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Demorou quase duas semanas, mas a Flórida finalmente pode anunciar os vencedores nas corridas eleitorais para os cargos de governador e senador. A lei eleitoral da Flórida exige recontagem por máquina em caso de diferença inferior a 0,5% de votos e recontagem manual em caso de diferença inferior a 0,25%, e essas duas disputas principais caíram dentro desses critérios.

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Concorreram ao governo do estado o republicano Ron DeSantis e o democrata Andrew Gillum. DeSantis venceu as primárias com o apoio do presidente Trump, que apostou e fez campanha contra Adam Putnam, o atual comissário de Agricultura. Apontado por muitos analistas como um candidato mais fraco que Putnam, DeSantis surpreendeu com sua vitória e confirmou a força eleitoral de Donald Trump. Gillum, atual prefeito de Tallahassee, foi a tentativa dos democratas de emplacar uma espécie de “Obama mais jovem” no governo de um dos estados mais importantes da federação. Não deu certo. Apesar de toda a retórica do “primeiro governador negro da Flórida” e de um apelo constante ao discurso igualitário e assistencialista, Gillum teve 32.463 votos a menos que DeSantis, uma diferença de 0,4% que foi confirmada pela recontagem.

Na corrida por uma cadeira no Senado federal, o atual senador pela Flórida Bill Nelson enfrentou o atual governador da Flórida, Rick Scott. Scott venceu suas duas eleições para governador por margens bem estreitas, em torno de apenas 1% dos votos. Desta vez não foi diferente. Após a primeira apuração, Scott apareceu 12.562 votos à frente de Nelson. A pequena diferença levou à recontagem por máquina, que aumentou a vantagem de Scott para 12.603 votos. Mas, como essa quantia continuou inferior a 0,25% do total, houve uma contagem manual, processo em que os oficiais eleitorais analisam a intenção dos eleitores com base no conteúdo das cédulas. Em muitos casos, votos que haviam sido considerados nulos pela máquina leitora acabam indo para um dos candidatos em uma recontagem manual. Bill Nelson conseguiu diminuir a diferença, mas o resultado final ainda deu a vitória a Rick Scott, que terminou 10.033 votos à frente de Nelson, forçando a aposentadoria do democrata depois de três mandatos consecutivos.

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Como explicar a vitória republicana em um dos estados que mais recebem imigrantes em todo o país? Além de ser um grande reduto hispânico, a Flórida também tem uma das maiores populações negras dos Estados Unidos. Esses dois grupos são alvos principais dos democratas, que se gabam de ter a maioria esmagadora do voto negro e do voto hispânico. A prepotência é tamanha que diversos ativistas e políticos do partido xingam publicamente os negros que declaram voto em candidatos republicanos, numa maneira bastante similar ao que ocorre no Brasil. A única diferença é que aqui eles xingam de Uncle Tom e, no Brasil, de “capitão do mato”. A realidade, no entanto, é outra. Pesquisas de boca de urna mostram que DeSantis recebeu uma parcela dos votos latino e negro bem maior que o esperado. Uma das possíveis razões é o posicionamento dos candidatos em relação à educação. DeSantis fez promessas de continuar as políticas de seus antecessores republicanos, que incluem a liberdade dos pais para escolher a escola pública em que seus filhos estudarão, a concessão de vouchers para estudo em escolas particulares e o fortalecimento das Charter Schools, escolas privadas que são mantidas com verbas públicas e que podem desenvolver currículos específicos à sua linha de ensino e declaração de fé. Gillum defende o modelo antigo, onde o endereço da criança define a escola em que ela estudará enquanto ali viver, e posiciona-se contra o sistema de vouchers, alegando que são uma ameaça à igualdade de oportunidades que somente as escolas públicas podem proporcionar. Como negros, brancos e hispânicos prezam igualmente pela qualidade da educação de seus filhos, não foi difícil perceberem que as propostas de Gillum vão de encontro ao que todo pai almeja.

No fim das contas, o fenômeno do voto conservador tem ganhado força em todo mundo, e não foi diferente na Flórida. O eleitor que colocou Trump no poder foi o mesmo que tirou a Grã-Bretanha da União Europeia, elegeu Bolsonaro no Brasil e garantiu hegemonia total dos republicanos no estado mais ensolarado da federação. Esse eleitor é a pessoa comum, que quer apenas a liberdade de construir sua família e viver sua vida com interferência mínima do Estado. É um fenômeno que a esquerda não tem condições de entender, pois foge totalmente de seu esquema pré-determinado de pensamento. Esperamos que continue assim.