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Com custo baixo de produção e circulação, os programas de áudio são cada vez mais utilizados por professores como recurso de aula.

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Os podcasts estão em alta entre os consumidores de mídias digitais. Apesar de existirem já há mais de uma década e meia no Brasil, foi nos últimos dois anos que eles ganharam um número maior de adeptos e se multiplicaram, com pautas e propostas variadas, que vão do humor à notícia, passando pela temática geek, pelas receitas gastronômicas e, é claro, pela educação.

Segundo levantamento do IBOPE, 40% dos internautas brasileiros, cerca de 50 milhões de pessoas, já ouviram algum programa produzido para podcasts, dentre os quais 75% por intermédio de seus smartphones e 43% em uma frequência que varia entre 1 a 3 vezes por semana. Atraídas pela versatilidade, flexibilidade e pelo baixo custo, as audiências também se sentem seduzidas pela promessa de experiências simultâneas. Neste sentido, podemos ouvir nossos áudios favoritos onde e como quisermos: no caminho de casa para o trabalho, na hora da academia, enquanto fazemos comida ou limpamos a casa, no chuveiro, durante as compras de supermercado, na fila do caixa, nos momentos de descanso, etc.

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Outro aspecto que favoreceu o crescimento do serviço foi o surgimento de plataformas gratuitas conhecidas como agregadores. Elas permitem aos produtores o armazenamento dos seus conteúdos, assim como aos usuários a seleção e organização dos arquivos que mais lhe interessam. Além disso, é possível realizar downloads dos arquivos, que dispensam a necessidade de conexão com à internet e ampliam as condições para que o usuário elabore grades de programação customizadas.

Tendo em vista as características tanto do processo de criação quanto de distribuição e de consumo dos podcasts, eles têm sido utilizados com frequência na mediação de experiências educativas. Há diversas opções disponíveis, inclusive em aplicativos como o Spotify, Deezer e SoundCloud, dentre os quais se destacam os conteúdos voltados ao ensino de línguas,  de história e física, além de episódios com dicas para a preparação para o Enem ou dos vestibulares.

Podcast na escola

O podcast pode ser um parceiro estratégico para a execução do currículo básico. Educadores de diversas disciplinas aproveitam as possibilidades do áudio para construir materiais didáticos, atividades complementares e, sobretudo, articular projetos multidisciplinares.

A linguagem radiofônica, no contexto escolar, é proveitosa em razão da sua facilidade de produção. Sem a necessidade de recursos sofisticados, as tecnologias facilitam a criação de pequenos programas para circulação na internet de forma rápida e barata. O mais importante é uma abordagem pedagógica que reconheça essa alternativa criativa e inovadora na sala de aula.

Alguns educadores, por exemplo, substituíram seminários e aulas expositivas por podcast. Neste caso, os estudantes pesquisam, elaboram roteiros, gravam e editam um programa sobre o tema da aula. Na sequência, compartilham na internet — seja no Whatsapp, seja em um grupo da turma no Facebook — o que foi feito. Para finalizar a atividade, o docente promove uma roda de conversa para que os estudantes possam analisar os conteúdos em áudio.

Pensar o podcast como recurso pedagógico é também uma oportunidade para trabalhar com a experiência da oralidade. Roteirizar um programa, preparar a gravação e a própria locução permitem que alunas e alunos desenvolvam uma habilidade fundamental para os dias atuais: a comunicação.

Outra característica presente no podcast é o exercício da escuta. No ambiente escolar, muitas vezes, há saturação de sons e competição de vozes. Compartilhar um podcast significa, neste sentido, aprimorar a escuta ativa para que os conteúdos sejam apreendidos por meio do “silêncio”. Com as redes sociais e um mundo altamente midiatizado, que é marcado pela sobreposição de experiências, pela gritaria e pela espetacularização do cotidiano, o estímulo a capacidade de ouvir se torna um elemento fundamental no ensino-aprendizagem.

A resistência em trabalhar com a mídia na educação está entre os principais desafios existentes, hoje, para a utilização mais efetiva e contínua dos podcasts na escola. A falta de informação sobre o funcionamento dos gravadores e editores de som geram desconfiança entre docentes, que ainda têm de lidar com as jornadas de trabalho extenuante e com a falta de tempo para planejar as aulas. 

Existem diversas possibilidades para superar receios, como cursos on-line, materiais de apoio gratuitos e mesmo podcasts especializados na formação de professores.

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Trabalhar com o áudio na educação pode ser um recurso valioso, uma vez que ele faz parte do cotidiano dos alunos e contribui na sua formação cultural, assim como os vídeos, memes e outras linguagens da internet. Apostar na experiência dos alunos e provocar habilidades em desuso em nossos dias, como a escuta, são caminhos necessários em tempos de intolerância e falta de interesse pelo próximo.

*Texto escrito por: Douglas Calixto, jornalista, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. A dissertação “Memes na Internet – entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e “zoeira” de estudantes nas redes sociais” rendeu o prêmio de melhor mestrado da ECA-USP em 2017 e o prêmio de melhor mestrado do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) em 2018. É atualmente supervisor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) e pesquisador do MECOM (Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas).

*Rogério Pelizzari, Doutor e mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA-USP. Jornalista e publicitário, atua há 20 anos com comunicação pública e desde 2010 é professor universitário. Pesquisador pelo Grupo de Mediações Educomunicativas (MECOM), desenvolve trabalhos voltados à cultura juvenil e, em especial, ao papel da música no processo de formação de estudantes da educação básica.

O MECOM colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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