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Execuções durante o período do Terror, fase da Revolução Francesa.
Execuções durante o período do Terror, fase da Revolução Francesa.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público

Os revolucionários franceses, sobretudo os jacobinos, não estavam satisfeitos com a queda da monarquia a partir de 1789. Eles queriam mais. Maximilien Robespierre (se fosse da máfia italiana, seria il capo), em sua sanha pelo poder, percebeu que era necessário eliminar toda e qualquer ameaça. Com a ajuda do médico Joseph Guillotin, criou um instrumento que facilitaria seu desiderato: a guilhotina. Morte rápida, limpa e teatral. Só na Bastilha, mais de 15 mil cabeças rolaram.

Inaugurou-se, desta forma, o período do Terror jacobino. Mas ele percebeu que precisava de ainda mais. O eco do passado era ensurdecedor. Mesmo perdendo a cabeça (literalmente), as pessoas não eram simplesmente desconectadas de suas fontes. A fonte precisava ser alterada. Então ele criou uma religião, com deus e tudo. A religião constitucional da França centrada no culto à deusa razão. Il capo tinha tudo à mão: templos, fiéis e até oficiantes do culto, os próprios padres.

Mas ele não contava que os padres, até então dóceis (isto é, não pegaram em armas contra ele), não se submeteriam a outro deus, a não ser o do Sinai. Então, guilhotina neles! Mais de 200 padres decapitados, sem contar as dezenas de freiras, como as carmelitas de 1794.

O PL da Censura cria o Ministério da Verdade e eleva as plataformas digitais à categoria de um ator que dá as cartas na sociedade política. Enquanto isso, os soldados da nova ordem perseguem, cancelam e processam quem pensa diferente deles

Com uma França devastada e a religião expulsa do solo francês (na Lei do Exílio, de agosto de 1792, mais de 400 padres foram expulsos da França, sob pena de perderem as cabeças), parecia que a fonte estava desconectada. Só que não. A coisa não é assim tão fácil (talvez seja até impossível) de fazer. Assim, o povo, na Guerra da Vendeia, pegou em armas e, sob a divisa “por Deus e pelo rei”, insurgiu-se contra os bonitos revolucionários baluartes da igualdade, liberdade e fraternidade. Centenas de milhares de pessoas morreram, e, por fim, o pessoal da fraternidade, os tais jacobinos, atearam fogo nas casas da população e em suas plantações.

A coisa só começou a arrefecer quando o próprio capo Robespierre perdeu sua cabeça na mesma guilhotina que ajudou a criar, e a França caiu na mão de um dos maiores ditadores da história, no golpe de 18 de Brumário, em 1799. O nome dele? Napoleão Bonaparte – e com ajuda de um abade, Sieyès! A religião voltou a ser respeitada e a França voltou a respirar.

O que essa história tem a ver conosco? Muita coisa. Outro dia a “rainha dos baixinhos” disse que a Bíblia tinha de ser reescrita, o Antigo Testamento deletado etc. Já aquele influencer de cabelo pintado defende a censura descaradamente em suas redes sociais, claro que dizendo que é em prol da liberdade, igualdade e fraternidade.

Movimentos sociais e parlamentares revolucionários, sob o lema da “democracia, inclusão e diversidade”, agem para calar vozes dissonantes, excluir do debate e da comunidade quem pensa diferente, tudo com o objetivo de criar uma música (nem para ser um samba) de uma nota só.

O PL da Censura cria o Ministério da Verdade e eleva as plataformas digitais à categoria de um ator que dá as cartas na sociedade política. A plataforma derruba, elimina e deleta qualquer expressão individual que entender violar o lema dos novos iluminados. E ai da plataforma se não fizer isso: multa e cabeças rolando. Enquanto isso, os soldados da nova ordem perseguem, cancelam e processam quem pensa diferente deles. A nova tentativa de desconectar as pessoas da fonte é evidente. Até os psicólogos estão pagando o pato: seja psicólogo ou seja crente; os dois ao mesmo tempo não!

Por fim, como os ecos da modernidade, a Nova Guilhotina é ainda mais efetiva (atua no mundo inteiro); mais rápida (basta um clique ou uma linha de programação); mais limpa (não tem sangue); e mais teatral (o mundo inteiro assiste). E já opera na Bastilha atual (a internet).

Diante disso, o que faremos? Fica a pergunta para a reflexão. Espero que o caminho não seja entregar tudo para um novo Bonaparte...

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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