terceira vez, também pode ocorrer o contrário. A primeira vez que vi a comédia nonsense Jimmy Bolha (Bubble Boy, 2001), protagonizada por um então pouco conhecido Jake Gyllenhaal, me diverti como há tempos não ocorria. Eu e meu primo rimos alto e saímos dali chamando o filme de “genial” (não, não estávamos sob o efeito de substâncias ilícitas). Tanto que, uns três anos depois, marcamos uma nova sessão para relembrar as aventuras do garoto que vive dentro de uma bolha. Aí, surgiu uma risadinha só aqui e ali e senti um certo constrangimento no ar: afinal, o que tinha nos divertido tanto antes? Talvez não estivéssemos “no clima” neste segundo momento. Ou talvez Jimmy Bolha não seja o filme genial que pensamos no início. Quem já assistiu, que me ajude a tirar esta dúvida, por favor.

A quais filmes você assistiu pela segunda vez e se surpreendeu, seja de forma positiva ou negativa? E qual obra você costuma ver com frequência? Deixe seu comentário aqui no blog!

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