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Entrelinhas

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Entrevista

Salles quer Senado, mas cogita governo de SP: “Depende de Tarcísio”

(Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.)

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Em meio a movimentações políticas que já esquentam os bastidores para as eleições de 2026, o deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP) se posiciona como um dos nomes mais atentos ao cenário nacional e à disputa por cargos majoritários em São Paulo. Ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Jair Bolsonaro e um dos parlamentares mais votados do país em 2022, Salles anunciou sua intenção de concorrer ao Senado, mas admite que pode avaliar disputar o governo paulista caso o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, entre na corrida presidencial. A entrevista a seguir aprofunda suas avaliações sobre o cenário político, as tensões institucionais e as pautas prioritárias da oposição.

Na conversa, Salles critica a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), comenta o pedido de prisão da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e defende a instalação de novas CPIs para investigar irregularidades no atual governo. Ele também discute temas como liberdade de expressão, o uso da Lei Magnitsky por parte dos Estados Unidos e a necessidade de maior representatividade política para estados mais populosos, como São Paulo. O deputado não poupa palavras ao apontar o que considera distorções institucionais e desequilíbrios no modelo de representação nacional.

Entrelinhas: Deputado, sabemos que há uma grande articulação em todos os estados para as cadeiras de senadores nas eleições de 2026. No estado de São Paulo, há o seu nome, o do atual secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, e de Eduardo Bolsonaro. Para qual cargo será sua candidatura?

Salles: Minha intenção é concorrer ao Senado. Fui secretário de estado aqui em São Paulo mais de uma vez, conheço bem o estado, fui o quinto deputado mais votado do Brasil, tive 640 mil votos, fui ministro com muito orgulho do governo do presidente Bolsonaro. Minha decisão, então, é de concorrer ao Senado, com todo respeito aos nomes do Eduardo e do Derrite, que eu prezo muito. Acho que nós temos que fazer uma composição para que dois dos três nomes avancem. Penso que São Paulo precisa ter uma melhor representação. Dos três senadores, o único que atua em favor do estado, de maneira evidente e franca, é o Marcos Pontes. Se, infelizmente, o Bolsonaro não puder concorrer e, dependendo de Tarcísio ser o candidato ao Planalto, aí sim eu considero concorrer ao Governo do Estado.

Entrelinhas: Como o senhor vê a representação de São Paulo no Legislativo?

Salles: É um erro estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, enfim, os estados do sul, do sudeste e do centro-oeste terem sub-representação e os do norte e nordeste, que são pequenos, com pequena população, terem a mesma proporção de três senadores por estado.

Entrelinhas: O senhor se opôs também ao aumento do número de deputados na Câmara. Poderia nos detalhar sua posição?

Salles: Acho que já tem deputado demais. Dos 513, o pessoal ainda quer aumentar para 531 e, pior do que isso, os estados com maior população, e que deveriam ter mais representatividade, continuam tendo sub-representatividade nesse novo modelo proposto.

Entrelinhas: O governo Lula está com uma desaprovação histórica de 57% e o escândalo do roubo dos aposentados é apontado como um dos principais influenciadores dessa queda na popularidade do presidente. Como fica a CPMI do INSS?

Salles: Acho que a CPMI do INSS é inexorável. O escândalo é tão absurdo, tão ofensivo à moral brasileira. Tirar dinheiro de velhinhos e velhinhas aposentados é uma coisa tão baixa, tão repugnante até para os padrões petistas, que eu acho que é impossível segurar a CPMI. Mas não adianta colocar de relator e presidente dois membros da base do governo. Aí é pedir para o lobo tomar conta do galinheiro. A nossa bancada terá a representação que a proporcionalidade permitir. Mas, independentemente de suplência ou titularidade, nós estaremos lá participando, fiscalizando e cobrando.

Entrelinhas: Haverá pressão popular, tendo em vista a proximidade das eleições, para que o Projeto de Lei da Anistia, que está engavetado na Câmara, seja pautado?

Salles: O PL da Anistia já deveria ter sido pautado e o presidente Hugo Motta prometeu que pautaria. Esse é um assunto relevantíssimo para o país, pelo nível de insegurança e de injustiça que ele gera. A gente sempre cita o caso da cabelereira Débora, que foi condenada a 14 anos por escrever numa estátua com batom. Isso é depredação, deveria dar apenas três meses de trabalho comunitário e pagamento de cesta básica. Não se coloca uma pessoa 14 anos na cadeia enquanto verdadeiros criminosos estão soltos.

Entrelinhas: Como o senhor analisa o pedido de prisão da deputada Carla Zambelli (PL-SP), eleita com quase 1 milhão de votos em 2022?

Salles: A Zambelli foi a deputada mais votada aqui do PL em São Paulo. A segunda deputada mais votada do Estado de São Paulo. A terceira deputada mais votada do Brasil. Ou seja, tem um grande peso de representatividade. Acho que o primeiro ponto dessa conversa é lembrar que qualquer parlamentar, qualquer mandatário, representa a voz de todos os milhares de eleitores que confiaram nele. No caso da Carla, ela teve 940 mil votos. Ela representa, no mínimo, 940 mil pessoas. Então, é preciso ter muito cuidado ao impor restrições de qualquer natureza a quem tem mandato legislativo ou função eleita, porque você não está tolhendo uma pessoa física, você está tolhendo alguém que fala por milhares de brasileiros.

Entrelinhas: O fato de a decisão judicial afetar pessoas próximas à parlamentar, como mãe e filho, demonstram uma perseguição política?

Salles: É muito grave, porque um dos princípios do direito penal é que a pena imposta a quem quer que seja não pode atingir terceiros. Terceiros estão fora do processo, terceiros não se defenderam, terceiros não têm acusação sobre eles. Se você não quer que o assunto seja discutido por ninguém, vai caminhar inexoravelmente para a censura das redes e o fechamento das redes sociais, o que é completamente inadmissível, sobretudo num país que se afirma ser um Estado Democrático de Direito.

Entrelinhas: Como o senhor avalia a postura do STF ao querer legislar sobre a regulação das redes, que seria atribuição do Congresso, usando o pretexto de que a Câmara e o Senado não querem pautar esse conteúdo?

Salles: O não legislar é uma escolha do Legislativo também. Não cabe decisão judicial sobre isso. O parlamento não está legislando porque não quer legislar. E é absolutamente legítimo e lícito não legislar. Em nenhum momento a Constituição outorgou a terceiros a função de legislar. Legislar é para quem é legislador. E por que você tem legitimidade para fazer isso? Porque você chegou lá através do voto. O Judiciário não tem voto. É uma missão importante, mas não lhes outorga o direito de formular política pública. Eles têm que se limitar a dizer da legalidade ou da ilegalidade, da constitucionalidade ou da inconstitucionalidade.

Entrelinhas: Como o senhor enxerga as alegações de que uma possível aplicação da Lei Magnitsky, nos Estados Unidos, contra autoridades brasileiras, poderia ferir a soberania do Brasil?

Salles: A lei americana é feita para a jurisdição americana das empresas que querem se relacionar com os Estados Unidos. É simples: quem não concorda com o termo de uma lei americana, não se relacione com os Estados Unidos e com empresas americanas. Enquanto você utilizar o modelo americano, não tem muito o que concordar ou deixar de concordar. Eles têm essa soberania. Então, se o governo americano circunscrever essa decisão, a coisas que interagem com o sistema americano — seja banco, internet, visto, seja o que for —, eles têm liberdade para atuar.

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