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Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo| Foto:

Caro leitor exclusivamente papeleiro, quanto tempo! Faz o quê, uns 100 anos desde a minha última coluna impressa? Não, não saí do jornal, apenas me digitalizaram também. Eu sei, você não gostou nada disso. Compreendo, também sinto falta do jornal na porta de casa todos os dias. Quem não lamentou a mudança, não achou que era o “fim” da Gazeta do Povo, não se queixou de ter de ler pelo celular, curitibano não é!

Hoje penso o oposto, e até me divirto com as lamúrias provincianas porque contrastam demais com a percepção dos “estrangeiros”, que são só elogios e agradecimentos por agora terem acesso a um dos poucos jornais a dar voz de destaque a ideias e valores que, no máximo, são tratados marginalmente em outros diários de alcance nacional, e tão somente para dar aparência de diversidade. Mais do que isso, é o único órgão de imprensa a deixar claras suas convicções, como a defesa da vida, contra o aborto.

Sei que isso é insuficiente para convencê-lo do acerto da Gazeta em se tornar digital, sua mudança mais importante e ousada nesses 100 anos de vida, mas permita-me dar-lhe uma boa razão para você rever seu conceito agora mesmo. Por paradoxal que pareça, a Gazeta do Povo voltou a ser um jornal das antigas, no bom sentido.

O modelo que imperava na mídia impressa no início do século passado, até, mais ou menos, a década de 60/70, era o francês, de cunho mais ensaístico, com longos artigos, muita análise e opinião. Depois, foi adotado o estilo americano, mais objetivo, factual e investigativo. Por consequência, os jornais passaram a diminuir cada vez mais o espaço analítico, ainda que lhe dando destaque nas primeiras páginas, mas obrigando os autores à síntese das análises e opiniões, tornando-as alusivas e pouco profundas.

A Gazeta digital recuperou o jornalismo ensaístico. Não há limites de tamanho para as colunas (as minhas têm tamanho médio dobrado em comparação com o que tinham) e a facilidade de acesso aos arquivos permite que verdadeiros livros estejam à disposição do leitor. Isso também teve um impacto na edição semanal em papel, que, desobrigada do furo ou da notícia de ontem, pôde dar muito mais atenção à análise do que aconteceu na semana, com textos mais longos e profundos que os que se costuma encontrar nas edições dominicais dos demais jornais.

Mas isso não significa ter perdido o foco informativo e a necessária agilidade e velocidade do noticiário. Pelo contrário, está muito mais eficiente que antes. Há, na prática, pelo menos três edições diárias do jornal, sem contar o sem-número de notificações de notícias relevantes enviadas aos leitores durante todo o dia. E isso também é um resgate das raízes da Gazeta, sabia?

Nos seus primeiros anos de vida, a Gazeta colocava notícias na sua porta, conforme nos lembrou a edição especial de 90 anos do jornal: “notícias de última hora eram coladas em uma pedra de mármore escuro, que logo foi batizada de Pedra da Gazeta. (…) Quando havia pressa em divulgar a informação, os redatores chegavam a anunciá-las da sacada, ‘no grito’, levando posteriormente a rádio PRB2 a instalar alto-falantes para facilitar o trabalho dos jornalistas”.

A pedra virou bit, o grito virou notificação no celular, mas você não precisa mais ir até a Gazeta para saber das últimas notícias; é ela quem vem até você. Celebrar o passado vivendo o futuro no presente é para poucos, muito poucos. Parabéns, Gazeta do Povo! Precisa de mais motivos para entrar com o pé digital no próximo centenário da Gazeta, leitor exclusivamente papeleiro?

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