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Os nobres parlamentares e os bobos da corte
| Foto:
Rosevelt Pinheiro/ABr
Edmar Moreira, símbolo da nobreza parlamentar.

Publicado na coluna Conexão Brasília de hoje:

O comunismo já era, o capitalismo está em xeque e os Estados Unidos elegeram um presidente negro. Sim, estamos em 2009, o mundo gira com a devida pressa. Menos no Congresso Nacional.

Na semana passada, a revista britânica Economist classificou a eleição de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado como “uma vitória para o semifeudalismo”. Meio que sem querer, acertou em cheio. Muitos dos congressistas brasileiros fazem esforço para viver como há 500 anos.

Em menos de uma semana de trabalho neste ano eles comprovaram que ser um nobre parlamentar não é apenas metáfora – vide o castelo do recém-eleito corregedor da Câmara dos Deputados, Edmar Moreira (DEM-MG).

Mas nobreza, nesse caso, não significa apenas ter um castelo. Significa fazer parte de um grupo de sangue azul que se protege entre si – e que não se mistura em qualquer hipótese com a plebe. Moreira, eleito para o posto que implica na investigação de denúncias contra os colegas, disse que a Câmara não deveria fazer julgamentos internos.

Segundo ele, qualquer juízo de valor é atrapalhado pelos laços de amizade entre os parlamentares. Quer demonstração maior de nobreza? Moreira foi eleito corregedor com os votos de 283 companheiros, ou seja, de barões e duques que pensam como ele.

Boa parte desses camaradas agora quer uma saída honrosa para o mineiro. Ele deixaria de ser corregedor, mas continuaria na Mesa Diretora. Em um tom mais pesado, o DEM fala agora em expulsar Moreira.

O posicionamento repentino do antigo PFL, aliás, é a maior comprovação do semifeudalismo citado pelos britânicos. Será que os dirigentes da legenda não sabiam do castelo Monalisa? Precisava mesmo de um escândalo nacional para levá-lo à fogueira?

Moreira, na verdade, é só um grão de areia no meio de tantas relações medievais que existem no Congresso. Até os partidos de oposição deixam claro que o que importa é ser amigo do rei.

Na Câmara, DEM e PSDB uniram-se ao PT para apoiar a eleição de Michel Temer (PMDB-SP). No Senado, os tucanos aliaram-se aos petistas na derrotada candidatura de Tião Viana (PT-AC).

Até o ano passado, o DEM mascarou-se como o grande inquisidor de Lula, de denunciante das mazelas do governo. Em 2009, uniu-se aos governistas e tem um corregedor que ficou conhecido como “absolvente-geral” dos mensaleiros, em 2005.

O PSDB cavou um poço ainda mais fundo. Mártir da causa contra o terceiro mandato de Lula, a legenda modificou uma norma interna que vedava a reeleição adotada para reeleger José Aníbal como líder do partido na Câmara.

Para os leigos comuns, atitudes como essas são inexplicáveis e decepcionantes. Para os parlamentares, mais um gesto de nobreza.

Fica cada vez mais difícil que os plebeus entendam o que se passa nos castelos da política. Lá dentro, resta a eles apenas um papel. O de bobos da corte.

PS: Edmar Moreira acaba de renunciar ao cargo.

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