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Palácio do Planalto é muito mais fantasmagórico do que se imagina
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À espera de uma entrevista com Gleisi Hoffmann dois dias depois de ela ter sido nomeada para a Casa Civil, em junho de 2011, o telefone de uma das salas de espera do terceiro andar do Palácio do Planalto chamava atenção. Era cheio de botões para fazer ligações diretas com os ministros. O primeiro da lista: Antonio Palocci.

A troca de Gleisi por Palocci, envolvido em suspeitas de evolução patrimonial ilícita, foi a primeira das mais de duas dezenas que ocorreram ao longo do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Como a mudança era recente, era natural que os nomes nos telefones ainda não tivessem sido arrumados. Um mês e meio depois, de volta à mesma salinha, lá continuava o nome de Palocci.

Perguntado sobre a substituição dos adesivos, um copeiro fez graça. “Olhe, se você soubesse a quantidade de fantasmas que tem por aqui…” Logo veio à mente que, se inventasse de tirar as etiquetas, talvez fosse retroagindo até chegar a Golbery do Couto e Silva, o “bruxo” dos governos militares.

Na semana passada, a revista inglesa The Economist referiu-se a Dilma como o “Fantasma do Planalto”. A premissa é simples: como o comando das medidas econômicas ficou nas mãos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a política foi dominada pela trinca peemedebista Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, coube a Dilma vagar pelo palácio. A questão é saber se a petista tem condição de reencarnar.

Como toda boa história de suspense, é bom ter em mente que é cedo demais para qualquer conclusão. Dilma não cumpriu nem 10% do atual mandato. Envolta em lambanças que se acumulam desde o governo Lula, só restou a ela recuar – garantir que o recuo será definitivo é outra história.

Difícil acreditar que a presidente suporte uma diminuição ainda maior de poder. Desde os tempos de ministra da Casa Civil, Dilma tem como marca registrada o perfil centralizador. Deve ser um veneno amargo, que a consome dia após dia (vide a brusca redução de peso), ter de entregar as decisões para outros.

Nos momentos de solidão no Planalto, com certeza Dilma se depara com pensamentos similares àquele da etiqueta dos telefones. Deve dar uma vontade enorme de ligar para o ramal de Fernando Collor e pedir dicas de como desanuviar a mente enquanto do outro lado da Praça dos Três Poderes a oposição só fala em impeachment. Ou de perguntar para João Goulart se vale fazer o discurso do 1º de maio em cadeia nacional ante o risco de mais um panelaço.

Os nomes são outros, os fantasmas permanecem. E, no caso de Dilma, o enredo vai se tornando cada vez mais macabro. Na semana passada, a Petrobras apresentou o fatídico balanço que computou perdas de R$ 6,2 bilhões com corrupção. A inflação aumenta, o crescimento inexiste e, de um modo geral, as finanças tendem a piorar antes de começar a melhorar.

Se for para apostar em um desfecho, é improvável que se consiga uma argumentação sólida para um processo de impeachment (a Constituição é clara ao demonstrar que é necessário o cometimento de um crime de responsabilidade no mandato vigente), assim como é inimaginável que o bom humor do brasileiro com a presidente melhore subitamente. O melhor para Dilma, no curto prazo, será permanecer nas sombras. Até porque a reza do PMDB para que a instabilidade continue é das mais brabas.

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