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Fernando Jasper

Fernando Jasper

Por Brasil acima de todos, governo Lula põe o país de ponta-cabeça

O mapa-múndi invertido preparado pelo IBGE e divulgado por seu presidente, Marcio Pochmann: Brasil "quase" acima de todos.
O mapa-múndi invertido preparado pelo IBGE e divulgado por seu presidente, Marcio Pochmann: Brasil "quase" acima de todos. (Foto: Reprodução/IBGE)

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Aposentados e pensionistas sofreram roubo bilionário, causado por negligência, omissão e possível cumplicidade de quem deveria zelar pelo dinheiro alheio. O governo tenta empurrar a culpa para gestões passadas, certo de que um erro justifica o outro e de que liberar descontos de R$ 4 bilhões em dois anos – após todo tipo de alerta – seja coisa à toa. Na esperança de conter o esvaziamento da base, Lula mantém a Previdência nas mãos do mesmo grupo que permitiu o descalabro. É esse o resumo. Mas talvez haja uma saída, um caminho, um… mapa.

Sim. Um mapa capaz de redimir incompetências e frustrações. Que coloque o Brasil no centro do mundo. Acima de todos.

O governo fez um. Bastou virar o país de ponta-cabeça.

A novidade foi anunciada pelo presidente do IBGE, Marcio Pochmann. O mapa-múndi invertido, como ele esclareceu, tem o sul na parte superior. O motivo? "Ressaltar a posição atual de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais", como o Brics e o Mercosul, e na realização da COP30.

Trata-se de obra do IBGE, o que significa que tempo e recursos públicos foram investidos na produção. Bem poucos, supomos. De todo modo, o comunicado de Pochmann – numa hora dessas e em meio à crise que o instituto atravessa, na qual ele é personagem central – nos ajuda a mapear o que o governo considera digno de divulgação.

(No dia em que a Polícia Federal deflagrou a Operação Sem Desconto, um especialista em Direito Previdenciário questionou por que o governo, que gasta bilhões com propaganda, jamais fez campanha para orientar aposentados e pensionistas a checar seus holerites e denunciar fraudes.)

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O mapa invertido não é exatamente uma inovação. Décadas atrás, surgiu na Austrália uma versão batizada de "No Longer Down Under" ("Não Mais Lá Embaixo"), em referência ao apelido desdenhoso que os britânicos reservavam às porções mais ao sul de seu império. Entusiastas do "sul global" também costumam defender a inversão.

Do ponto de vista técnico, não há erro em, digamos, virar o mundo de ponta-cabeça. Colocar o norte no topo não foi uma escolha científica, mas histórica, cultural e política. Na época das grandes navegações, os cartógrafos europeus decidiram posicionar seu continente lá em cima, e assim foi. Antes disso, eram comuns mapas com o leste no topo, orientados para o sol nascente, associados à suposta localização do Jardim do Éden e à simbologia da luz e da salvação.

Assim, pôr o sul no alto não é uma ofensa à ciência, à verdade ou coisa assim. A questão é: o que ganhamos? Será que agora o de baixo sobe e o de cima desce?

Como sempre, nos resta a graça. Logo repararam que, mesmo no mapa invertido, o Brasil fica "abaixo" de África do Sul, Austrália, Uruguai, Chile e do nosso maior vizinho. No X, perguntaram a Pochmann: "Mas Marcio, quem tá no topo é a Argentina e o Milei. Você consegue corrigir isso?"

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