Um soldado espanhol em frente a um tanque Leopard 2: o mesmo modelo de carro de combate está sendo enviado pela Alemanha à Ucrânia| Foto: EFE/Javier Cebollada
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No último dia 25 de janeiro, o governo dos EUA anunciou que fornecerá carros de combate modernos, os populares “tanques”, para a Ucrânia. O modelo M1, utilizado pelas forças armadas dos EUA, é um dos mais capazes do mundo, e o anúncio veio junto de declarações similares dos aliados europeus da OTAN, especialmente a Alemanha. O anúncio possui um pouco comentado aspecto de longo prazo, que deve ter gerado bastante alívio no governo ucraniano.

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A mudança da política geral da OTAN em relação ao fornecimento de carros de combate começou com a troca no Ministério de Defesa alemão. Boris Pistorius substituiu Christine Lambrecht para gerenciar a nova postura, menos passiva, alemã. Quando se fala em “menos passiva”, importante destacar que essa acusação é feita pensando no tamanho da economia e da indústria de defesa alemãs. Ou seja, que o país poderia fazer mais em apoio aos ucranianos, não que não tenha feito nada.

A Alemanha forneceu, por exemplo, alguns dos principais meios antiaéreos utilizados pelos ucranianos, além de fazer a manutenção de outros equipamentos de tecnologia de ponta. A questão é que, quando comparada com países como Polônia e Lituânia, a Alemanha está fazendo bem menos. Claro que pesa o fato desses dois países terem um histórico de séculos de rivalidade com a Rússia, incluindo períodos de domínio direto pelo Império Russo e, posteriormente, pela União Soviética.

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Principalmente, a Alemanha era criticada por vetar o fornecimento de equipamento militar de origem alemã por outros países. Supostamente para não agravar ainda mais o conflito, devido ao lobby pró-Rússia muito forte dentro da Alemanha, mas também por razões industriais. O fato é que essa postura era vista como muito frustrante pela Ucrânia e pelos EUA. Por exemplo, caso a Polônia desejasse enviar seus carros de combate de origem alemã Leopard 2, a Alemanha podia vetar a exportação.

Truco polonês

A questão é que a Polônia decidiu “trucar” a posição alemã e afirmar que enviaria os referidos carros de combate mesmo sem a autorização alemã. Isso geraria repercussões negativas políticas dentro da OTAN e dentro da UE, além de um possível boicote alemão às forças armadas polonesas. Esse segundo fator, entretanto, não importaria tanto para Varsóvia, já que, nos últimos anos, o país tornou-se um grande comprador de equipamento bélico produzido nos EUA.

Ainda assim, seria constrangedor e uma fratura na aliança em meio ao conflito. Seja como consequência da “forçada de mão” polonesa, seja como consequência da troca de ministro, ou uma soma de ambos, a Alemanha anunciou que vai autorizar a exportação de carros de combate para a Ucrânia. Mais que isso, o governo alemão anunciou que ele mesmo vai enviar carros de combate para os ucranianos. No total, Alemanha, Finlândia, Espanha, Países Baixos, Noruega e Polônia anunciaram o envio de Leopards 2.

Finlândia e Alemanha possuem reservas de centenas desses veículos, enquanto os outros países possivelmente vão enviar carros de combate de suas unidades na ativa. A Alemanha enviará catorze veículos. No total, serão cerca de uma centena de carros de combate, mais catorze do modelo Challenger II fornecidos pelo Reino Unido. Parece um número reduzido, mas, nesse momento, a Ucrânia precisa de toda ajuda material necessária. “Nesse momento”, especificamente, de antecipada ofensiva russa renovada.

Além disso, os modelos que os ucranianos receberão são considerados dos melhores de sua geração. Tanto o M1 dos EUA quanto o Leopard II alemão são frutos ainda das doutrinas militares da Guerra Fria. Naquele contexto histórico, as forças soviéticas teriam superioridade numérica no território europeu. Essa superioridade é, inclusive, elemento histórico da doutrina militar russa. Para balancear os números, então, a OTAN apostava na superioridade tecnológica de seus veículos.

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Comprometimento americano de longo prazo

Existe outro fator na mudança de postura da Alemanha. O governo alemão insistia que somente forneceria carros de combate caso os EUA também o fizesse. Ou seja, desejava garantias de longo prazo do envolvimento dos EUA com o conflito, o fornecimento de armamento e o suporte logístico que será necessário para a operação dos veículos pelos ucranianos. Conseguiram essa garantia de que os países estarão juntos nessa guerra de atrito. O que também foi celebrado pela Ucrânia.

Chega-se, então, ao detalhe do longo prazo dessa operação toda. O governo dos EUA possui milhares de M1 em seus estoques. Isso não é uma hipérbole. Os trinta e um veículos que serão recebidos pela Ucrânia, entretanto, serão novinhos em folha, encomendados desde o primeiro parafuso para se adequarem às especificações ucranianas. Os motivos são dois. Primeiro, os veículos em estoque contém urânio empobrecido em sua blindagem, o que não pode ser exportado pelas leis dos EUA.

Retirar essa blindagem seria praticamente o custo de produzir um veículo novo, inviabilizando economicamente o fornecimento. Segundo, alguns sistemas internos não seriam exportados para a Ucrânia, ainda mais sob o risco de serem capturados pela Rússia. Por isso, a opção por veículos novos. Produzir algumas dezenas de carros de combate, entretanto, não é algo exatamente rápido. Ainda existem programas de treinamento, de manutenção e produção de peças sobressalentes.

A Ucrânia celebra a decisão dos EUA de enviar veículos novos, então, pois isso significa o comprometimento dos EUA com a defesa da Ucrânia por pelo menos alguns anos. É um cenário diferente de enviar veículos que estejam pegando poeira em um depósito, que podem ser utilizados rapidamente sem grande compromisso. É um programa de longo prazo, em meio ao conflito. Também representa a aposta de que o futuro exército ucraniano terá uma cara bem diferente do atual.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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