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Personagens do anime Dragon Slayer.
Personagens do anime Dragon Slayer.| Foto: Divulgação

No fim de semana, depois de um longo tempo sem pisar numa sala de cinema por causa medidas de distanciamento social, levei minha filha mais velha para ver um filme, com direito a combo de pipoca e guloseimas. Foi ela que escolheu o título: Demon Slayer – Mugen Train: O Filme. Sinceramente, eu não fazia ideia do que se tratava. É um anime. Acho que eu nunca tinha assistido a um anime antes. Minto. Eu 2004, levei meu irmão mais novo para ver o filme Os Cavaleiros do Zodíaco. Resumo: não sou fã de anime.

Para quem não sabe – e eu não sabia muito a respeito até domingo –, um anime nada mais é do que um desenho animado. Porém, dentro da cultura pop, anime é um desenho animado japonês. E, por favor, não confundir anime com mangá, que se refere à versão gibi do anime. Sem complicar, anime é mangá em desenho animado.

Tento ser um pai presente, sobretudo quando o assunto é “pegar” cineminha num domingo à tarde com as crianças. Antes da pandemia, costumávamos ir pelo menos umas duas vezes por mês ao cinema. Assisto de tudo, sem preconceitos quanto a gênero, faixa etária, estúdio, diretor ou estilo. No quesito “cinema”, sou bem liberal. Não garanto que ficarei acordado durante o filme inteiro. O pior filme a que assisti com as crianças foi a nova versão de Família Addams, de 2019. Chato demais. Dormi, obviamente. Recomendo para quem sofre de insônia e não tenha filhos.

Sem exageros, alguma coisa ali em Demon Slayer me lembrava O Resgate do Soldado Ryan

Não esperava nada de Demon Slayer. Fui preparado para quitar o soninho do domingo à tarde. Sessão das 15 horas. Como disse, tento ser um pai presente, mas não sou santo. Aceitei o desafio. Alice merece. E, para minha surpresa, não só fiquei até o fim do filme, como me empolguei – acho que até mais do que minha filha; desconfio. Como eu não sabia absolutamente nada do universo desse anime, pedi a sinopse. Afinal, sou um pai que se envolve com os filhos.

Demon Slayer conta a história de uns demônios que mataram toda a família de um dos personagens, exceto a irmã dele. Era tudo o que eu sabia. Legal, deve ser divertido. Pensei. A primeira cena do filme me chamou muita atenção pela qualidade estética e dramática. Dois personagens estão num lugar visualmente muito bonito: um cemitério. Não só isso me chamou atenção, como o diálogo.

Sem exageros, alguma coisa ali me lembrava O Resgate do Soldado Ryan, o clássico filme de guerra do Steven Spielberg, que começa e termina no cemitério – no caso, o Cemitério Militar e Memorial Americano da Normandia em Colleville-sur-Mer. A cena é linda: um senhor de idade, com toda a sua família, se aproxima de uma lápide, cai de joelhos e começa a lembrar... entramos na Normandia, dia 6 de junho de 1944. O resto vocês já sabem. A história é a memória de James Ryan, vivido por Matt Damon, que fora salvo pelo batalhão do capitão Miller, interpretado por Tom Hanks.

Quando a memória termina, voltamos ao cemitério. No sentido bem aristotélico de um homem que realizou sua vida, James Ryan pergunta para sua família: “fiz por merecer?” No caso, descobrimos que a lápide é do capitão Miller, que morreu para resgatá-lo.

Demon Slayer conta a história de um grupo de exterminadores de demônios que viajam de trem. O protagonista é o simpático jovem Tanjiro, que viaja com sua irmã e seus amigos Zenitsu e Inosuke em busca do excêntrico e carismático guerreiro espadachim chamado Kyojuro Rengoku; seu destino vale o ingresso. O objetivo desse grande guerreiro, que incorpora grandes valores morais, é caçar um poderoso demônio responsável por ter matado muitos caçadores de demônios.

O nome deste demônio é Enmu. E comecei a me interessar de fato pelo filme depois que entendi a complexidade desse personagem na trama. Enmu é um personagem extremamente sádico e niilista. Ele tem o poder de controlar a mente de alguns passageiros do trem que sofrem de uma insônia severa. Enmu, através desses passageiros, invade os sonhos dos matadores de demônios. Seu objeto é destruir os núcleos espirituais desses guerreiros, simulando uma realidade através de seus sonhos. No entanto, quando entramos nos sonhos de cada personagem, descobrimos que são os demônios interiores que podem nos escravizar.

Tirando todas as mirabolantes sequências de luta, e alguns exageros desnecessários para um paizão de 43 anos, o roteiro de Demon Slayer é de tirar o chapéu e enganar o sono.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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