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Flávio Gordon

Flávio Gordon

Sua arma contra a corrupção da inteligência. Coluna atualizada às quartas-feiras

Inquérito contra Bolsonaro

A ressurreição da vexaminosa CPI da Covid

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Flávio Dino reciclou relatório da CPI da Covid para abrir novo inquérito contra Jair Bolsonaro. (Foto: Sophia Santos/STF)

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E não é que Flávio Dino, mundialmente conhecido como “Rocambole do Inferno”, se apressa em tomar o lugar de Alexandre de Moraes no papel de perseguidor-mor da direita brasileira? Aparentemente enciumado, e ansioso por uma sanção Magnitsky para chamar de sua, o magistrado comunista (esse oxímoro ambulante) decidiu ressuscitar o relatório da CPI da Covid-19 – aquela assembleia de certezas pseudocientíficas transformadas em dogma por interesses políticos – para abrir (mais) um inquérito contra Jair Bolsonaro e aliados. Temendo eventualmente a anistia para o ex-presidente, o Rocambole e seus camaradas querem garantir uma nova condenação de modo a retirá-lo da vida política nacional (quando não da vida tout court).

A CPI da Covid-19, lembramo-lo, não se destacou por rigor científico ou imparcialidade. Conduzida por congressistas semianalfabetos munidos de seus “bitcóios” e “comordidades” (sic), ela transformou o Senado num palco de vendeta política, promovendo figuras e narrativas excêntricas como se a democracia fosse um reality show. Seus “relatórios” abundavam em certezas absolutas sobre ações governamentais e práticas médicas, ignorando fatos que, pouco a pouco, aniquilaram cada uma de suas alegações. E agora, tal qual um zumbi inquisitorial, seu cadáver é reanimado por Dino, que converte em inquérito aquilo que deveria ser relegado ao museu da vergonha da propaganda política.

O inquérito – que mira, além de Jair, figuras como Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro, Carla Zambelli, Bia Kicis, Onyx Lorenzoni, Ricardo Barros, Luciano Hang e Carlos Wizard Martins, entre outros – é mais uma estratégia de intimidação e controle político dos adversários por parte do regime STF-PT. Ao transformar a mera associação política e o exercício da dissidência em objeto de investigação criminal, Dino assinala que, no Brasil de 2025, a divergência se paga com assédio institucional desavergonhado. Substituindo a análise objetiva de fatos e provas, o procedimento pseudojudicial dos camaradas não passa de uma arma de guerra política. Trata-se do enésimo exemplo daquela “caça às bruxas” que, cinicamente, Luís Roberto Barroso, o Voltaire de Vassouras, tentou negar por esses dias.

No Brasil de 2025, a divergência se paga com assédio institucional desavergonhado

Nunca é demais traçar paralelos históricos com regimes em que o aparato estatal foi mobilizado para punir adversários sob a capa de legalidade. O que se vê no Brasil de hoje é uma “justiça preventiva”, disfarçada de imparcialidade, que utiliza factoides midiáticos e relatórios parlamentares como instrumentos de coerção. A CPI da Covid-19, que em 2021 brandia dados enviesados e testemunhos isolados como se fossem mandamentos divino-científicos, hoje volta como justificativa formal para mais perseguição.

O mais grotesco desse mais recente rocambolismo jurídico é a tentativa de legitimar o inquérito utilizando o verniz científico que a própria CPI falhou em sustentar. Enquanto a comissão impunha a narrativa do desastre sanitário absoluto, ignorava-se que grande parte das mortes e complicações derivou de falhas em políticas estaduais, decisões individuais e limitações da própria ciência médica – nuances que a CPI deliberadamente desprezou. Agora, essas distorções ressurgem com status de prova formal, enquanto os argumentos contrários, já respaldados pela realidade e por estudos independentes, são silenciados, desconsiderados ou tratados como heresia investigativa. Como pode uma CPI que, na base da força, tratou de impor um dogma já desmentido ponto por ponto, servir de base para um inquérito policial contra os que sempre estiveram certos? Pode no mesmo país em que um comunista orgulhoso vira ministro da suprema corte.

Ao longo da história brasileira, por óbvio, já houve outros momentos em que mecanismos formais de Estado foram instrumentalizados para fins de perseguição. Do período colonial ao regime militar, da censura literária às perseguições políticas travestidas de enquadramento legal, a experiência ensina que o poder institucional, quando desprovido de freios e portadores responsáveis, rapidamente se transforma em instrumento de opressão. Mas Flávio Dino e seus camaradas levaram a coisa ao estado da arte, reunindo os três poderes da República numa coreografia persecutória, sob a justificativa da ciência e da legalidade.

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Fica claro que a perseguição não se encerrará com a morte política e/ou física de Jair Bolsonaro, e que o projeto declarado de extirpar o dito bolsonarismo e a direita brasileira como um todo segue de vento em popa. Para isso, vale manter inquéritos intermináveis e reeditar novos inquéritos, todos com o pretexto para novas operações de pesca probatória. A CPI, que em 2021 ignorou dados contrários às suas conclusões, cria agora um precedente de que relatórios políticos podem ser reciclados indefinidamente, assumindo status de prova e legitimando perseguições mesmo anos depois. É um mecanismo de renovação do medo e da culpa, uma manipulação da memória social que transforma o passado em pretexto para o presente repressivo.

A imprensa amestrada, por óbvio, amplifica o espetáculo. A cobertura, muitas vezes desprovida de análise crítica, confere legitimidade ao inquérito, apresentando-o como inevitável ou natural. A repetição midiática de acusações já desmentidas pelos fatos cria um efeito cumulativo: a opinião pública passa a considerar como verídicas conclusões que, na realidade, não resistem ao escrutínio racional. O objetivo é a criação da “espiral do silêncio” tão bem descrita por Elisabeth Noelle-Neumann, em que a percepção de consenso social impõe conformidade e silencia dissidências.

O efeito é esgarçar ainda mais o tecido social brasileiro, originando uma completa desconfiança nas instituições por parte de, ao menos, metade da população. A ideia de que opositores políticos são criminosos por definição instala uma lógica perversa, na qual o debate público não é mais sobre ideias ou políticas, mas sobre sobrevivência e lealdade. A CPI da Covid, originalmente concebida como comissão parlamentar de inquérito, converteu-se em instrumento de disciplinamento moral, e agora, como inquérito judicial, expande sua capacidade coercitiva.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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