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Foto: Evaristo Sá/AFP
Foto: Evaristo Sá/AFP| Foto:

Algumas lideranças da indústria vêm renovando os sinais de admiração pelo capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL), o antigo estatista-desenvolvimentista que agora se diz liberal ao mesmo tempo em que admite não entender de economia.

Robson Braga de Andrade, da CNI, deu entrevista à “Folha de S.Paulo” elogiando o militar da reserva, que por sinal foi o mais aplaudido – principalmente ao dizer que não precisa entender de economia – em evento promovido pela confederação semanas atrás. Andrade não elaborou muito ao explicar o apreço pelo pré-candidato. Disse coisas como “queremos um presidente que faça o Brasil se desenvolver” e “que tenha firmeza e autoridade, mas também responsabilidade”.

Bolsonaro pode até não saber o que está fazendo quando trata de economia. Mas a indústria sabe.

Quando uma coisa parece boa para os velhos barões da indústria nacional, fique atento. É grande a chance de que não seja boa para o consumidor, o contribuinte, o conjunto da economia.

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Os barões só pedem menos Estado – uma das bandeiras do economista liberal Paulo Guedes, conselheiro de Bolsonaro – quando se trata de reduzir a carga tributária e de privatizar estatais. Demandas que não são exclusivas da indústria, aliás.

De resto, os barões gostam do Estado. E procuram estar perto dele.

Porque, embora reclamem com razão do descalabro das contas públicas, os barões não admitem que o governo reveja nem parte das renúncias fiscais que sugam dos cofres públicos o equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), ou um quinto da arrecadação.

Ao contrário. Estão sempre a pedir mais desonerações, que nada mais são que transferência de renda do conjunto da sociedade para um grupo de escolhidos. Até os executivos das multinacionais já pegaram a manha. Basta ver as montadoras, que chegaram ao Brasil desde os anos 1950 e ainda se comportam como “indústria nascente”.

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Os barões se aproximam do Estado porque gostam de crédito do BNDES a juros negativos, bancados pelo contribuinte. Outra transferência de renda de baixo para cima. Não por acaso, chegam a sentir simpatia por Ciro Gomes (PDT) quando ele fala em resgatar a taxa de juros TJLP (mais subsidiada) e aposentar a recém-implantada TLP (menos subsidiada).

Os barões frequentam os corredores de Brasília porque gostam de barreiras contra a importação e câmbio desvalorizado. Assim, o produto importado fica mais caro e, com menos concorrência, o produtor nacional pode reajustar seus preços, mesmo que nem sempre entregue a mesma qualidade. Mais dinheiro rumando do consumidor para o empresário.

Note que as preferências econômicas do baronato são muito semelhantes à de boa parte da esquerda. Não custa lembrar que o crédito subsidiado e as desonerações, que juntos consomem centenas de bilhões de reais todos os anos, deram um salto nos governos petistas – e, salvo engano, nem por isso nossa indústria alcançou o estado da arte.

Os barões estão certos em lutar contra o “custo Brasil”. O problema está na forma. Ao insistir nessa atuação de varejinho, cavando benesses aqui e ali na lógica da “farinha pouca, meu pirão primeiro”, só ajudam a ampliar distorções que há muito são a tônica da economia brasileira.

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