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70 por um, 39 por um, 28 por um, sempre um monte por um. Fica escancarada a falência da política pública de atender aos jovens brasileiros com vagas no ensino superior. Mas não é isso que passa, nesse momento, na cabeça dos mais de 40 mil jovens que farão a prova. O que passa é o misto do sonho e do pesadelo: passar e dar um passo para a próxima etapa da vida ou ficar estacionado no limbo, no purgatório do cursinho.

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Triste sina: em um país que se convencionou dizer que jovem é alienado, milhares deles se acotovelam nos estreitos corredores e criam limo nas desconfortáveis carteiras dos cursinhos assistindo às últimas orientações e dicas para a prova fantasma que ocorre no ..domingo, aquele do descanso e do convívio familiar. Aliás, não escapou feriado algum. No dia dos mortos, mortos de cansaço após 14 aulas de revisão. Sim, os “alienados”, os “folgados”, os que “não querem nada com a vida”.

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Estudam sem saber exatamente para que serve o que estudam: futuros advogados afogando-se em fórmulas de matemática e reduções de química; futuros médicos guardando a sequência dos presidentes da república velha; futuros administradores tentando lembrar o significado do xilema ou a função da mitocôndria. Mas estudam, perguntam, anotam, exercitam e vão às revisões e aprofundamentos, sem questionar, sem indagar por que diabos as universidades com seus garbosos professores doutores não fazem uma prova de acesso mais inteligente e adequada, mais direcionada e consequente. Talvez porque o mais fácil é dizer que os jovens são alienados e não querem nada com a cultura e o conhecimento de verdade. Ora, ora, ora.

Mais um vestibular da UFPR, depois de fins de semana com vestibulares em sequência, como um calendário de fórmula um, ou uma sequência de maratonas quase que sem descanso.

E onde estão os estudantes, esses “jovens sem futuro?”. Ouvindo, anotando, exercitando, agarrando com mãos tensas e úmidas a esperança de futuro que sabem que terão de arrancar ao descaso e indiferença dos adultos para que se tornem, eles também, adultos bem sucedidos.

Ah, tomara que sejam melhores do que nós.