Gustavo Lima / Câmara dos Deputados| Foto:
CARREGANDO :)

O país está enfrentando uma crise orçamentária. É o que lemos nos jornais. O problema, entretanto, não se resume às finanças públicas ou à falta de recursos, mas desvela faceta da política brasileira.

São muitos os problemas com as leis orçamentárias da União de 2015. Presenciamos um apagão político. Vejamos:

Publicidade

a) a LDO 2015, que deveria ser aprovada pelo Congresso Nacional até meados de 2014, foi aprovada no início de 2015. É a lei 13.080/2015. A LDO é lei preparatória da proposta de LOA, devendo estar vigente durante a elaboração das propostas orçamentárias .

b) a LOA 2015 (fixa as despesas públicas), que deveria ser aprovada pelo Congresso Nacional no final de 2014 (para viger de janeiro a dezembro), ainda não existe.

c) o decreto com o cronograma de desembolso (para contingenciamentos, ou congelamentos de despesas) deve ser publicado até 30 dias após a LOA 2015. Se a LOA 2015 não existe, não haveria o decreto. Mas, surpreendentemente, há. Publicado hoje, o Decreto 8389/2015 dispõe sobre a execução orçamentária dos órgãos, dos fundos e das entidades do Poder Executivo até a publicação da Lei Orçamentária de 2015.

d) em vez de programar os duodécimos, ou um doze avos por mês, como previsto na LDO 2015, o decreto mudou para um dezoito avos ao mês (para acalmar o mercado).

e) o funcionamento de todos os Poderes, Ministério Público e Defensoria Pública é prejudicado, pois todos dependem da LOA. E, ainda, dependem da LDO para elaborar suas propostas orçamentárias – mas a LDO 2015 foi publicada há alguns dias, então suponho que as propostas orçamentárias foram construídas com fundamento da proposta de LDO, não na LDO aprovada.

Publicidade

f) curioso nessa confusão legislativa e política é que o Decreto 8389/2015, publicado hoje, regulamenta a execução orçamentária de uma lei que ainda não existe (ainda é só um projeto) – a vindoura LOA 2015. Uma aberração jurídica.

Posso afirmar que, de fato, trata-se de defeito jurídico. O Decreto padece de ilegalidades. Não obstante, a principal constatação é a ausência de seriedade na condução de um assunto tão caro à Administração Pública. Há um apagão político quanto ao tema orçamentário. Não nego que seja necessária a negociação entre Executivo e Legislativo na alocação de recursos, mas é preciso, também, cumprir, minimamente, os prazos, evitando riscos ao funcionamento do Estado.