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Não se ofenda. Não é nada pessoal. O “você” é uma provocação, reconheço. Um recurso para chamar a atenção. E o título nem mesmo é meu. Um pequeno plágio; emprestei-o de um best-seller de David McRaney que tem esse nome e que trata do tema que vou abordar (aliás, vale a pena ler o livro; recomendo).

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A verdade é que nós não somos tão espertos quanto pensamos. Eu me incluo nessa. Afinal, sou humano como todos os que leem essas mal traçadas linhas. O ponto é que nossa mente costuma nos pregar peças, por mais racionais que achamos ser. E não sou eu que digo isso. Mas a ciência.

Nosso cérebro, enfim, pode nos levar a grandes enrascadas. E acredito que nós, brasileiros, estejamos entrando num pântano de autoengano. De forma perigosa. Aos poucos chego nisso.

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Uma das armadilhas de nossas mentes é chamada de “efeito espectador” ou “apatia do espectador”. Que, por sua vez, ocorre em função de um fenômeno intitulado “difusão de responsabilidade”: quanto mais pessoas estão num mesmo ambiente, paradoxalmente menor é a chance de alguém se sentir responsável por evitar algo de ruim que acontece ou pode acontecer ao grupo ou a alguém. Isso ocorre porque cada pessoa imagina que outra vai tomar a frente, assumir a responsabilidade e fazer o que é correto. E, no fim, ninguém faz nada. Todos ficam apáticos.

Estudos de psicologia comprovaram esse comportamento, que é comum quando vemos alguém que precisa de ajuda. Parece que não. Mas os cientistas asseguram: se uma pessoa estiver sendo agredida na rua, por exemplo, é mais provável que você e eu façamos algo para impedir se estivermos sozinhos do que se houver mais pessoas junto de nós. “Alguém, que não sou eu, vai ajudar”: não é o que pensamos nesses casos?

Há estudiosos que veem o efeito espectador como uma das causas da facilidade com que práticas autoritárias se espalham pelas nações. Abusos são cometidos e ninguém faz nada porque acha que outros vão protestar e se opor.

Aliás, a autoridade – e há uma relação entre ela e o autoritarismo – costuma provocar outras cegueiras mentais.

O “argumento da autoridade” é uma delas. Temos a tendência a acreditar muito mais na palavra de uma pessoa que tem o status de autoridade sobre determinado assunto – mesmo que fale sobre temas que nada têm a ver com sua área de conhecimento. E muitas vezes o que ela diz é uma grande bobagem.

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A submissão (burra) à autoridade é outro comportamento corriqueiro, embora a imensa maioria acredite ser forte o suficiente para não seguir orientações ou ordens absurdas. E, nesse caso, as consequências podem ser gravíssimas.

Um estudo clássico do psicólogo norte-americano Stanley Milgram, realizado na década de 1960, mostrou que a simples autoridade do pesquisador é suficiente para fazer com que os participantes do experimento provoquem dor extrema em outras pessoas.

Eles tinham de dar choques elétricos em outros participantes da pesquisa apenas porque essas eram as regras, devidamente ressaltadas pela “autoridade”. Na verdade, ninguém de fato tomava o choque; era uma simulação. Mas os participantes não sabiam. E 65% chegaram a aplicar o que achavam ser a carga mais alta. O objetivo do estudo era aferir os motivos que levam pessoas comuns a cometer atrocidades ordenadas por superiores, tal como ocorreu com o nazismo.

A boa notícia é que pesquisas indicam que, muitas vezes, o simples fato de a pessoa ter consciência de que está sujeita a essas armadilhas mentais é suficiente para desarmá-las.

Mas o que, afinal, tudo isso tem a ver com o Brasil e os brasileiros? Vamos lá: o país está flertando cada vez mais com o autoritarismo e com políticos que defendem isso. E é preciso fazer algo.

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Não concorda comigo? OK. Talvez eu esteja sendo vítima de outro autoengano mental estudado pela psicologia: o viés de confirmação. Explico. É a tendência a acreditar que nossas opiniões são resultado de análises racionais, quando na verdade o que fazemos é selecionar os argumentos que favorecem nossa visão de mundo e ignorar os fatos que contradizem nossas crenças.

Ainda assim, ao menos reflita sobre meu texto. Posso não ser tão esperto quanto penso que sou. Mas considere: talvez você também não seja.