Luiz Heitor, grande musicólogo e jornalista| Foto:

 

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Depois de mais de 60 anos a Biblioteca Nacional reedita uma das obras essenciais sobre a história da música brasileira: “150 anos de música no Brasil (1800-1950) ” de Luiz Heitor Correa de Azevedo. Mais conhecido apenas como Luiz Heitor, este musicólogo e jornalista, que nasceu em 1905 no Rio de Janeiro e faleceu em Paris em 1992, legou diversos escritos sobre a arte musical brasileira, mas este livro sempre foi visto como seu trabalho mais importante. O livro, agora reeditado, foi publicado originalmente em 1956 na Coleção Documentos Brasileiros pela editora José Olympio, e desde então acabou se tornando cada vez mais uma raridade. Sem ser tão abrangente como o livro de Vasco Mariz “História da música no Brasil” (Nova Fronteira, já esgotado) o livro de Luiz Heitor é surpreendentemente referencial, especialmente no que tange compositores que tiveram contato pessoal com ele como Villa-Lobos, Francisco Braga, Camargo Guarnieri e Francisco Mignone. Este livro, escrito no início dos anos 1950, permanece quase que como um resumo de despedida do autor, já que Luiz Heitor, assumindo cargos na UNESCO, passou a viver fora do país até sua morte. Mas mesmo distante de sua pátria Luiz Heitor continuou a divulgar mundialmente a arte musical brasileira, tanto de compositores como de intérpretes. Vale ressaltar que esta reedição só aconteceu pelo esforço do compositor carioca Ricardo Tacuchian, que assina um valioso prefácio a esta segunda edição.

Informações valiosas

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Apesar do título deixar claro que o livro trata da música feita no Brasil entre 1800 e 1950 as informações contidas no primeiro capítulo (Antecedentes), que trata da música brasileira nos séculos XVII e XVIII, são preciosíssimas. Com justiça o livro começa de forma mais detalhada pela atuação do primeiro gênio musical brasileiro, o Padre José Maurício (1767-1830). Abundam riquíssimas informações sobre o romantismo musical brasileiro (Carlos Gomes, Francisco Manuel da Silva) e particularidades muito especiais sobre a música no início da República (Miguez, Nepomuceno). Quando o livro foi escrito ainda estavam vivos Villa-Lobos, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri, e as informações sobre eles revelam quase que um retrato vivo. Este mesmo olhar testemunhal que transparece também em informações acuradas sobre a atuação de Hans-Joachim Koellreuter (1915-2005) e sua introdução do serialismo no país. Por outro lado, certas informações revelam que a implacável história tornou certos nomes valorizados por Luiz Heitor em ilustres desconhecidos nos dias de hoje. É o caso do Maranhense João Nunes, do gaúcho Luís Cosme ou do paraibano Abdon Milanez. Mesmo certos ícones apontados como gênios incontestáveis como Francisco Braga (1868-1945) e Leopoldo Miguez (1850-1902) perderam o brilho que tinham quando o livro foi escrito.

Villa-Lobos: curiosidades

No longo capítulo dedicado a Villa-Lobos (Villa-Lobos e a descoberta do Brasil), nos deparamos com um dos pontos altos mas também discutíveis deste trabalho. Diversas informações de cunho pessoal que foram passadas diretamente pelo compositor, no entanto, revelam uma certa credulidade do musicólogo.  Ele descreve, por exemplo, um Choros (o de Nº 13 ou 14) cuja existência sempre foi questionada. Fala de um concerto para piano e orquestra que Villa-Lobos teria escrito baseado em temas de Ernesto Nazareth (que eu saiba a única referência a Nazareth de Villa-Lobos é seu Choros Nº 1 para violão), que ao que parece não existe. Mas, ao mesmo tempo, demonstra uma riqueza de informações  como quando ele fala de uma obra altamente experimental de Villa-Lobos, e que é completamente desconhecida no Brasil: “Suíte sugestiva”, uma partitura que exige até a presença de três metrônomos em meio aos instrumentos.  Não há dúvida: mesmo com estas aparentes (e poucas) inexatidões, o livro de Luiz Heitor é obrigatório para quem quer ter uma mais apurada visão da história da música brasileira.

 

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Serviço: “150 anos de música no Brasil (1800-1950)” de Luiz Heitor. Prefácio de Ricardo Tacuchian. Editora da Biblioteca Nacional. Encontrável na Livraria da Travessa (www.travessa.com.br) por R$ 36,00 (um décimo do que é pedido nos sebos que ainda possuem a primeira edição).