Enquanto especialistas tentam tranquilizar o mundo, alguns ainda tentam entender como pode existir tamanha capacidade de acerto preditivo| Foto: Reprodução Internet
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As habilidades preditivas de certas instituições internacionais e líderes mundiais estão desafiando a compreensão humana. Esta já a terceira vez em que uma mera simulação de cenário hipotético acaba se concretizando com uma fidelidade altamente impressionante. Depois do Event 201 (que especulou em outubro de 2019 uma crise sanitária global), e do Cyber Polygon (que simulou a crise cibernética mundial), agora é a vez de descobrimos que, 18 meses atrás, especialistas dos quatro cantos do planeta fizeram um exercício hipotético de como seria uma nova pandemia global causada exatamente pela varíola do macaco. O mais curioso é que, segundo o modelo hipotético, o problema começaria no dia 05 de junho de 2022.

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O exercício foi realizado pela “Nuclear Threat Initiative” (NTI), uma ONG norte-americana criada em 2001 pelo magnata da mídia Ted Turner, fundador da CNN, e Sam Nunn, senador pelo estado da Geórgia entre os anos 1972 e 1997. O objetivo da inciativa é monitorar a fabricação das armas nucleares, químicas e biológicas. Em março de 2021, a NTI estabeleceu uma parceria com a Conferência de Segurança de Munique para realizar um exercício com o fim de identificar eventuais lacunas nos sistemas nacionais e internacionais de biossegurança e preparação para pandemias. O resultado poderia ajudar a sugerir melhoras na capacidade de prevenção e resposta a “eventos biológicos de alta consequência”. O evento reuniu 19 especialistas de várias partes do mundo, que atuam nas áreas de saúde pública, indústria de biotecnologia, segurança internacional e filantropia.

Os resultados do exercício de março de 2021 foram reunidos num relatório, chamado, em tradução livre do inglês, “Fortalecimento de sistemas globais para prevenir e responder a ameaças biológicas de alta consequência: resultados do exercício de mesa de 2021 realizado em parceria com a Conferência de Segurança de Munique”. Nele, entendemos como foi essa simulação. Eles imaginaram uma pandemia global mortal causada por uma cepa incomum do vírus da varíola dos macacos. O problema teria se originado na nação fictícia de “Brinia”, e se disseminou pelo mundo ao longo de 18 meses. Conforme a simulação, o problema teria sido causado por uma ofensiva terrorista, em que teria sido utilizada uma versão geneticamente modificada da varíola dos macacos. Na simulação, mais de três bilhões de pessoas teriam sido infectadas e cerca de 270 milhões perderiam suas vidas.

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Além de toda a curiosidade provocada pelo documento (que 18 meses atrás projetou um cenário semelhante ao que está preocupando o mundo hoje), alguns fatos merecem destaque. No dia 24 de abril de 2020, Gates apareceu no “The Late Show with Stephen Colbert” e afirmou que, em sua opinião, a “Pandemia 2” (como ele chama a próxima crise sanitária depois do Covid) seria causada por um ataque bioterrorista, que liberaria no mundo um agente com elevado índice de fatalidade. Em março de 2021, houve o exercício do NIT sobre uma hipotética pandemia global de varíola dos macacos. No início de novembro de 2021, o fundador da Microsoft trouxe mais detalhes sobre este cenário tenebroso que ele tanto temia. Durante uma conversa com o parlamentar britânico Jeremy Hunt para o think tank “Policy Exchange”, Gates lançou a seguinte pergunta: “E se um bioterrorista levasse varíola para 10 aeroportos? Como o mundo responderia a isso?”. Preocupante, não?

Ainda não chegamos ao dia 05 de junho. Seguimos na torcida para que o cenário visualizado em março de 2021 continue sendo meramente hipotético. Porém, enquanto isso, a varíola do macaco já foi registrada em 23 países, com 333 casos confirmados. No Brasil, até o momento da publicação deste artigo, há 3 indivíduos sendo monitorados: uma pessoa vinda de Portugal que está em viagem a Porto Alegre, outra no Ceará e uma terceira em Santa Catarina.

Autoridades sanitárias mundo afora têm buscado tranquilizar a população, afirmando que sua letalidade é baixa. A própria Organização Mundial da Saúde já se manifestou dizendo que não acredita que isso possa levar o mundo a uma nova pandemia. Entretanto, a Bélgica impôs quarentena aos infectados, e o CDC norte-americano elevou para o nível 2 seu alerta de viagem, recomendando precauções adicionais.

Ainda não temos condições de saber se isso tudo se transformará num novo problema de abrangência global. A única certeza que temos, por enquanto, é que estamos diante de um poder de acerto preditivo que continua desafiando a compreensão humana.