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(Foto: Acervo)

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Maria Montessori tem como uma das pedras angulares de seu método a proposta do trabalho de vida prática. A criança, desde sua tenra idade é estimulada a agir sobre o meio, a atuar como protagonista de sua vida, a partir da interação com materiais concretos que oportunizam o desenvolvimento de movimentos por meio de atividades cotidianas.

Passando de relações efêmeras para vínculos duradouros

Nesta reflexão, gostaria de destacar um aspecto subliminar que o trabalho com a vida prática tem a possibilidade de desenvolver. Como afirma Zigmunt Baumann, vivemos um tempo de relações efêmeras, rápidas, descartáveis, onde cada pessoa tem como fim último a satisfação de seu desejo individual. O trabalho de vida prática, por meio de exercícios de gentileza e cortesia, por exemplo, desenvolve na criança a capacidade de olhar o próximo, de criar vínculos, de ser gentil e cordial, de sensibilizar-se. Esse exercício, ao longo do tempo, cria laços afetivos, constrói relações duradouras, resgata o divino no humano. Portanto, desenvolve na criança o senso de permanência, de certa estabilidade, em um mundo no qual vigoram as relações efêmeras e passageiras. O trabalho de vida prática cria a oportunidade de desenvolver relações duradouras. O ser humano, um ser social. Além disso, é importante lembrar que o ser humano é um ser gregário. Do início ao fim de sua vida, vive em comunidade, em relação com seus pares. Como afirma Leonardo Boff, “no princípio estava a comunhão dos Três e não a solidão do Uno”. Portanto, desenvolver nas crianças a possibilidade de estabelecer relações sociais pautadas na gentileza, no respeito mútuo, possibilita o resgate do que temos de mais humano: o cuidado, a amorosidade e a generosidade.

A Transcendência na imanência

Ainda nesse sentido, relacionado ao aspecto humano e Transcendente, J. B. Libanio nos aponta, metaforicamente, o ser humano é similar a uma casa de três andares. Em cada andar temos algumas janelas que precisam ser desenvolvidas. No primeiro andar estão os cinco sentidos, presentes não só nos humanos, mas também nos animais. Os sentidos percebem e absorvem as informações do mundo que nos cerca. É o que Montessori chama de “mente absorvente”. Nesse nível a criança age utilizando os sentidos que já têm disponíveis, com predomínio dos aspectos fisiológicos.

Porém, cabe ao processo de educação, fazer com que a criança evolua, desenvolvendo o segundo andar da casa, onde estão os aspectos exclusivamente humanos, aprendidos. Aqui se desenvolve a ética (o bem), a filosofia (a verdade), a estética (a beleza), a religião (o sentido), aspectos específicos da imanência. Por fim, é o terceiro andar, com a janela do amor, responsável por fazer a ligação da Transcendência com nossa imanência. Todo ato que vem permeado pelo amor, nos lembra a presença do Divino em nosso ser e o nosso elo de ligação com o Criador e com o próximo.

Método Montessori, possibilidade de formar cidadãos conscientes

Portanto, trabalhar com exercícios de vida prática, que vão desde o aparentemente simples exercício de versar líquidos até o desenvolvimento de atitudes de graça e cortesia, cria a possibilidade de a criança imergir plenamente na atividade, desenvolvendo a concentração, o silêncio interior e o controle motor. O que é premente no mundo atual, tão cheio de conflitos, intolerância e violência? Certamente o planeta pede a presença de pessoas conscientes, capazes de perceber o próximo como uma alteridade, que merece ser respeitada, a partir de suas características específicas e singulares. O que os exercícios de vida prática e a proposta montessoriana propõem senão o desenvolvimento de pessoas conscientes, responsáveis e, acima de tudo, seres de cuidado consigo, com o próximo e com o ambiente? Sim, é nessa perspectiva que Montessori percebe cada criança como uma verdadeira alteridade e seu método como um meio para desenvolver pessoas que transformam o tempo cronológico (crónos) em um tempo vivido na sua plenitude (kairós).

*Artigo escrito por Juliana Boff Aramayo Cruz, coordenadora pedagógica do Colégio Sion em Curitiba. O Sion colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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