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Não é de hoje que a oposição ao governo Dilma Rousseff anda perdida. Em parte pela falta de contingente, mas mais ainda pela ausência de um discurso articulado. E se a situação já estava feia, piorou com a revelação dos “contatos” do bicheiro Carlinhos Cachoeira com parlamentares do DEM, PSDB e PPS.

As contas são simples. Juntos, os três partidos têm apenas 107 das 584 cadeiras do Congresso Nacional. Ou seja, 18% do total.

Já em relação aos seis congressistas citados na operação Monte Carlo, que prendeu Cachoeira no mês passado, a porcentagem sobe consideravelmente. 50% deles são de oposição: o senador Demóstenes Torres (que acaba de pedir desfiliação do DEM-GO) e os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ). Na metade governista, estão os deputados Jovair Arantes (PTB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Rubens Otoni (PT-GO).

Os números prejudicam o único papel que vinha sendo razoavelmente bem cumprido até agora pelos oposicionistas – o de fiscalizadores do Poder Executivo. A cada desleixo da gestão Dilma divulgado pela imprensa (e não foram poucos até agora, vide a demissão de sete ministros envolvidos em denúncias de corrupção), a turma liderada pelos tucanos sempre esteve pronta para fazer alarde. Seja gastando saliva na tribuna ou cobrando da Procuradoria-Geral da República o aprofundamento das investigações.

Agora a situação muda de figura. Demóstenes era talvez a único senador que conseguia encarnar a síntese do antipetismo. Não tinha papas na língua ao atacar Lula e Dilma e comprava briga até com figuras intocáveis no jogo de comadres parlamentar, como os peemedebistas José Sarney e Renan Calheiros.

Na Câmara, o PPS de Roberto Freire e do paranaense Rubens Bueno tenta fazer uma oposição de guerrilha com seus míseros 11 deputados. Líder do partido, Bueno fez nada menos que 292 discursos na tribuna desde fevereiro do ano passado. Com o gogó no microfone e o regimento embaixo do braço, é um dos poucos que tentam escapar do rolo-compressor da maioria governista.

Apesar de atingir até um petista, o caso Cachoeira sem dúvida é mais prejudicial à oposição. A voz para criticar os equívocos do Planalto, como loteamento de cargos entre partidos da base aliada, vai ficar mais fina. Melhor dizendo, já está.

É só perceber que as graves acusações sobre desvios no Ministério da Pesca, que atingem a atual ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC), têm tido muito pouco eco no Congresso. Está complicado explicar o casamento da compra de 28 lanchas pelo ministério e o pedido de doação de recursos de campanha para a empresa vendedora ao PT catarinense. “Parceiro” por “parceiro”, o que escolhe um bicheiro sempre tem menos crédito.

Por essas e outras o enfraquecimento moral da oposição é ruim para o país. A saída seria apostar em outro flanco, ou seja, apresentar uma nova proposta de gestão do país. Aí há outro problema: como bater em uma presidente bem avaliada por 77% dos brasileiros?

Talvez a resposta esteja no fato de que pouca gente consegue enxergar uma alternativa a Dilma e ao PT.

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