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Há quem tente minimizar o grau das denúncias sobre os descalabros na Câmara de Vereadores de Curitiba apresentadas pela série Negócio Fechado produzida pela Gazeta do Povo e RPC TV. Dizem que os valores envolvidos são ínfimos, “dinheiro de pinga”. Enorme engano: trata-se de um escândalo de proporções bem maiores que a do mensalão do governo Lula.

De acordo com o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios (CPMI), de 2005, os empréstimos feitos pelos bancos Rural e BMG ao grupo do publicitário Marcos Valério e ao PT (os mesmos que encobriram o caixa dois do mensalão) foram de R$ 55 milhões. Em julho do ano passado, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fez uma reestimativa e subiu a quantia para pouco mais de R$ 75 milhões.

Em Curitiba, os valores dos contratos de publicidade da Câmara sob suspeita são de R$ 34 milhões. Por três meses, os jornalistas James Alberti, Gabriel Tabatcheik, Karlos Kohlbach e Katia Brembatti conseguiram montar uma base de dados com mais de 10 mil páginas sobre o tema e conseguiram rastrear quase 10% dos repasses.

Proporcionalmente, o mensalão (com o valor reajustado por Gurgel) envolveu uma média de R$ 0,39 por cada um dos 190.732.694 brasileiros. Na capital paranaense, os R$ 34 milhões em propaganda diluem-se em R$ 19,46 por cada um dos 1.746.896 curitibanos (os dados populacionais são do Censo de 2010).

Em uma hipótese reduzida, levando-se em consideração apenas os 10% analisados na série de reportagens (ou seja, R$ 3,4 milhões), a proporção fica em R$ 1,95 por curitibano. Agora as contas são simples: no mínimo, o caso dos vereadores curitibanos é cinco vezes maior que o mensalão do governo Lula. No máximo, 50 vezes maior.

Há outras comparações que precisam ser feitas. Ambas as situações tratam de recursos para publicidade. Talvez porque seja um gasto de natureza vaga, que pode ser usado, por exemplo, em repasses para a bancada dos radialistas da Câmara.

Além disso, há o princípio de que o mensalão envolve a troca de dinheiro por apoio político em votações importantes para o governo. No caso nacional, a CPMI dos Correios ligou as conexões do Valerioduto entre parlamentares e o dinheiro público de estatais vinculadas ao Poder Executivo. Em Curitiba, o dinheiro é do orçamento próprio do Legislativo municipal, mas há uma convergência de apoio político para quem comandava a destinação das verbas, o então presidente da Câmara, João Cláudio Derosso (PSDB).

Claro que esse poder também se refletia no “diálogo” com os últimos prefeitos, que sempre mantiveram uma relação mais do que amistosa com Derosso e, por consequência, com o restante dos vereadores. Nos escândalos da capital federal e na paranaense, dinheiro e influência política andaram de mãos dadas.

A principal diferença entre os dois episódios é que em Curitiba a placidez dos vereadores com as denúncias é assustadora. Na verdade, o esquema local parece tão bem montado que não há descontentes, nem brechas para o aparecimento de um Roberto Jefferson que coloque o dedo na ferida.

A Câmara Municipal se vale da lei do silêncio italiana, a omertà. Assim, ao contrário do que aconteceu no mensalão de 2005, fica difícil separar o joio do trigo. Por enquanto, não dá para não avaliar que são todos farinha do mesmo saco.

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