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Fernando Jasper

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2026 já começou: após quatro medidas para agradar eleitor, governo promete luz “de graça”

Lula e o ministro Alexandre Silveira: governo promete conta de luz gratuita para 4,5 milhões de famílias.
Lula e o ministro Alexandre Silveira: governo promete conta de luz gratuita para 4,5 milhões de famílias. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Irritado com o que aliados decidiram chamar de "falhas de comunicação", o presidente Lula deu a seguinte ordem na primeira reunião ministerial do ano, em 20 de janeiro: "Daqui pra frente, a gente não pode mais inventar nada. Daqui pra frente temos que colher tudo aquilo que semeamos".

Algo mudou desde então. Num intervalo de 47 dias, entre 28 de fevereiro e 16 de abril, o governo formalizou quatro medidas para estimular o consumo. Uma quinta iniciativa está a caminho: energia elétrica "de graça".

Os anúncios surgiram em meio à queda da popularidade e da intenção de voto no petista, ao mesmo tempo em que a inflação dos alimentos ganhava espaço em manchetes e discursos do próprio Lula.

As invenções dos últimos meses despejam bilhões de reais na praça e, portanto, podem dar novo gás à inflação. Como o IPCA já está um ponto porcentual acima do teto da meta, o Banco Central tem motivos para manter lá em cima a taxa básica de juros, sua principal ferramenta no combate à alta de preços. A Selic chegou a 14,25% ao ano, maior nível desde o governo Dilma, e pode subir mais um pouco, segundo o próprio BC.

Mas, como Lula disse naquela mesma reunião, "a eleição do ano que vem já começou". E por isso ele parece dar mais atenção a outros números, divulgados por sua equipe de comunicação.

Um deles: 12 milhões de trabalhadores poderão sacar seu saldo do FGTS, graças a uma medida provisória que o presidente assinou em 28 de fevereiro.

Outro: 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada (CLT) e MEIs passaram a ter direito a empréstimo consignado, com desconto em folha, conforme medida provisória assinada em 12 de março.

Mais um: 10 milhões de declarantes deixarão de pagar Imposto de Renda a partir de 2026, caso o Congresso aprove projeto de lei entregue pelo governo em 18 de março.

E ainda: 120 mil famílias podem ser beneficiadas em 2025 pela nova faixa do Minha Casa, Minha Vida, voltada à classe média. A modalidade foi autorizada pelo conselho do FGTS em 16 de abril.

Tanta bondade tem seus poréns. Um que ficou famoso nas redes é o custo do que a ministra Gleisi Hoffmann batizou de "empréstimo do Lula" (olha 2026 aí). Em alguns casos, a taxa de juros passa de 3% ao mês. Menos que a cobrada no crédito pessoal, mas muito mais do que o FGTS – a garantia do financiamento – paga ao ano para o trabalhador.

Nova promessa do governo Lula, conta de luz gratuita não sairá de graça

Também não sairá de graça a nova invenção do governo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, está prometendo conta de luz gratuita para milhões de pessoas. A generosidade, que ele decidiu incluir numa reforma gestada desde o primeiro ano de governo, será bancada por outros milhões.

Hoje a Tarifa Social concede descontos que vão de 10% a 65%. O benefício é válido para quem consome até 220 kWh ao mês e custa R$ 6,5 bilhões ao ano.

Silveira quer reduzir a zero a fatura de quem consome até 80 kWh por mês e se enquadre em outros critérios (famílias inscritas no CadÚnico com renda per capita de até meio salário mínimo, beneficiários do BPC, indígenas, quilombolas).

Pelos cálculos do governo, 4,5 milhões de famílias não precisarão pagar pela energia, e as que consumirem mais que 80 kWh – umas 12,5 milhões – pagarão só o excedente.

Também há promessa de desconto estimado em 12% para famílias do CadÚnico com renda per capita de meio a um salário mínimo, desde que consumam até 120 kWh. Nesse caso, seriam favorecidos 21 milhões de famílias.

No conjunto, as novidades aumentam o custo da Tarifa Social em R$ 4,5 bilhões por ano. Quem vai pagar? Todos os demais consumidores. A tarifa média do mercado regulado deve subir perto de 1,4%.

O ministro diz que esse aumento será compensado aos poucos, à medida que o governo eliminar subsídios para fontes incentivadas, como a energia solar e a eólica. Ou seja: o custo será imediato e o suposto alívio, no longo prazo.

Repetindo o que fez na proposta de isenção de Imposto de Renda, o governo diz estar corrigindo injustiças e distorções. Novamente, em vez de diluir o benefício entre todos, preferiu concentrá-lo no público mais numeroso. Afinal, "2026 já começou".

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