Villa Lobos ao violão| Foto:
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Seguindo os passos da OSESP a excelente Orquestra Filarmônica de Minas Gerais iniciou sua carreira discográfica internacional junto ao selo NAXOS. Este selo, que revolucionou o mercado discográfico há 30 anos, apresentando artistas novos e um repertório inédito, tem se revelado nos últimos anos um selo sobre o qual reina um certo descrédito. Se, por um lado, NAXOS dá sequência a projetos importantes como por exemplo a integral das Sinfonias de Villa-Lobos com a OSESP e os Quartetos de Hindemith com o Quarteto Amar, tem abrigado também artistas de capacidade duvidosa que tenham um bom patrocínio por trás. Dois grandes instrumentistas brasileiros, que já atuaram com o selo NAXOS, me confidenciaram que a gravadora atualmente não se importa em receber tudo prontinho e empresta seu nome para o lançamento do CD, ficando com o eventual lucro, não pagando nada para os artistas. Só isso para se explicar a atuação de um violonista bem mediano como o italiano Andrea Bissoli, “estrela” de uma série de dois CDs da gravadora: “Villa-Lobos: os manuscritos para violão”. O violonista completa obras bem desinteressantes de um Villa-Lobos ainda adolescente, executa transcrições de Pujol, e apesar do subtítulo da série falar de “obras desconhecidas” executa, de forma sofrível, a famosa Aria das Bachianas brasileiras Nº 5 junto a uma cantora italiana (Lia Serafini) que canta num idioma ininteligível. O violonista executa também, de forma escolar e metronômica o” Sexteto Místico”, com um grupo italiano chamado Ensemble Musagete. As coisas melhoram um pouco nas obras para violão e orquestra, não pelo solista que toca tudo “certinho” e de forma aborrecida, e sim pela excelente Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Fico imaginando este acompanhamento orquestral, de nível internacional, junto a violonistas como Fabio Zanon, Edelton Gloeden, Paulo Porto Alegre, Paulo Pedrassoli e muitos outros. Estas execuções do “Concerto para violão” e da “Introdução aos Choros” passam desapercebidas frente aos registros antológicos de Zanon e OSESP (Introdução aos Choros) e Timo Korhonen e Sakari Oramo (Concerto).

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O nível é completamente outro (muito mais alto) quando ouvimos a única faixa dos dois Cds sem violão. Apesar do título falar de “manuscritos para violão”, no segundo volume há uma excelente versão do “Choros Nº6”, uma das composições orquestrais mais importantes de Villa-Lobos. Ignorando o título da série, por quase meia hora temos um registro sinfônico que faz justiça a esta obra prima. Não me sinto muito à vontade de comentar o trabalho de um colega (o maestro Fabio Mechetti), mas esta maravilhosa versão merecia estar fora desta série. Cumpre dizer que há outra maravilha nestes Cds: a atuação (infelizmente em uma única faixa) da brasileira Gabriela Pace na “Canção de amor” de “A floresta do Amazonas”. Voz linda e dicção maravilhosa.
Esta série, por razões óbvias, passou desapercebida da grande imprensa internacional especializada em música clássica. Nem a Diapason, nem a BBC Music ou a Gramophone comentaram a série. Uma pena. Quem sabe a Filarmônica de Minas Gerais um dia inclui essa linda gravação do “Choros Nº 6” num CD só com obras orquestrais de Villa-Lobos. Esta lapidar leitura merece. Voce pode baixar estes Cds no iTunes ou no site classicsonline.com (U$ 7,99) ou comprar no site www.arlequim.com.br (R$ 48,00 cada disco, uma exploração, já que no site Amazon.com está por volta de U$ 4 ).