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Mansão de Flávio Bolsonaro
Imagem divulgada por veículos de imprensa e nas redes sociais identifica a mansão comprada por Flávio Bolsonaro.| Foto: Reprodução/Twitter

Eu conheço algumas pessoas que afirmariam, categoricamente, que uma casa de R$ 6 milhões é algo intrinsicamente imoral, dada a desigualdade social em que vivem os brasileiros. Como não tenho nenhum apreço pelos ensinamentos de Marx, e tampouco acredito que igualdade seja algo atingível (nem sequer desejável) no tocante a bens materiais, não vejo problema em alguém comprar uma casa de R$ 6 milhões, desde que esse alguém não seja um político que enriqueceu enquanto ocupa cargo público.

Políticos são, em geral, uma praga para qualquer nação. Eles são a personificação da expressão “um mal necessário”. No Brasil, pior ainda, porque nossos políticos são remunerados como em quase nenhum outro lugar civilizado deste mundo. Em 2013, a revista The Economist fez um levantamento do salário médio dos políticos de uma centena de países, e o Brasil, como era de se esperar, fez muito feio. Nossos políticos ganham, em média, 13 vezes o PIB per capita. Acima de nós, somente cinco países: Nigéria, Quênia, Gana, Indonésia e África do Sul. Nos Estados Unidos, nação mais rica do mundo, esse índice é de 3,5 vezes o PIB per capita. Nos países da Escandinávia, abaixo de duas vezes.

Ainda que Flavio Bolsonaro tenha ganho esse dinheiro honestamente, com a venda de chocolates e com um tino para o comércio de imóveis nunca-antes-visto-na-história-deste-país, comprar uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília é um deboche

Assim, temos uma casta imensa de pessoas que contribuem negativamente para o crescimento do país. Eles custam muito, o custeio deles vem de dinheiro produzido com trabalho de verdade, e frequentemente é desperdiçado com ações que minam a economia, dificultam o empreendedorismo e sabotam a iniciativa privada. Resumindo, pagamos caro para que eles nos castiguem. Esse é um dos motivos pelos quais eu, pessoalmente, adquiri uma ojeriza ao sistema político brasileiro e um desgosto generalizado pelos nossos senadores, deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos, vereadores e presidente. As exceções são tão poucas que permitem a generalização.

Mas voltemos à imoralidade de uma casa de 6 milhões. Realmente não vejo problema algum em um empresário de sucesso comprar uma casa dessas. Ele gera empregos, movimenta a economia, gera riqueza ao seu redor. Eu não teria uma casa de 6 milhões, nem que fosse um multimilionário. Não é algo que me excite. E é por isso que eu digo que pregar a igualdade material é uma coisa sem sentido. Entregue R$ 60 milhões a 100 pessoas diferentes e você terá 100 maneiras diferentes de gastar esse dinheiro. Vai ter gente comprando casa de 6 milhões, mas vai ter gente doando 90% do dinheiro e ficando com o resto. Uma coisa é certa, no entanto: entregue a mesma quantia a um político, e ele fará o pior uso possível do dinheiro.

Flavio Bolsonaro é um imoral. Ainda que esse dinheiro tenha sido ganho honestamente, com a venda de chocolates e com um tino para o comércio de imóveis nunca-antes-visto-na-história-deste-país, comprar uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília é um deboche. Flavio, como todos os senadores federais, é um servidor público em tempo integral. Faz 18 anos que ele tem esse mesmo emprego. Se Flavio escolheu a carreira pública, há coisas a se abdicar no caminho. Uma delas é comprar mansões de R$ 6 milhões.

Mas a coisa não acaba aí. Com os Bolsonaro, sempre há um adicional de maleficência. No caso, é o deboche ao quadrado. O sujeito não só comprou uma mansão no valor de 6 mil salários mínimos, como o fez mesmo tendo sido alvo de múltiplas acusações de corrupção, das quais tem se safado por conta da posição privilegiada que seu papai ocupa no momento. Aliás, filhos de presidentes brasileiros recentes têm muito em comum quando o assunto é enriquecimento meteórico por conta de habilidades comerciais incomuns. Tivemos o filho do Lula, por exemplo, um gênio absoluto no mercado de jogos. Por incrível que pareça, Flavio consegue ser pior, pois Lulinha jamais ocupou um cargo público na vida. Do alto de toda a sua vileza e corrupção, Lula nunca trouxe os filhos para a política. Prova de que até o pior dos homens tem seus momentos de lucidez.

Infelizmente, o brasileiro está tão anestesiado para a corrupção quanto o está para a violência. Em breve, Flavio Bolsonaro e seus familiares estarão morando no conforto de sua nova mansão, nadando naquela bela piscina e sendo servidos por muitos empregados. Será apenas mais um político se dando bem em Brasília. Não fosse o filho do presidente, talvez nem tivesse sido perturbado pela imprensa. Seria somente parte das estatísticas. Aliás, se tudo correr como de costume, ele será reeleito em 2026 (sim, nossos senadores mamam oito longos anos nas tetas dos brasileiros), e comemorará em sua casa de R$ 6 milhões. Se não tiver comprado uma ainda mais cara, é claro. Com uma habilidade como a dele para lucrar com imóveis, não dá para duvidar.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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