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Protestos Minneapolis
Manifestantes passam por detritos em chamas do lado de fora de delegacia de polícia em protesto contra a morte de George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos, em 28 de maio de 2020.| Foto: Kerem Yucel/AFP

(artigo escrito por Franklin Ferreira especialmente para a coluna)

O jornal on-line The Intercept se notabilizou por publicar, em 2019, mensagens hackeadas de integrantes da Operação Lava Jato, a mais importante iniciativa contra a corrupção ocorrida no Brasil, para tentar anular a condenação por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro em três instâncias do ex-presidente socialista Lula – que chegou a ser preso e que se encontra em liberdade por causa da complacência do STF.

Recentemente, dois de seus colunistas atacaram lideranças e ministérios evangélicos brasileiros. Jackson Augusto, que se apresenta como um “ativista da teologia negra”, faz questão de se associar ao grupo revolucionário esquerdista Black Lives Matter, e é o criador do Canal AfroCrente, gravou um vídeo para o Intercept, atacando o The Send, o Dunamis, a Jocum e a Missão Novas Tribos. Recebeu uma resposta, também em vídeo, do pastor Henrique Krigner, e que foi compartilhada inclusive por Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Em resumo, uma das acusações feitas por Jackson seria de que o The Send “é uma rede de missões evangélicas norte-americanas que tem a missão de evangelizar a América”.  Mas Krigner esclarece que o The Send é um coletivo de ministérios internacionais com o objetivo de tirar o jovem cristão de sua zona de conforto na igreja, para fazer diferença na sociedade.

Jackson também afirmou que o The Send seria liderado por norte-americanos brancos, mas, como notou o pastor Krigner, Jackson se esquece que o próprio Intercept tem como editor Glenn Greenwald, um norte-americano branco, que foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suposta ligação com hackers que invadiram os celulares de diversas autoridades, entre elas o ex-ministro da Justiça Sergio Moro. De acordo com o MPF, “ficou comprovado que ele auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões”.

Jackson também informou erroneamente que os locais em que ocorreu o The Send foram Brasília, São Paulo e Belo Horizonte. Mas o The Send nunca ocorreu em Belo Horizonte, o que mostra a falta de qualidade e de credibilidade da pesquisa do colunista do Intercept.

Não é possível ser cristão, crer na ética bíblica e, concomitantemente, aceitar as premissas do BLM

A Jocum (Jovens Com Uma Missão) também foi atacada pelo articulista do Intercept, assim como seu trabalho entre os povos indígenas. Mas Krigner relembrou a história e os motivos pelos quais o casal de linguistas metodistas Edson e Márcia Suzuki foi expulso da tribo suruwahá: por terem resgatado uma criança que chegou a ser enterrada viva. E também relembrou que a Jocum treina missionários para servir em causas sociais, sob o risco de suas próprias vidas.

A resposta precisa de Henrique Krigner evidencia o real intento das acusações feitas por Jackson. As mentiras são desmontadas, uma a uma, de forma avassaladora. Em síntese, o vídeo veiculado pelo Intercept é um amontoado de distorções, imposturas e mentiras. Seu objetivo é, ao mesmo tempo, se vitimizar e acusar seus adversários de supostos crimes, estimulando a prática da perseguição, “cancelamento” e mordaça.

Na semana seguinte, Ronilso Pacheco fez uma “matéria” citando a mim, Tiago Santos e Renato Vargens como “evangélicos [fundamentalistas] brasileiros que miram no Black Lives Matter”. Entretanto, em nenhum momento ele prova que o BLM não é um movimento tóxico para a sociedade. Tiago Santos é um dos pastores da Igreja Batista da Graça, um dos diretores do Seminário Martin Bucer e CEO da Editora Fiel, em São José dos Campos (SP); Renato Vargens é pastor da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ), autor de dezenas de livros e que tem imensa visibilidade nas redes sociais, alcançando milhões de pessoas.

Em seu texto, Ronilso, seguindo uma lógica canhota, reconhece que o BLM rompe “com o requisito de estrutura familiar nuclear” e que uma das líderes do BLM e suas colegas são “marxistas treinadas (...) superversadas em teoria ideológica”. Além disso, o BLM também está envolvido em queima de Bíblias e ataques a templos e esculturas cristãs nos Estados Unidos, e seus líderes apoiam o ditador venezuelano Nicolás Maduro, cujas políticas socialistas trouxeram colapso econômico e miséria incalculáveis a milhões de pessoas em seu país (Luciano Trigo documenta essas conexões em seu texto para a Gazeta do Povo). Na verdade, não é possível ser cristão, crer na ética bíblica e, concomitantemente, aceitar as premissas do BLM, que milita contra a família nuclear, a polícia e as prisões, além de demonizar a “heteronormatividade” e a liberdade econômica.

Como Ronilso e Jackson são vazios de ideias, resta a eles o ataque rasteiro: acusar aqueles dos quais eles discordam de associação com “supremacistas brancos”, ou de serem “negacionistas e racistas cristãos”. Mas esta empulhação é facilmente desmontada. Basta uma ligeira olhada em minhas páginas nas redes sociais, seja no Facebook, seja no Instagram, para se encontrar dezenas de postagens e vídeos denunciando o racismo como pecado abominável. Todavia, Ronilso ficou ofendido com as críticas ao BLM. Na mente distorcida e maliciosa de esquerdistas como ele, somente os que se submetem cegamente ao BLM podem denunciar o racismo.

