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Inspirado na baixaria entre o ministro Carlos Minc e o governador machão André Puccineli, aí vai uma entrevista do fundo do baú do Conexão Brasília. O presidente da Associação Brasileira GLBT, Toni Reis, retratou bem os laços entre política e homossexualidade, em post publicado em junho de 2008. Confira o pingue-pongue abaixo, que continua bem atual:

O perfil geral do político brasileiro continua sendo o do machão homofóbico?
Não, embora ainda haja algumas espécies! Hoje é politicamente incorreto ser machista. O que há são alguns religiosos fundamentalistas que se utilizam da bíblia para discriminar a comunidade LGBT.

Aliás, você não acha que há homossexuais na política que deveriam sair do armário?
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Assumir a homossexualidade ainda é um grande problema para muita gente, e pode comprometer a reeleição. Seria interessante que os(as) políticos(as) fossem felizes sexualmente, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero. Um(a) político(a) que esteja bem com sua sexualidade não vai se importar com a sexualidade do outro, vai respeitar.

Você já foi candidato pelo PT e não se elegeu. Gay não vota em gay?
Fui candidato em 1996, como parte de uma estratégia do Movimento LGBT nacional, de termos também visibilidade na política. Tive muitos votos de gays, sim, mas não o suficiente. O voto não se define somente pela orientação sexual ou identidade de gênero. No Paraná, por exemplo, 53% da população são mulheres, mas não temos nenhuma deputada federal.

Esse panorama é pior ou melhor no Paraná?
O Paraná, em termos do respeito à orientação sexual e identidade de gênero, está entre os melhores. Quatorze dos 226 integrantes da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT no Congresso Nacional são paranaenses. O estado mais complicado é o Tocantins, que não tem nenhum parlamentar na Frente. Na bancada federal paranaense temos apenas dois deputados que são homofóbicos, mas prefiro não declarar quem são!

Se fosse para criar um índice de homofobia por estados, os políticos paranaenses estariam em qual lugar?
O Paraná é o único estado da Região Sul que não tem uma lei que proíbe a discriminação por orientação sexual. 14 estados já têm essa lei. O estado mais participativo da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT é a Bahia, seguida do Rio Grande do Sul. O Paraná ficaria na média.

Depois da participação na Conferência Nacional LGBT, Lula pode virar um ícone pop da homossexualidade?
Como o próprio Lula falou na abertura da Conferência, ele sofreu e ainda sofre o preconceito por uma série de questões: por ser nordestino, não ter curso superior… O PT sempre foi um partido LGBT “friendly”. Nunca antes neste planeta houve uma conferência LGBT convocada por um presidente, e Lula já entrou para a história por isso. Sé é ícone, não sei, mas que é aliadíssimo, é.

Quem você apontaria como político símbolo, não que o sujeito seja gay, para a homossexualidade?
Hoje, depois da própria Conferência e depois dos discursos antológicos, tanto no 2º Congresso da ABGLT em Maceió em 2006, e novamente na abertura da Conferência, essa pessoa é o ministro Paulo Vannuchi. Há outros, como José Genoíno, que lutou em 1988 para tentar incluir na Constituição Federal a proibição da discriminação por orientação sexual, Fernando Gabeira, Marta Suplicy, Cida Diogo e agora a senadora Fátima Cleide, que tem enfrentado os dogmáticos fundamentalistas e radicais religiosos de forma contundente.

Por que o projeto da Marta Suplicy que permite o casamento gay não anda no Congresso?
Primeiro, não é casamento. A gente não quer embarcar numa canoa furada! Pesquisas recentes dizem que está havendo mais divórcios que casamentos. Não queremos casamento gay, queremos união civil, com os direitos garantidos. O projeto da Marta hoje está desatualizado. Estamos elaborando um substitutivo de acordo com nossas demandas.

O que você tem a dizer sobre a pressão de setores religiosos contra o projeto de lei que criminaliza a homofobia?

Acho de uma infantilidade tremenda. Hoje há 112 cidades e 14 estados que têm leis que criminalizam a discriminação homofóbica. Mesmo tendo as leis, até agora ninguém usou delas para prender um pastor por falar que a homossexualidade é pecado. Está havendo muita distorção sobre o propósito do projeto de lei. Os parlamentares evangélicos fundamentalistas poderiam se ocupar com outros assuntos mais importantes do que ficar se incomodando com a sexualidade dos outros. Aliás, se for seguir o raciocínio deles, e levar a bíblia ao pé da letra, poderiam fazer um projeto de lei proibindo as mulheres de falarem em público, ou proibindo os homens de rasparem a barba!

Você já teve em alguma situação engraçada no Congresso?

Sim, em 1996, eu e o David (companheiro inglês de Toni há quase duas décadas) fomos dar um depoimento na Comissão Especial sobre o projeto de lei da Marta Suplicy. Depois da nossa fala, foi aberto para perguntas. Quem foi o primeiro parlamentar a perguntar? Sua excelência o deputado Severino Cavalcante, que fulminou a seguinte pergunta: “quem é o ativo e quem é o passivo dos dois?” Eu enrolei e falei que o importante era variar. O deputado, insatisfeito, disse “não entendi, você poderia me explicar?” Respondi de forma bem humorada. “Deputado, logo após a sessão podemos sair daqui e tomar um bom vinho. Daí o senhor poderá falar das posições sexuais que faz com a esposa e eu falarei das nossas.” O plenário da Comissão deu a maior risada. Noutro dia, dois meios de comunicação tiveram a seguinte manchete: “Depoimento gay quase acaba num motel.”

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