(Foto: Jamieadams99/Wikimedia Commons)| Foto:

Dia 25 próximo, comemorarei o quarto Natal na Flórida. Embora já tivesse visitado os Estados Unidos em outras 20 oportunidades, tanto a lazer quanto a trabalho, foi somente depois de morar aqui por tanto tempo seguido que comecei a entender o modo de agir e pensar dos americanos, e eu mesmo me peguei pensando como eles em diversas oportunidades – é só vivendo fora do Brasil por um certo tempo que você começa a deixar de entender certos absurdos que faziam parte da sua realidade quando ainda morava por lá.

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Assim, resolvi elencar cinco coisas sobre o Brasil que nenhum americano acredita serem verdade. Você conta para eles, eles coçam a cabeça, tentam compreender, mas acabam desistindo ou dando uma risada envergonhada.

1. No Brasil, os presos podem sair da cadeia para passar datas comemorativas com suas famílias.

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Coloquei esta como número um porque é, de longe, a que deixa os gringos mais nocauteados. Eles conseguem entender diversas imperfeições do Judiciário, mesmo porque enfrentam problemas como corrupção de juízes, absolvição de culpados etc. por aqui também. Mas nem o americano mais versado na arte da abstração consegue compreender o porquê de uma legislação que permite a um presidiário sair da cadeia para desejar um feliz Natal ou comemorar o dia das mães com sua progenitora. Aliás, se alguém conseguir entender isso, por favor me explique.

2. No Brasil, os juros do cartão de crédito são da ordem de 10%-15% ao mês.

Esta é clássica. Você fala isso e eles retrucam “você quis dizer ao ano, certo?” E aí você dá o golpe de misericórdia e diz, “não, é ao mês mesmo.” Dá até vontade de filmar e depois ver em câmera lenta a cara de espanto do sujeito. Na terra do Tio Sam, quem tem crédito bom consegue cartões de crédito com 0% de juros. Sim, você não leu errado: 0% de juros durante um período de 12 a 18 meses geralmente. Quem tem crédito não tão bom recebe ofertas de cartões com juros de 15% a 25% ao ano. E, para os descontrolados e gastadores sem cura, os juros chegam aos 35% ao ano. Detalhe sórdido: aqui se cobram juros simples, sempre sobre o principal; no Brasil, cobram-se juros compostos (também conhecidos como juros diabólicos, juros de agiota ou juros imorais), adicionados ao principal mês a mês.

3. Os deputados brasileiros se aposentam com apenas dois mandatos.

Washington não anda bem falada na língua do povo americano, e os políticos americanos têm enfrentado uma rejeição generalizada. Mesmo assim, consigo arrancar alguns “não acredito!” ou “conseguem ser pior que aqui” quando descrevo as mamatas dos deputados brazucas a americanos. Hoje mesmo, conversando com um conhecido de Albuquerque, de onde escrevo esta coluna, mencionei a questão da aposentadoria e resolvi pesquisar o assunto para saber qual é o verdadeiro nível dessa mamata. E não é que até eu consegui me espantar de novo com uma coisa que já achava ruim? Para quem não sabe, um deputado pode conseguir se aposentar depois de apenas um ano de exercício de mandato, dependendo das contribuições anteriores junto ao INSS e dos mandatos anteriores que exerceu em qualquer esfera de governo. A melhor parte (para eles, é claro) é que as quantias pagas ao INSS não influenciam no valor da aposentadoria. Resumindo: os brasileiros bancam, com seus impostos, auxílios de moradia, terno, combustível e transporte aéreo; bancam também um séquito de assessores e um salário de executivo; e, como se isso não fosse suficiente, bancam aposentadorias absurdas e privilegiadas, totalmente fora das regras que são impostas a todos os trabalhadores do setor privado.

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4. No Brasil, para comprar uma arma, a pessoa tem que apresentar um motivo e esse motivo tem que ser aprovado por um agente do governo.

Por mais que o assunto venha à tona quando acontecem os tiroteios em locais públicos e escolas, o americano não consegue conceber a proibição da compra de armas. Muitos acham que deve haver controle sobre quem pode comprar – excluindo pessoas condenadas por crimes ou mentalmente incapazes, por exemplo –; outras aceitariam a proibição de algum calibre ou de alguma categoria de armas, e a maioria continua achando que não deve haver restrição nenhuma. Mas nem os próprios democratas, que estão sempre tentando diminuir a abrangência da Segunda Emenda, ousam defender uma medida que tire do cidadão o direito de se armar e transforme-o em um privilégio concedido de acordo com um critério subjetivo. Para os gringos, isso tem um nome: escravidão.

5. No Brasil, as empresas pagam imposto sobre o faturamento

Já abordei esse assunto nesta coluna recentemente, mas tenho de repeti-lo porque nenhum outro completaria meus top 5 com tanta propriedade. Acostumados a pagar impostos apenas sobre os lucros auferidos, alguns pequenos empreendedores com quem conversei não se conformam com algo tão absurdo como pagar imposto sobre faturamento. Tento lhes explicar que é um jeito que o governo ladrão do Brasil criou para simplificar a cobrança, já que a burocracia de uma contabilidade de lucro real é tremenda, mas termino a fala sem nem sequer acreditar em mim mesmo. A verdade é simples: não há explicação plausível para se extorquir um sujeito que está assumindo um baita risco para gerar empregos, riquezas e produtos ou serviços do jeito que a Receita Federal extorque os empresários brasileiros.

Se você se lembrar de algum outro absurdo, pode citar nos comentários. É sempre bom ter algo novo na ponta da língua para surpreender meus vizinhos e amigos americanos, e ouvir deles a célebre frase: “You’ve got to be kidding!” (“Você só pode estar de brincadeira”).

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