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Vacinação da Covid-19 em Curitiba no pavilhão do Parque Barigui.
Vacinação da Covid-19 em Curitiba no pavilhão do Parque Barigui.| Foto: Daniel Castellano/SMCS

Alguém sabe explicar a postura inicial – depois revertida – da prefeitura de Curitiba de não aplicar vacina nenhuma de quinta a domingo, neste feriadão de Corpus Christi? Quem tivesse procurado a justificava no site da prefeitura não teria encontrado nada. Quem procurasse pela imprensa teria dificuldade para encontrar algo além da simples notícia da suspensão da vacinação. O que explicaria, então, uma decisão dessas, ainda mais havendo doses para aplicar?

Em uma entrevista à TV, na quarta, dia 2, a secretária municipal de Saúde, quando perguntada sobre como seria a vacinação no feriado, respondeu confirmando que havia doses em estoque, reservadas para pessoas com comorbidades, e que a cidade receberia novas doses enviadas pelo governo do estado entre sexta e sábado. Por que, então, suspender a vacinação até segunda-feira?

Com inúmeras pessoas questionando a decisão, veio a resposta à reportagem do telejornal da RPC de quinta-feira, dia 3. Segundo a nota oficial, como seriam poucas doses em estoque, se os locais de vacinação fossem abertos “só geraria aglomeração, poucas pessoas vacinadas e muitas frustradas tendo de passar longos períodos em filas e voltando para casa em pleno feriado. É uma medida difícil, de muita análise técnica da equipe da Secretaria Municipal de Saúde”, conforme disse a apresentadora do telejornal.

Como a prefeitura quer que empresários e empregados colaborem, aceitando o sacrifício de terem seu comércio e local de trabalho fechados, enquanto deixa de aplicar vacinas mesmo tendo doses disponíveis?

A explicação não se sustentava por si. Mesmo com muitas doses, os locais de vacinação geram aglomeração e as pessoas passam longos períodos em filas do mesmo jeito. Passo diariamente pela Praça Ouvidor Pardinho e a fila dá voltas na praça, para dar um exemplo. Restava, da desculpa oficial, apenas o evitar a suposta frustração das pessoas que não conseguiriam ser vacinadas caso as doses acabassem antes da sua vez. Isso lhe parecia razoável para justificar a suspensão da vacinação por quatro dias, leitor?

A desculpa se tornava (mais) esfarrapada quanto mais você para e pensa. Como fica a frustração com a suspensão da vacinação tendo doses para serem aplicadas? Embora a análise técnica tenha sido “muita”, isso não parece ter sido levado em conta. E não estamos correndo contra o tempo? Que cálculo é este que privilegia o custo para vacinar e suposta “frustração”, mas não as vidas que podem ser salvas com a vacinação acontecendo o quanto antes?

Não é esta a lógica, aliás, para decretarem esses lockdowns mais do que discutíveis, sacrificando a economia para tentar salvar vidas? Como aceitar que, tendo vacinas em estoque, pouco importando quantas, a decisão esteja sendo pela economia delas e não sua aplicação?

A decisão era ainda mais incompreensível quando a própria secretária, naquela entrevista citada, dizia que uma análise dos vacinados demonstrou bons resultados, significando “que estaríamos ali, quase chegando no porto seguro para sair desta tempestade”. Por que, então, adiar por mais tempo a chegada a este porto seguro, alongando a tempestade?

Curitiba já não vem vacinando nos fins de semana. Em alguns casos, por falta de doses; mas em outros, como a prefeitura pretendia fazer agora, não havia justificativa razoável para isso. Como querem que empresários e empregados colaborem, aceitando o sacrifício de terem seu comércio e local de trabalho fechados, dando exemplos assim? Como querem que a população continue colaborando, evitando sair de casa, encontrar seus familiares e amigos, quando a prefeitura pretendia se dar ao luxo de parar por quatro dias tendo doses de vacina em estoque?

A repercussão negativa foi tanta que na sexta, dia 4, as redes sociais da prefeitura anunciaram que a vacinação será retomada, ainda que apenas no sábado, dia 5. E nem será só para comorbidades, mas já avançando por faixa etária. Menos mal. A pressão popular enfim teve algum resultado, algo muito raro neste país. O senhor prefeito, aliás, sempre assíduo nas redes sociais, quando chegam novas doses de vacinas, posta: “Mais tivermos, mais aplicaremos”. Pois que cumpra sua palavra.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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