Há tempos, Ronilso tem patrulhado conferências e eventos evangélicos com o típico ressentimento dos esquerdistas. Ele escreve sobre a instituição que dirijo, segundo ele “um dos mais conservadores seminários teológicos brasileiros”: “Não deixa de ser curioso que, segundo seu site, o Seminário Martin Bucer tenha apenas uma mulher e nenhum negro em seu corpo docente de 14 professores”. Depois disso, só posso pensar que ele ou é intelectualmente desonesto ou tem algum problema cognitivo. Mas, enquanto os adeptos da extrema-esquerda aderem às pautas identitárias, os cristãos creem na mensagem da Cruz, que cura de verdade as divisões sociais.

Ele também tem se esforçado para se sobressair entre os adeptos da extrema-esquerda. Em 2016 propôs invadir e ocupar igrejas evangélicas, com o intuito de torná-las ONGs. Apareceu num vídeo de 2017, conversando animadamente com o deputado federal Marcelo Freixo (PSol), que o reconhece como “adepto da Teologia da Libertação”. Numa reportagem do Intercept em 2020 sobre um suposto complô calvinista para influenciar a Presidência, mentiu afirmando que eu e “Bolsonaro, o ‘Messias’, [... passamos] a ficar cada vez mais próximos” – afirmação sem base factual, fruto dos delírios esquerdistas do rapaz, provavelmente adepto de teorias da conspiração.

Enquanto os adeptos da extrema-esquerda aderem às pautas identitárias, os cristãos creem na mensagem da Cruz, que cura de verdade as divisões sociais

Em agosto de 2020, para defender o aborto realizado na menina de 10 anos, afirmou em artigo que grupos pró-vida e pró-família são grupos de ódio e deveriam ser enquadrados na Lei Antiterrorismo. No entanto, diferentemente do que Ronilso afirma, este não foi um “procedimento legal”, mas ocorreu contra parâmetros de normas técnicas do Ministério da Saúde que estabelecem como limite para o aborto entre a 20.ª e 22.ª semana de gestação e 500 gramas como peso máximo do feto – a equipe médica do Espírito Santo constatou que a menina estava com 22 semanas e quatro dias de gestação, e o bebê tinha mais de 500 gramas.

Aliás, em 2019, até onde se sabe, Ronilso teria feito uma “vaquinha” nas redes sociais para estudar em Nova York. Não em Cuba. Não na Venezuela. Mas em Nova York. Nos Estados Unidos. Foi para Nova York para estudar num seminário cuja presidente, Serena Jones, repudia o nascimento virginal de Cristo por considerá-lo “bizarro”; a crença de que Deus é onipotente e onisciente como “uma invenção da teoria jurídica romana e da mitologia grega”; bem como nega a ressurreição de Jesus.

Portanto, algo precisa ficar claro. Tanto Ronilso Pacheco como Jackson Antunes – que repudia a evangelização, rotulando-a como “colonização” – são “cristãos progressistas” que têm como referência James Cone, um teólogo que escreveu que “todos os homens brancos são responsáveis pela opressão branca” e que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo”. Provavelmente ambos concordem com a afirmação de Jeremiah Wright, que foi pastor do ex-presidente Barack Obama, de que “a igreja ‘branca’ é o Anticristo”. Assim, ambos têm crenças muito diferentes das afirmações evangélicas, sustentadas na Reforma e nos avivamentos ocorridos no passado. Talvez o único artigo do Credo dos Apóstolos que eles creem seja o de que Deus é Pai. Quer dizer... talvez não.... pois na ótica ideológica dos “cristãos progressistas” a divindade deve ser reinterpretada como “mãe”.

Como já tenho escrito em outros artigos, os “cristãos progressistas” não estão questionando questões secundárias ou não essenciais à fé cristã. Os “cristãos progressistas” romperam com “aquilo que foi crido em todo lugar, em todo tempo e por todos [os fiéis]” (Vicente de Lérins), a fé comum a cristãos católicos, protestantes e pentecostais. Para lembrar do brado de Karl Barth em 1934, estes “têm uma fé diferente, um espírito diferente, um Deus diferente” do que os cristãos têm confessado. Logo, ambos não podem ser considerados evangélicos, pois o que vale para eles é o apreço à ideologia e não à fé revelada. Ambos têm mais a ver com o gnosticismo, o antigo inimigo da fé cristã, do que com os discípulos de Cristo.

Se no passado os esquerdistas tentaram cooptar a igreja evangélica e transformá-la numa ONG inofensiva, agora querem criminalizá-la e silenciá-la. Aliás, por que Ronilso Pacheco não reclama com seus editores, brancos norte-americanos, por falta de representatividade na direção do Intercept?

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7,15-16)

“Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.” (Colossenses 2,8)

Franklin Ferreira é bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É diretor e professor de Teologia Sistemática e História da Igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos (SP), e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor de vários livros, entre eles Teologia Sistemática (em coautoria com Alan Myatt), A Igreja Cristã na História, Avivamento para a Igreja, Contra a Idolatria do Estado e Pilares da fé, publicados por Edições Vida Nova, e Servos de Deus e O Credo dos Apóstolos, publicados pela Editora Fiel.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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