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Formação continuada de docentes: a hora e a vez de atuar em conjunto!
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Todo secretário de Educação tem consciência da centralidade do papel do professor para a promoção da educação de qualidade. Diversos estudos deixam claro que, mais do que as características pessoais ou a própria graduação, o que mais conta é o que ele faz em sala, ou seja, a sua prática pedagógica.

Criar espaços de aprendizagem, que gerem oportunidades de diálogo e de formação mútua entre os docentes, é algo de extrema relevância. Fazer valer o período de planejamento e de qualificação, já estabelecido na Lei do Piso, para que de fato esses momentos ajudem os professores a conhecerem e aperfeiçoarem as estratégias vinculadas. Em especial, aos desafios da sala de aula, sejam eles atrelados às práticas de ensino ou aos conteúdos a serem lecionados.

Mesmo com a consciência da relevância desses momentos, a realidade se mostra diferente. Segundo a pesquisa Profissão Docente (2018), conduzida pelo Movimento Todos pela Educação, Ibope e Itaú Social, apenas 33% dos professores brasileiros da rede pública, afirmam que reuniões de trabalho colaborativas ocorrem conforme as diretrizes estabelecidas pelas Secretarias de Educação.

Por outro lado, tudo parece ser mais fácil quando as redes de ensino possuem uma estrutura de profissionais responsáveis pela formação, pelo monitoramento e pela avaliação dos docentes. Também por estabelecer uma política de formação continuada e gerenciar os planos de carreira docente, que incentivam o desenvolvimento profissional em prol da aprendizagem.

Mas, e quando as redes são pequenas, com poucos profissionais com essas atribuições ou, ainda, quando esses profissionais não são de carreira e ficam suscetíveis a trocas a cada novo mandato do executivo? Infelizmente, essa é realidade da maioria dos municípios brasileiros de pequeno e médio porte.

Diante desse cenário, muitos municípios têm escolhido se associar para juntos ofertarem uma formação continuada de maior qualidade. E como eles fazem?

Seja por meio de colegiados de secretários de Educação, Arranjos de Desenvolvimento da Educação ou das câmaras técnicas de Educação vinculadas aos consórcios públicos, os profissionais de uma mesma região agendam reuniões, fazem diagnósticos, instituem responsáveis, constroem ementas de formação e promovem formações colaborativas. Eles tanto contratam profissionais externos às redes como identificam profissionais das próprias redes para ministrar as formações das quais mais necessitam.

Tive a oportunidade de conhecer de perto o trabalho do Arranjo da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, e que vem fazendo esse trabalho há mais de 20 anos consecutivos. Esse Arranjo existe desde 1999, e teve início a partir da mobilização de uma educadora que percebeu que era necessário se articular com os demais educadores do território, para provocar melhorias nas escolas e nos sistemas de ensino. Dessa forma, eles contribuíssem para gerar melhores condições de aprendizagem aos seus alunos. Atualmente, quase vinte municípios da região atuam em conjunto, e destes, 65% possuem menos de 20 mil habitantes, ou seja, são de pequeno porte.

Na Chapada Diamantina, a riqueza histórica, cultural e natural se contrasta com os desafios socioeconômicos dos municípios. Mesmo assim, todos os meses os coordenadores pedagógicos e técnicos das secretarias se reúnem para estudar. Com grupos divididos, considerando as etapas do ensino fundamental, durante um dia inteiro os profissionais se aprofundam nos temas da formação.  Eles debatem, trazem suas experiências e preocupações e, ao final do dia, saem com ações concretas que deverão ser multiplicadas em suas redes de ensino. Ali, em uma mesma sala, um aprende com o outro e o conhecimento é multiplicado.

As diferenças de porte e de condições de cada município ficam do lado de fora da sala, ou seja, elas não são limitadoras para o aperfeiçoamento dos profissionais. E, assim, com simplicidade e profundidade, esse grupo vem trabalhando ano após ano e a experiência colegiada no território alcança os professores e as escolas.

Como resultado, o percentual de alunos com o aprendizado considerado adequado ou acima do esperado vem crescendo substancialmente. No ensino fundamental, nos anos iniciais das escolas municipais, o avanço de 2013 a 2017, considerando a média dos resultados dos municípios, foi de 82% em Língua Portuguesa e de 72% em Matemática.  A média do avanço dos municípios brasileiros, no mesmo período, foi de 42% em Língua Portuguesa e 31%, em Matemática. Mesmo que ainda não seja possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito, dadas as características socioeconômicas da região e o histórico de atuação continuada, esses resultados, sem dúvida, chamam a atenção.

É preciso, cada vez mais, que os sistemas de ensino avancem nessa direção e se apropriem dos mecanismos de colaboração para provocar, de forma contínua e mais veloz, os avanços na melhoria da qualidade e da equidade da Educação ofertada nos distintos municípios e estados brasileiros.

*Texto escrito por Eliziane Gorniak, professora, mestre em Gestão Ambiental, sócia efetiva do Movimento Todos pela Educação, integrante do Movimento Colabora Educação e Diretora Executiva do Instituto Positivo, organização que atua em favor da melhoria da qualidade da educação pública, por meio do incentivo ao Regime de Colaboração. Colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM, no Blog Educação e Mídia.

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