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Detalhe de retábulo de Carlo Crivelli com imagem de São Tomás de Aquino.
Detalhe de retábulo de Carlo Crivelli com imagem de São Tomás de Aquino.| Foto: National Gallery/Domínio público

A humanidade sempre colheu as consequências de ações desprovidas de valores em si. Mesmo assim, o desinteresse pela ética das virtudes segue prevalecendo em diferentes contextos culturais, incluindo o Brasil. Nesse espaço, é sempre bom relembrar o valor das virtudes na vida humana e o poder de reestruturação e florescimento que esse conjunto de valores tem em uma comunidade. Outro ponto importante é saber diferenciar as modalidades das virtudes para compreender qual o lugar de cada uma delas no mundo e como aplicá-las em nossa vida privada e pública.

O pai da Escolástica, São Tomás de Aquino, em seu Tratado das Virtudes em Geral nos ensina que a ciência e a virtude são hábitos e que a “virtude aperfeiçoa o homem para os atos pelos quais se ordena para a felicidade” (q. 62, art. 1.º da II parte da Suma Teológica). Logo, em nosso dia a dia, das questões mais simples até as mais complexas, nossas escolhas precisam ser “ordenadas para o bem” ao se exercitar as virtudes gerais, que são conhecidas como virtudes intelectuais, virtudes morais (também chamadas de cardeais) e virtudes teologais.

Ética sem as virtudes teologais é uma ética vazia, que depende de um hercúleo esforço filosófico, que nem todos querem ou conseguem trilhar.

Neste texto, vamos tratar das virtudes teologais, porque são elas são a base das demais virtudes. O mundo caminha cada vez mais no caminho da secularização completa, como nos ensina Charles Taylor em Uma Era secular, entronizando ninguém menos do que ele mesmo, conforme Lewis nos lembra na sua Ética para Viver Melhor. É por isso que somente a partir da fé, da esperança e da caridade – as três virtudes teologais – conseguiremos avançar. Ética sem as virtudes teologais é uma ética vazia, que depende de um hercúleo esforço filosófico, que nem todos querem ou conseguem trilhar.

Apenas por meio da busca dessas virtudes é que poderemos sobreviver nesta era de pensamentos ideologicamente maculados, como C.S. Lewis falou em 1941, no “Fundamento do pensamento do século 20”, em Ética para viver melhor. Ele nos estimula a ter uma firme confiança no raciocínio guiado pelo transcendente: “Estou pronto a admitir, casos vocês desejem, que essa firme confiança tem algo de transcendental [...]. E aí? Vocês preferem ser lunáticos ou místicos?”. Essa pergunta demonstra que estar firme com esses valores transcendentes nos confere uma identidade, além de nos fortalecer para que possamos defender nossas crenças. Por outro lado, abre o caminho para o ensino por meio do exemplo, o melhor de todos os professores.

Ao tratar sobre a ética, precisamos ser humildes o bastante para olhar pelo retrovisor da vida com o objetivo de aprender com aqueles que nos antecederam. C.S. Lewis é categórico ao afirmar que nossos ancestrais se preocupavam com a “vontade de Deus, a glória, a honra pessoal, a pureza doutrinária, a justiça”, e por esse motivo eles não temiam a extinção: “a civilização não corria o risco de desaparecer”. Uma vida ordenada para o bem impacta outras pessoas, além de promover a necessária tranquilidade para viver os dias, sem a paranoia do “dia de amanhã”.

Outro caminho interessante para entender a importância das virtudes teologais encontramos nas Crônicas de Nárnia. Segundo Alister McGrath, em A vida de C.S. Lewis: do ateísmo às terras de Nárnia, “as Crônicas de Nárnia esclarecem como os seres humanos se veem a si mesmo, como enfrentam suas fraquezas e como tentam se tornar as pessoas que devem ser”. No dizer do próprio C.S. Lewis: “Eu acredito que o sol surgiu, não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele vejo todas as outras coisas”.

O grande Jack (C.S. Lewis) nos ensina que viver no mundo implica em distinguir o que é certo e errado, fazer escolhas. E aqui voltamos para a ideia clássica do cristianismo como bússola moral da sociedade, o que novamente nos remete às virtudes teologais de São Tomás de Aquino, que na verdade são paulinas, ou seja, estão lá na Primeira Carta aos Coríntios, 13,13. Somente conseguiremos entender a melhor forma de viver no mundo se enxergamos o exercício das virtudes com a iluminação do Evangelho. E, aqui, novamente vale trazer uma observação do biógrafo de C.S. Lewis: “Podemos olhar para o sol em si; ou podemos, em vez disso, olhar para as coisas iluminadas por ele, ampliando assim nossa visão intelectual, moral e estética. Podemos ver o verdadeiro, o bom e o belo mais nitidamente se nos for dada uma lente que focaliza esses aspectos”.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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