O presidente Jair Bolsonaro| Foto: EVARISTO SA/AFP or licensors
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O presidente Jair Bolsonaro passou semanas dizendo que não pretendia intervir na gestão da Petrobras, apesar da alta no preços dos combustíveis. Desde o início do ano, o diesel já aumentou quase 28% e a gasolina, 35%. Na sexta-feira (19), Bolsonaro indicou um general para o lugar do atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. O presidente deixou claro, em sua live semanal transmitida na internet do dia anterior, que a troca, que precisa ser aprovada pelo conselho da empresa, foi fruto da insatisfação com a política de preços da empresa. Quando Bolsonaro diz que não vai fazer algo, significa o oposto?

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"Temos esse compromisso, bem como respeitar contratos e jamais intervir, seja qual forma for, contra outras instituições como no caso aqui a nossa Petrobras", havia dito Bolsonaro em entrevista coletiva no dia 5 de fevereiro. Três dias depois, em conversa com apoiadores no Palácio do Alvorada, o presidente reafirmou: "Eu tenho influência sobre a Petrobras? Não." Em seguida, completou: "Ou cumpre a lei ou vou ser ditador. E para ser ditador vira uma bagunça o negócio e ninguém quer ser ditador e... isso não passa pela cabeça da gente."

Quando Bolsonaro diz que não quer ser ditador, significa que quer?

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Bolsonaro vinha repisando o seu compromisso de não intervir na Petrobras de nenhuma forma, deixando que a empresa tivesse autonomia administrativa, desde 2019, quando surgiram indícios de que ele havia pressionado a empresa para segurar o preço dos combustíveis: "Não vou ser intervencionista e fazer práticas que fizeram no passado, mas quero os números da Petrobras", disse o presidente em abril daquele ano.

A intervenção que não é intervenção

O presidente e seu entorno agora fazem malabarismos argumentativos para afirmar que a troca de comando na Petrobras não é uma intervenção. "Não houve qualquer interferência na Petrobras", disse Bolsonaro no dia seguinte. Mas a mensagem que fica é que aumentos de preços nos combustíveis, ainda que amparados nas oscilações da cotação internacional do petróleo e do câmbio, não serão tolerados. Tanto que as ações da Petrobras despencaram e a empresa perdeu 28 bilhões de reais em valor de mercado em questão de horas.

E como interpretar aquelas declarações em sequência feitas pelo presidente, prometendo não intervir de nenhuma forma na companhia? Quando Bolsonaro diz uma coisa, quer dizer outra?

Essa vacina eu não compro

Não é a primeira vez que Bolsonaro diz uma coisa e faz outra. No segundo semestre do ano passado, ele garantiu em diversas ocasiões que o governo federal não compraria a CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e que é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, do governo paulista.

Neste caso, ainda bem que o presidente não cumpriu com a palavra.

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Bolsonaro começou ironizando a origem chinesa da CoronaVac. Em julho do ano passado, ao falar do acordo firmado para adquirir a vacina de Oxford via Fiocruz, afirmou: "Não é daquele outro país, não, tá ok, pessoal?"

Em outubro, quando foi revelado que o Ministério da Saúde estava negociando 46 milhões de doses da CoronaVac, Bolsonaro escreveu no Facebook: "Não será comprada." E aproveitou para chamar o imunizante de "vacina chinesa do Doria". Mais tarde, no mesmo dia, afirmou: "Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade." De fato, as negociações entre o Ministério e o Instituto Butantan foram suspensas naquele momento.

Quando Bolsonaro negou-se a garantir a compra de doses da CoronaVac em outubro passado, um dos seus argumentos era o de que não compraria nada sem o registro da Anvisa.

Um dia depois de mandar suspender o acordo, porém, ele foi explícito ao afirmar que não permitiria a compra da CoronaVac em hipótese alguma, por ser chinesa. "A da China não compraremos, é decisão minha", disse Bolsonaro.

Em janeiro deste ano, porém, quando ficou claro que a CoronaVac seria a primeira vacina disponível no Brasil e diante da possibilidade de o estado de São Paulo iniciar a vacinação antes do resto do país, Bolsonaro autorizou o Ministério da Saúde a fechar acordo para a aquisição da "vacina chinesa do Doria".

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Por sorte, nesse caso o presidente fez o oposto do que prometeu fazer. Caso contrário, não teríamos 90% do total de vacinados contra covid-19 até agora no Brasil.

Respeito à imprensa às avessas

Quando Bolsonaro diz que respeita a liberdade de imprensa, apesar de criticar durante a "mídia" por qualquer crítica que receba, está querendo dizer justamente o contrário?

O mais recente episódio em que o presidente diz uma coisa, mas parece estar querendo dizer outra ocorreu durante um período de descanso na semana do Carnaval, no litoral catarinense, quando Bolsonaro caminhava na praia, cercado de apoiadores, e reclamava de restrições impostas pelo Facebook ao compartilhamento de imagens na sua conta.

"Não vou fazer isso porque sou democrata. Mas o certo é tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, Antagonista", disse Bolsonaro.

Quando Bolsonaro diz que não vai tirar jornais de circulação, apesar de isso ser "o certo" na opinião dele, significa o oposto, como significou com a intervenção na Petrobras e com a compra da CoronaVac?

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A possibilidade de que as declarações do presidente devam ser interpretadas como um "jogo do contrário" infantil gera uma enorme insegurança — nos mercados e nos cidadãos brasileiros.