Twitter limitou deliberadamente o alcance de personalidades conservadoras ou que questionavam “consensos” a respeito da pandemia de Covid-19.| Foto: Pixabay
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A segunda parte dos “Twitter Files” de Elon Musk foi publicada na última quinta-feira e revela como o gigante da mídia social estava secretamente colocando tuítes e usuários conservadores em listas negras. A jornalista Bari Weiss, que já foi repórter do The New York Times e do The Wall Street Journal, mas agora atua como independente, detalhou em uma série de tuítes como o Twitter usou o que ficou conhecido como “shadow banning” – e que até então era apenas uma teoria – para limitar a visibilidade dos tuítes vindos de usuários de direita.

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O apresentador Dan Bongino, o médico Jay Bhattacharya e o influenciador Charlie Kirk estavam entre os usuários visados pelos mecanismos de supressão do Twitter. Dan Bogino apresenta um talk show conservador, aparentemente conservador demais para os censores da plataforma. Bhattacharya, professor de Medicina na renomada Universidade de Stanford, é uma das maiores vozes contra os lockdowns da Covid-19. Charlie Kirk é um dos nomes de maior destaque no grupo de jovens conservadores engajados em ativismo político na atualidade.

De acordo com Weiss, as listas negras foram construídas em segredo e sem informar os usuários. Um de seus tuítes de quinta-feira diz: “Uma nova investigação [do Twitter Files] revela que equipes de funcionários do Twitter constroem listas negras, evitam que tuítes desfavorecidos se tornem tendências e limitam ativamente a visibilidade de contas inteiras ou até de trending topics – tudo em segredo, sem informar os usuários”.

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A conta de Bhattacharya, por exemplo, foi marcada como parte da lista negra de trending topics. Uma imagem compartilhada por Weiss mostra a tela de um funcionário do Twitter aberta na conta do médico, com uma marcação amarela indicando a restrição (Trends Blacklist). Assim, seus tuítes que falavam sobre como os lockdowns seriam prejudiciais, especialmente para as crianças, jamais ocuparam o topo da lista de trending topics porque existia esse mecanismo para limitar sua disseminação.

Já no caso do apresentador Dan Bongino, uma outra foto de tela mostra uma marcação de lista negra de busca (Search Blacklist). Obviamente, uma outra faceta do mesmo mecanismo, que impedia os usuários de encontrar os tuítes ou mesmo o perfil do apresentador.

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Por fim, para fechar a lista de exemplos, Weiss mostra uma foto de tela do perfil de Charlie Kirk, com a marcação de “Não Amplificar” (Do Not Amplify). Mais uma ferramenta na lista de métodos de censura idealizada, muito provavelmente, por Vijaya Gadde, que eu coloco em minha lista pessoal de dez pessoas que mais prejudicaram o mundo livre neste século.

O Twitter, por meio de seus principais executivos, havia negado veementemente a prática do shadow banning. Em 2018, Gadde disse que “nós não fazemos shadow ban, e definitivamente não banimos conteúdo com base em pontos de vista ou ideologia política”. Ainda em 2018, um tuíte publicado pela conta oficial do Twitter disse “As pessoas estão nos perguntando se fazemos shadow ban. Nós não fazemos”. E, para completar, o ex-CEO e fundador da empresa, Jack Dorsey, disse que “não fazemos shadow ban” e, também, que “nós classificamos os tuítes por [um critério] padrão para tornar o Twitter mais imediatamente relevante (o que pode ser desativado). Mais sobre sinais de classificação”, com a adição de um link para uma postagem de ninguém menos que Vijaya Gadde, no blog da empresa.

Weiss não só obteve prints de telas e cópias de comunicações internas da empresa. Como boa repórter investigativa, ela conversou com funcionários e ex-funcionários do Twitter. Um desses funcionários, de nível sênior, disse a ela que a prática de suprimir vozes conservadoras é conhecida internamente como “filtragem de visibilidade” ou “VF” (Visibility Filtering). E esse mecanismo permite que a empresa bloqueie certas buscas de usuários e tuítes, impeça que tuítes de usuários selecionados cheguem aos trending topics e às pesquisas de hashtag. Nas palavras de um engenheiro do Twitter a Weiss, “controlamos bastante a visibilidade. E controlamos bastante a amplificação do seu conteúdo. E as pessoas normais não sabem o quanto fazemos”.

Finalizando a parte dois dos Arquivos do Twitter, Weiss descreve a estrutura do departamento da empresa que operacionalizava toda a censura. O nome desse grupo era Equipe de Resposta Estratégica – Equipe de Escalação Global, conhecido pela sigla SRT-GET (Strategic Response Team – Global Escalation Team).

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Mas quem mandava no SRT-GET era um outro grupo, composto também pelos altos executivos da empresa, conhecido como a equipe de Política de Integridade do Site e de Suporte ao Escalonamento de Políticas, ou SIP-PES (Site Integrity Policy, Policy Escalation Support). Esse grupo tomava as decisões relativas a perfis de maior envergadura, por assim dizer, e com desdobramentos políticos mais sensíveis. O perfil “Libs of TikTok” foi um dos “agraciados” pela atenção especial. Uma foto de tela postada por Weiss mostra um aviso, em vermelho e em destaque no alto da página, dizendo “! NÃO FAÇA NENHUMA AÇÃO NO USUÁRIO ANTES DE CONSULTAR O SIP-PES”.

Todos os achados de Weiss mostram, de forma contundente, que aquilo que imaginávamos que acontecia no Twitter realmente acontecia. E de uma maneira ainda mais organizada e operacionalizada que qualquer um poderia imaginar. A empresa soterrou o princípio e o direito à liberdade de expressão com base em preferência pessoal de seus gestores no tocante à ideologia política.

Nas leis americanas que regulam as comunicações públicas, vetar e limitar conteúdo tem um nome: editoria. Todo mundo sabe que a CNN tem uma linha editorial mais à esquerda e a Fox News, mais à direita. Nenhuma matéria é publicada nessas duas empresas sem a aprovação de um editor. E, se alguém se sentir prejudicado por algo que elas publiquem, pode-se recorrer à Justiça com pedidos de danos morais e materiais.

A Seção 230 da Lei de Decência das Comunicações protege os sites na internet de processos judiciais por conta da divulgação de conteúdo de terceiros. É uma proteção à liberdade de expressão, já que restringe a responsabilidade do que é publicado ao próprio autor, e não ao veículo de publicação. Essa seção, no entanto, foi pensada nos moldes da liberdade completa de publicação. Quando um desses divulgadores, como o Twitter, passa a vetar e limitar conteúdo, já não é mais apenas um divulgador, e sim um editor. Já passou da hora de o Congresso americano retirar as proteções da Seção 230 para qualquer um que aja como editor, até mesmo para que haja igualdade de condições para a prática do jornalismo na internet. O Twitter parece estar no caminho de se livrar dessa censura perniciosa, mas ainda restam Facebook, YouTube, Instagram e Google, só para mencionar os maiores, que devem ter mecanismos tão ou mais sofisticados quanto tinha o Twitter antes de Elon Musk.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]