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O design e o espaço escolar
| Foto: Foto: Sala de aula vetor - Criado por vectorpocket - br.freepik.com

O termo design é utilizado em vários setores. Não temos aqui a intenção de realizar um debate semântico da palavra e sua relação com a educação, mas propor uma reflexão de como esse termo tão em voga pode modificar a percepção do espaço escolar para uma educação significativa.

A palavra design se origina do latim. O verbo designium é traduzido literalmente como significado – significado que damos a algo. Por isso, muitas vezes, dizemos que um produto, um objeto, ou um espaço têm um design agradável – e isso nos faz desejá-lo, pois ele expressa, de alguma forma, um significado que para nós faz todo sentido. E aqui chegamos no ponto crucial dessa reflexão: como o espaço escolar pode criar um significado na vida do estudante?

A resposta não é simples (se é que existe). Partimos de observações dos espaços escolares próximos, aqueles a que pertencemos, em que passamos anos de nossas vidas, em que nossas crianças estão participando nesse momento. Nas sociedades antigas a educação possuía um caráter prático ao presente imediato – necessidades básicas eram transmitidas a partir da participação progressiva da vida adulta. Embora não existisse “escola formalizada”, o ato educativo se fazia presente, ou, nas palavras de Gadotti, “a escola era a aldeia”. Na medida em que a instituição escola começa a se consolidar, vários significados foram sendo reproduzidos em diferentes contextos.

A história da educação passou por diversos momentos, com suas necessidades temporais, que fizeram as escolas irem se adaptando e se moldando para chegar à concepção que temos hoje. Nessa reflexão, é importante destacar um período da história: a Revolução Industrial. A arquitetura escolar acompanhou as transformações sociais e econômicas ocorridas durante esse período, com a necessidade de novos equipamentos sociais. Podemos citar dois traços mais característicos da organização pedagógica: um deles foi a concentração dos alunos numa mesma sala de aula, num espaço mútuo, onde as carteiras tinham disposição em filas paralelas; outro, a minuciosa regulação das atividades, que convertia cada grupo de crianças, com seus monitores à frente, em disciplinados pelotões que manobravam ao ouvir determinadas ordens de comando, como assobios, muxoxos, estalos de dedos ou palmas.

Se compararmos com nosso contexto atual, boa parte dos espaços escolares ainda reproduzem ambientes criados no período industrial. Naquela época, tal organização possuía um significado expressivo na configuração do ambiente escolar. Mas, passados quase três séculos, as necessidades mudaram. O mundo se transformou, e as instituições também. Mas a educação insiste em um modelo que não traz mais significado aos alunos. Precisamos proporcionar espaços escolares com significado para o mundo em que vivemos.

Muito se fala sobre o desenvolvimento de softskills. Mas como desenvolvê-las, se nossos espaços escolares não foram pensados para tal? É muito válido o debate levantado pelas metodologias ativas, pela nova configuração do espaço da sala de aula, da criação de Espaços Makers. Hoje, nossas crianças precisam vivenciar na escola o significado que buscam para entender o mundo no qual vivem e aquele as espera. Considerando que elas recebem diariamente milhares de estímulos audiovisuais, em diversos canais de comunicação, passar um longo período do dia sentadas, ouvindo e copiando textos, parece não ter muito sentido para o mundo em que vivemos.

Assim, falar sobre o design e o espaço escolar permite várias reflexões. A primeira delas é: qual o significado que um ambiente pensado para ser um lugar de troca de conhecimentos tem na vida do aluno? Quando essa provocação começa a ser compreendida, entendemos que o espaço escolar vai muito além de um elemento físico, pois rompe as barreiras dos muros das escolas. Desse modo, finalizamos esse texto com uma indagação que toca na essência do problema: qual design a escola busca para a vida de nossas crianças?

Everton Andreassa é professor de Ciências Humanas do Sistema Fiep, formado em Geografia e Filosofia, e colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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