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Após uma semana de debates sobre tecnologias na escola e formação de professores, resolvi retomar neste blog um assunto presente nos debates e que já foi explorado em 2005 por mim e a professora Ivonélia da Purificação, no artigo “Pescópia” no ciberespaço: uma questão de atitude (disponível na integra aqui).

A questão da cópia nos trabalhos de pesquisa nas escolas tem diversas denominações, mas eu e a professora Ivonélia batizamos esta questão como sendo a “Pescópia” e motivadas pelo seguinte diálogo numa escola de uma cidade qualquer, deste nosso país.

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Professor e coordenação conversando:

Prof. – Olha só! Não posso dar nota para um trabalho assim, ele (aluno) foi na biblioteca e copiou tudo. E me entregou desse jeito, sem colocar a opinião dele.
Coord. – Realmente isso não é pesquisa é “pescópia”! Pois em vez do aluno ir a biblioteca, ler, copiar o que acha relevante, refletir e sistematizar, ele simplesmente copia e entrega como se fosse uma pesquisa. Faz o que os monges medievais fizeram muito bem: cópia.

Esse diálogo comprova a preocupação do professor com a “pescópia”, anterior ao uso da internet na escola; ou seja, se copiava os textos das coleções da Barsa, ou da Mirador disponíveis em algumas bibliotecas em papel almaço pautado. Hoje, os alunos repetem e fazem a “pescópia” utilizando as ferramentas de pesquisa na internet. Isto é, os alunos simplesmente acessam a internet, copiam e colam num editor de texto uma dada informação, imprimem e entregam a seus professores como se tivessem realizado uma pesquisa.

Uma infraestrutura adequada para que professores e alunos tenham acesso aos meios tecnológicos para usufruírem deles no contexto educacional tem que ocorrer com certeza. Contudo, não se pode esquecer o fato de que, com a introdução destas novas tecnologias, novos conceitos e procedimentos necessitam ser adaptados de forma inovadora a uma nova realidade. O que não faz a professora do nosso exemplo a seguir ao afirmar: “Não aceito trabalho de pesquisa digitado. Só aceito manuscrito”. Essa é uma fala de uma professora do Ensino Fundamental, após ter tomado conhecimento de trabalhos plagiados na internet. Ela acredita que, limitando o aluno à sua ação de escrita para que utilize somente lápis ou caneta, está dificultando a possibilidade deste fazer uma “pescópia”. A professora não percebe que ele pode simplesmente imprimir alguma informação e passar a limpo no papel almaço. Ela, por não ter se apropriado do que é pesquisa e como levá-la à ação, não apresenta indicativos de ações inovadoras na sua ação pedagógica.

Eu e a professora Ivonélia sempre acreditamos que a ação pedagógica vinculada à atividade de pesquisa deve “passar” pela compreensão do que é pesquisa. Pois simplesmente receber o trabalho do aluno, ler e devolver não “cabe” mais para a educação do presente: isto não é inovar a ação pedagógica.

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Paro por aqui e agora me questiono: será que fiz “pescópia” do meu texto e da professora Ivonélia?

>> Glaucia Brito é professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e Educação (PPGE) da UFPR, pesquisadora em Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação.

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