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O Anel do Nibelungo encenado de 1976 a 1980 em Bayreuth: montagem histórica
O Anel do Nibelungo encenado de 1976 a 1980 em Bayreuth: montagem histórica| Foto:
Patrice Chéreau

Patrice Chéreau

Faleceu ontem, aos 68 anos em Paris, o cineasta e encenador de óperas Patrice Chéreau. Seus filmes mais famosos foram “Rainha Margot”, que ganhou o premio do júri do Festival de Cannes em 1994, “Intimidade”, que ganhou o grande prêmio do festival de Berlim em 2002 e “Seu irmão” de 2003. Para os amantes da ópera seu nome permanece ligado a algumas das mais importantes produções do gênero no mundo. Sua releitura de “O anel do nibelungo” de Richard Wagner em 1976 no Festival de Bayreuth, que continua em catálogo (DVD) na filmagem feita no último ano em que foi apresentada (1980), representou um passo decisivo nas encenações operísticas. Quem assiste esta montagem não tem a impressão que está vendo as corriqueiras movimentações de cantores limitados em termos cênicos. Sua incrível energia e técnica fazem dos cantores verdadeiros atores de teatro. Outra encenação que marcou época foi a realizada na Ópera de Paris de “Lulu” de Alban Berg em 1979. Estas duas excelentes montagens aconteceram através do sábio convite do maestro e compositor francês Pierre Boulez, com quem montou também, para o Festival de Aix em Provence, a última ópera de Leos Janáček “Da casa dos Mortos”, também em catálogo em DVD. Outros trabalhos marcantes do encenador, que continuam disponíveis em DVD, foram o “Wozzeck” de Alban Berg gravado na ópera estatal de Berlim e “Tristão e Isolda” de Richard Wagner no teatro La Scalla de Milão.

O Anel do Nibelungo encenado de 1976 a 1980 em Bayreuth: montagem histórica

O Anel do Nibelungo encenado de 1976 a 1980 em Bayreuth: montagem histórica

Seu último grande triunfo aconteceu no último mês de julho, no festival de Aix em Provence, com a excepcional montagem de “Elektra” de Richard Strauss.
Chéreau revolucionou a encenação operística nunca modificando o enredo, mas inovando de forma íntegra certas convenções inaceitáveis. Dá para perceber em suas montagens que ele não era um homem ligado à tradição operística. Palavras dele: “Você tem que ter nervos de aço. Ópera consiste em obras do passado para uma plateia que eu particularmente não aprecio. Encenar óperas se assemelha a dar nova vida aos mortos”. Realmente Chéreau deu nova vida à leitura dos grandes clássicos operísticos. Uma inevitável referência.

Um fato marcante

Para concluir e perceber a capacidade do diretor vou narrar algo que aconteceu em 20 de agosto de 1977 durante o Festival de Bayreuth. O tenor René Kollo, que cantava o papel de Siegfried na ópera homônima de Wagner, quebrou o pé no intervalo do segundo para o terceiro ato. Na emergência Kollo cantou sentado ao lado do palco, e Chéreau fez a parte cênica enquanto o tenor o “dublava”. Inúmeras testemunhas comprovaram que o encenador conhecia todo o texto de memória. Lembro que o terceiro ato de Siegfried tem uma hora e meia. Sua capacidade técnica, demonstrada nesta emergência, calou a boca de diversos detratores. Enfim, Chéreau sabia muito bem o que fazia. Vai deixar saudades!

Trechos das montagens de Chéreau encontráveis no Youtube

Trecho de sua última montagem “Elektra” de Richard Strauss no Festival de Aix en Provence no último mês de julho. Cena de Elektra e sua mãe Klitminestra. Waltraud Meier, intérprete genial de Klitminestra foi das cantoras favoritas do grande encenador.

Momento sublime da montagen de “A Valquíria” de Wagner. Festival de Bayreuth, 1980. Dois cantores afinadíssimos com o “regisseur”: Peter Hofmann e Gwyneth Jones

Sublime final de “Tristão e Isolda” de Wagner em Milão. Concepção genial, e genial realização de Watraud Meier.

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