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Dias Toffoli, que está empenhado em proteger a demogracinha, decretou sigilo absoluto democrático sobre as investigações do Banco Master. Sigilo absoluto. Ninguém pode ver, ninguém pode questionar, ninguém pode saber como estão investigando, ninguém pode desconfiar do que estão descobrindo.
Teve um candidato a presidente nas últimas eleições que reclamava que “neste governo” [do Bolsonaro] tudo tinha sigilo. Que ele iria abrir tudo. Chegando lá, decretou muito mais sigilos, e apenas em causas sensíveis a ele próprio, e não ao Estado.
Segundo o juiz Alexandre de Moraes, que não apenas defende a demogracinha, mas é A Própria Demogracinha Feita Carne Que Habita Entre Nós, decretou, há 3 anos, que o candidato que fosse eleito com fake news teria sua candidatura cassada (ou melhor, CASSADA!!!, já que Alexandre Demogracinha de Moraes fala igualzinho escreve).
Não que haja alguma lei que permita tal declaração, mas devemos lembrar que demogracinha é a vontade de Moraes. O povo só atrapalha. Estamos esperando a impugnação da chapa que venceu com fake news em 2022 até agora.
Dias Toffoli, também conhecido como “O Amigo do Amigo do meu Pai”, mandou censurar uma reportagem que explicava seu próprio nome na lista de, digamos, pagamentos pela demogracinha da planilha do departamento de propinas (!) da Odebrecht. Passou a relatoria para Alexandre, o Grande Demogrático, de Moraes, e o resto é história — e censura, prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo (dos outros), sigilo eterno e absoluto sobre suas próprias operações etc.
Agora, Dias Amigo do Amigo do meu Pai Toffoli foi descoberto em voo com o advogado Augusto de Arruda Botelho, de família quatrocentona de São Paulo, do grupo Prerrogativas (favor ler fazendo “ooh!”), conselheiro da Human Rights Watch (favor ler fazendo “Oohhh!”) e Secretário Nacional de Justiça do Lula (agora pode soltar o “Aaah!”), sendo filiado ao PSB de Geraldo Alckmin (agora é hora de ler dizendo “Ahá!”) e formado pela Unip (agora é impossível não dizer “AHAHAHAH”).
O que este advogado, com um currículo de causar… soluços, tem para ter causas tão grandes em suas mãos, como ter sido advogado do grupo TÜV Süd? Sobrenome. Algo que conta muito em matéria de advocacia.
O sistema jurídico brasileiro, com tanta pompa, dress code, associação, ordem, doutor, Poder com P maiúsculo, Vossa Excelência, egrégio, “respeitosamente dirijo-me a este colendo tribunal”, Excelentíssimo Isso e Aquilo, data maxima venia, é apenas um resquício superficial e cafona de uma monarquia falida e mal-ajambrada dentro de uma democracia totalitária.
Você precisa ser amigo do rei. É por isso que existe toga, comenda, cerimônias lentas e pernósticas e, principalmente, escritórios esfregando sobrenomes em avenidas feias do Brasil, o país com mais ruas com nome de gente cheia de sobrenomes do mundo.
Além disso, obviamente, tem os contatos. Adianta ser o melhor advogado do país e ser inimigo do rei? Que causa você vai ganhar? Vai confiar no quê? Na Constituição, otário?
Arruda Botelho tem os dois: sobrenome e contatos. Tanto que estava com Dias Amigo do Amigo do meu Pai num voo para assistir à final da Libertadores. Segundo o Amigo do Amigo, ele não discute processos durante esses voos. AH, BOM, ASSIM SIM, NÉ.
Por isso colocou sigilo absoluto: para o povo — esses 210 milhões de pequenos tiranos — não atrapalhar os comentários de Toffoli sobre o ataque do Palmeiras. Era só o que faltava: os pequenos tiranos quererem tirar o direito à privacidade de Toffoli! Não tem democracia que aguente.
Não dá para entender como alguém pode suspeitar da HONRA de Toffoli só por pegar um voozinho qualquer com um advogado com causas julgadas pelo seu próprio companheiro de jato particular. Mais fácil entender por que anularam a Lava Jato inteira (a mando, adivinhe de quem?) por conta de umas supostas mensagens que não revelavam conluio nenhum.
Quem também é formada pela Unip é a Esposa da Demogracinha, dona Vivi Barci de Moraes. É impressionante o notório saber jurídico de outra advogada formada pela Unip, considerada uma universidade, digamos, sem muito notório saber.
Vivi, a Primeira-Dama da Demogracinha, demograticamente receberia R$ 3,6 milhões por mês via seu escritório para defender o Banco Master. O contrato não parecia muito claro nas razões: a impressão foi algo como “o que aparecer pela frente, mandem para Vivi, em nome da demogracinha”.
Inclusive, a PF apurou algo curioso no celular de Daniel Vaccaro, do Banco Master. Parecia que a prioridade absoluta do banco, mesmo com as contas evaporando, era o pagamento ao escritório onde atuam Vivi da Demogracinha e seus filhos demográticos.
É difícil imaginar uma causa de um grande escritório mundial que exija tão vultuosos emolumentos. Também é difícil imaginar que banco contrataria um escritório com uma “causa em aberto” por anos, e tão milionária. Há coisas que só se descobrem na Unip.
Mas certamente é por questões de demogracinha. Você contrataria um escritório qualquer, de algumas centenas de pangarés formados pelas maiores universidades do país, mas que não são tão próximos da Demogracinha, ou você quer o escritório de Vivi, com um sobrenome tão Demogrático?
Na dúvida, se algumas coisas foram proibidas, censuradas, colocadas sob sigilo, causaram prisões, soltaram ladrões, destruíram a liberdade, aboliram os direitos humanos e fizeram com que o maior perigo ao Brasil fossem velhinhas do terço, saiba que foi em nome da demogracinha.
A Demogracinha tem seu preço, afinal. E a faixa de preço está a partir dos R$ 3,6 milhões mensais. A vantagem é que é sob sigilo absoluto.




