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A Polícia Federal domesticada de Lula
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, deu uma entrevista ao O Globo sobre os 10 anos da Lava Jato em que começou dizendo que o maior acerto da operação é “não repetir os seus erros, não fazer o que eles fizeram porque, independentemente das pessoas que foram objeto das investigações, os processos foram anulados” - atribuindo culpa à operação, quando a imensa parte das anulações deriva da mudança das regras pelo STF e sua aplicação retroativa. O único aprendizado importante da Lava Jato, segundo ele, foram os “erros que foram cometidos e que agora evitamos”.

Para o diretor-geral da PF de Lula, portanto, o grande acerto da Lava Jato não foram os mais de 15 bilhões de reais que ela recuperou para a sociedade, ou a punição inédita a grandes políticos e empresários corruptos, ou o fortalecimento do combate à corrupção no Brasil, ou a revelação dos grandes esquemas partidários liderados pelo governo do PT - sobre isso, nenhuma palavra. Para o diretor-geral da PF de Lula, em uma avaliação que combina mais com Dilma Rousseff, os acertos são os erros. O que a Lava Jato fez de bom deve ser tomado como um manual do que não fazer.

Felizmente, a maioria da população brasileira discorda do diretor-geral da PF lulista: 50% dos brasileiros acreditam que a Lava Jato fez mais bem do que mal ao país, enquanto que 49% acreditam que a Lava Jato ajudou a combater a corrupção, segundo pesquisa Quaest recente. Andrei Rodrigues, aliás, sequer tem autoridade para comentar a Lava Jato ou seu aniversário de 10 anos, já que nunca atuou na operação e seu feito digno de nota, na corporação, foi ter coordenado a equipe de segurança de Lula na campanha eleitoral de 2022. Ganhou a confiança de Lula e foi recompensado com o cargo na chefia da PF.

O que fica parecendo é que Andrei Rodrigues não tem coragem de falar a verdade sobre a Lava Jato, já que, no mundo invertido do governo lulopetista, a Lava Jato foi uma conspiração com o governo dos Estados Unidos para quebrar a Petrobras e outras empresas brasileiras - ainda que essa narrativa delirante não passe de uma teoria da conspiração barata de Lula. Como Lula está dedicado a reescrever a história a todo custo, nenhum membro do governo pode ser visto em público fazendo qualquer elogio à Lava Jato, muito menos comentando os muitos sucessos da operação, que são fatos inquestionáveis, sob pena de terem suas cabeças cortadas.

Para o diretor-geral da PF de Lula, em uma avaliação que combina mais com Dilma Rousseff, os acertos são os erros


O diretor-geral da PF lulista também tenta distanciar a PF de hoje com a PF da época da Lava Jato, como se fossem duas corporações totalmente distintas. Diz que hoje a PF busca exatamente o contrário da Lava Jato, “trabalhar com muita responsabilidade, com foco na legislação e nas normas que regem as investigações”. Balela: os delegados, agentes e escrivães que trabalharam na Lava Jato seguem na polícia e estão dentre os seus melhores quadros. Nunca cometeram irregularidades ou sofreram sanções, mas vale-tudo para descascar a Lava Jato. 

Rodrigues disse ainda que agora a PF passou a utilizar as delações premiadas como ferramentas de investigação, e não como provas em si mesmas, como ele diz que ocorria na Lava Jato. Tudo balela, de novo: a delação premiada sempre foi considerada meio de prova na Lava Jato, e era corroborada por centenas de outros documentos, como extratos bancários, gravações, contratos, notas fiscais, etc. Prova disso está em cada uma das dezenas de sentenças proferidas. Sua afirmação é fruto de ignorância e despreparo ou então de má-fé. 

Aliás, a PF de Lula, recentemente, aceitou uma delação que não foi vista com bons olhos pelo MPF: a do tenente-coronel Mauro Cid. Um procurador da PGR chegou a chamar a delação de “fraca” e “cheia de narrativas”. Nem a PF, nem o MPF, nem a Justiça, nem ninguém sério falava isso das delações da Lava Jato, porque basta ler qualquer condenação para ver que é mentira. A delação sempre foi tratada pela Lava Jato como um começo ou princípio de prova e sempre foi corroborada por provas abundantes. 

Questionado sobre os sucessivos e enormes abusos jurídicos que estão sendo cometidos em série pela PF, PGR e STF contra os réus do 8 de janeiro, que não têm foro privilegiado, não têm tido suas condutas individualizadas e estão sendo condenados em lotes, na maior parte das vezes sem provas concretas de crimes - algo muito diferente do que aconteceu na Lava Jato, como provei neste artigo, Rodrigues desconversou. Ele também nada falou do escândalo envolvendo a perícia sobre as imagens do aeroporto de Roma, e das suspeitas de que ele mesmo tenha interferido politicamente nas investigações para beneficiar o ministro Alexandre de Moraes, como mostrei neste outro artigo.

A PF de Lula foi domesticada, mas, mais do que isso, ela foi adestrada. Andrei Rodrigues age mediante recompensas e punições, fazendo o que o chefe manda. Foi José Dirceu quem disse que tinha “lealdade canina” a Lula. Pelo jeito, é algo que Lula busca bastante em seu entorno. As falas de Andrei Rodrigues fazem sentido só no multiverso deformado das conspirações lulistas. É uma pena que a lealdade do Diretor-Geral seja dirigida a Lula, e não à própria Polícia ou ao interesse público, caso em que se esperariam dele respostas bem diferentes.  

Sua afirmação é fruto de ignorância e despreparo ou então de má-fé

A verdade é que é muito conveniente para uma autoridade, hoje, fechar os olhos para a corrupção dos poderosos, especialmente do PT e dos demais partidos envolvidos no Petrolão. É conveniente fechar os olhos para inúmeros abusos cometidos pelo STF, afinal, eles são poderosos e não tem ninguém acima para apontar os arbítrios. É conveniente ser um servo do sistema. É muito fácil apenas ir na onda: as recompensas pela subserviência aos donos do poder são muitas. Denunciar os desmandos dos poderosos não traz nenhum benefício para a carreira - pelo contrário, quem o faz é perseguido por causa da justiça.

Difícil, mesmo, é combater a corrupção num país como o Brasil, com uma história de 500 anos de impunidade. Difícil é enfrentar ao mesmo tempo todo o establishment, incluindo os políticos e empresários mais poderosos do Brasil, uma verdadeira máfia que se infiltrou no Estado. Difícil é sofrer riscos, ameaças e perseguições para fazer o que é certo. E difícil é, ainda assim, conseguir o que ninguém nunca conseguiu antes: colocar na cadeia um ex-presidente corrupto, cujo partido é responsável pelos maiores escândalos de corrupção do Brasil, e mudar para sempre a história do país que, agora, entende bem como o sistema político funciona. Muita gente na Polícia Federal participou disso. Contudo, Andrei Rodrigues, pelo jeito, nunca saberá o que é isso.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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