Beto Richa é tucano até o último fio de cabelo. Raramente entra em divididas, gosta de um muro. Nacionalmente, porém, ele já tomou partido sobre uma questão crucial e polêmica para o futuro da oposição – a fusão entre PSDB, DEM e PPS.
Durante viagem a Brasília na última quarta-feira, o governador conversou por mais de uma hora com o senador Aécio Neves. Principal articulador da fusão, o mineiro parece ter entrado em sintonia com o paranaense. Após a conversa, Beto foi uma das raras lideranças que não evitou o tema.
Perguntado se aceitaria negociar a mudança pessoalmente, como presidente estadual do PSDB, ele respondeu: “estou disposto e posso me citar como exemplo. No nosso estado, temos uma ótima convivência com DEM e PPS.”
A declaração é ousada. Afinal, dois dias antes, os presidentes dos outros dois “sócios” no Paraná afirmaram que a fusão seria uma roubada. Abelardo Lupion (DEM) jogou a hipótese sobre qualquer conversa para depois de 2014, enquanto Rubens Bueno (PPS) disse que sua legenda já passa por uma reestruturação e que, por isso, qualquer outro movimento “não faz sentido”.
É fato, contudo, que Beto transformou-se na principal liderança política do estado após a eleição de 2010. A princípio, essa força seria suficiente para convencer os aliados locais – e mesmo os não tão aliados assim, como Lupion – sobre a fusão. Vale o esforço?
Mais do que no resto do país, o novo partido seria um divisor de águas na política paranaense. Pela legislação eleitoral, a fusão abre uma brecha nas normas da fidelidade partidária estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal em 2007. Membros de legendas alheias às fundidas poderiam migrar para a nova sigla – e vice-versa.
Enquanto na maioria do Brasil essa janela deve facilitar a vida de quem quer virar a casaca e aderir ao governo Dilma Rousseff, no Paraná a situação segue o caminho contrário. Está aí a oportunidade de uma ruptura histórica. Nasce a chance de Beto montar seu time definitivo contra a “rapa”.
É indiscutível que o governador navega hoje em busca dos espaços políticos deixados pelos antecessores, Alvaro Dias, Jaime Lerner e Roberto Requião. A tarefa não é das mais difíceis, até por uma questão geracional. Beto é bem mais novo que todos eles e carrega o charme da renovação.
Em paralelo à história da fusão, porém, ainda falta uma tacada para assumir o posto de cara certo na hora certa. É preciso definir como fica a questão da sucessão em Curitiba. E aí Beto volta para cima do muro.
Questionado sobre quem vai apoiar – Luciano Ducci (PSB) ou Gustavo Fruet (PSDB) – ele repete que ainda há tempo para pensar sobre o assunto. “Meu esforço está concentrado na união de todo esse grupo político (que o elegeu para prefeito e governador)”, disse em Brasília. Ainda sim, Beto traiu levemente o instinto tucano ao falar sobre o desfecho do imbróglio.
Mesmo sem ser questionado sobre uma possível intervenção do PSDB nacional a favor de Fruet, disse que a hipótese está “descartada”. E sobre os impactos do que vem pela frente deu um alerta aos envolvidos: “qualquer decisão entre A ou B terá prejuízos. Sobre isso não tem dúvida nenhuma, todo mundo compreende.”
Para bom entendedor, meio tucanês basta.
***
Siga o Conexão Brasília no Twitter!
-
Censura clandestina praticada pelo TSE, se confirmada, é motivo para impeachment
-
“Ações censórias e abusivas da Suprema Corte devem chegar ao conhecimento da sociedade”, defendem especialistas
-
Elon Musk diz que Alexandre de Moraes interferiu nas eleições; acompanhe o Sem Rodeios
-
“Para Lula, indígena só serve se estiver segregado e isolado”, dispara deputada Silvia Waiãpi
Ampliação de energia é o maior atrativo da privatização da Emae, avalia governo Tarcísio
Ex-desembargador afirma que Brasil pode “se transformar num narcoestado”
Contra “sentença” de precariedade, estados do Sul buscam protagonismo em negociação sobre ferrovia
Câmara de São Paulo aprova privatização da Sabesp com apoio da base aliada de Nunes
Deixe sua opinião