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Israel, com sua história milenar, continua a surpreender o mundo com descobertas arqueológicas feitas regularmente. Em escavações lideradas por arqueólogos israelenses, americanos, alemães, franceses, britânicos e italianos, vêm sendo encontrados vestígios que não apenas iluminam o contexto dos relatos bíblicos, mas reforçam, com evidências concretas, que essas histórias ocorreram em cenários fidedignos e com personagens históricos reais.
Este artigo é uma adaptação e ampliação de um texto originalmente escrito por Hananya Naftali, comunicador israelense conhecido por divulgar conteúdos relacionados à história e à cultura de Israel.
A versão a seguir foi enriquecida com informações adicionais, com o objetivo de oferecer ao leitor uma visão mais aprofundada sobre como descobertas arqueológicas em Israel reforçam a veracidade histórica de relatos registrados nas Escrituras Sagradas.
1. A cidade dos dois portões – Khirbet Qeiyafa
No coração do Vale de Elá, entre Jerusalém e as colinas da Judeia, arqueólogos descobriram uma cidade fortificada datada de cerca de 1000 a.C., época tradicionalmente associada ao reinado do rei Davi. O local foi identificado como Khirbet Qeiyafa. Um dos detalhes mais intrigantes é a existência de dois portões de entrada – algo incomum para cidades da Idade do Ferro, cuja defesa dependia de um único acesso.
Esse fato remete diretamente a “Sha’arayim” (Saaraim, literalmente “Dois portões”), mencionada em 1Samuel 17.52 como uma cidade com dois portões, próxima ao local onde Davi derrotou Golias. Inscrições em hebraico arcaico, utensílios cerimoniais e estruturas defensivas indicam que se tratava de um assentamento israelita, organizado e centralizado, contrariando teorias que negavam a existência de um reino unificado sob Saul.
2. A bênção gravada em prata – Ketef Hinnom
Nos anos 1970, uma escavação em Ketef Hinnom, ao sul de Jerusalém, revelou um conjunto de tumbas escavadas na rocha. Em uma delas, os arqueólogos encontraram dois pequenos rolos de prata enrolados, cuidadosamente armazenados. Após anos de trabalho minucioso para abri-los sem danificá-los, revelou-se que continham a mais antiga inscrição bíblica conhecida: a Bênção Sacerdotal, registrada em Números 6.24-26:
“O SENHOR os abençoe e os guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre vocês e tenha misericórdia de vocês; o SENHOR sobre vocês levante o seu rosto e lhes dê a paz.”
Datados do século VII a.C., esses artefatos antecedem os Manuscritos do Mar Morto em quase quatro séculos. Gravadas com instrumentos de precisão, as palavras evidenciam o cuidado dedicado à preservação das Escrituras Sagradas muito antes do exílio babilônico. O achado é um marco na arqueologia bíblica, evidenciando que os textos sagrados já eram conhecidos, preservados e tratados com reverência muito antes do que se imaginava.
3. Um lugar de culto clandestino – Tel Motza
A poucos quilômetros a oeste de Jerusalém, em Tel Motza, escavações revelaram a existência de um lugar de culto construído no século IX a.C., da época do Primeiro Templo. O edifício possuía um altar central e objetos cerimoniais, como estatuetas e vasos rituais, o que sugere que práticas religiosas paralelas ao culto no Templo de Jerusalém coexistiram por séculos.
O lugar de culto foi provavelmente desativado durante a reforma religiosa do rei Josias, descrita em 2Reis 23, no século VII a.C., que ordenou o fechamento de santuários fora da capital. O achado confirma o que o texto bíblico denuncia: a proliferação de cultos idolátricos em Judá, à margem do culto autorizado no Templo. A descoberta também contribui para a compreensão do processo de centralização religiosa no antigo Israel.
4. Sede do Tabernáculo – Siló
Siló, no centro de Israel, foi um importante centro religioso durante o período dos juízes, antes da construção do Templo de Jerusalém. Foi lá que, segundo o livro de 1Samuel, Ana orou por um filho e Samuel começou seu ministério. As escavações em Tel Shiloh revelaram fundações monumentais, depósitos de cerâmica ritual e ossos de animais que indicam a prática de sacrifícios religiosos.
O local apresenta características que corroboram a presença do Tabernáculo na área, como plataformas niveladas que poderiam ter sustentado uma estrutura portátil. O volume e a diversidade de cerâmica mostram que peregrinações de massa ocorriam ali, como descrito nas Escrituras.
5. Uma batalha apocalíptica – Megido
Megido, um dos sítios arqueológicos mais escavados de Israel, é mencionado em 2Reis 23.29 como o local onde o rei Josias foi morto por forças militares egípcias sob comando do Faraó Neco. Ao longo de suas 26 camadas arqueológicas, foram encontrados palácios, portões tripartidos e estábulos que indicam a importância estratégica e militar do local.
Também conhecida como Armagedom (do hebraico Har Megiddo, “Monte de Megido”), a cidade tornou-se símbolo de confrontos apocalípticos, inclusive da batalha que ceifou a vida do rei Josias. A presença de cerâmica egípcia e inscrições hieroglíficas confirmam a presença egípcia na região, exatamente como o texto bíblico descreve.
6. Fortificações de Ezequias – Jerusalém
Além do famoso Túnel de Ezequias, construído no século VIII a.C., para garantir o fornecimento de água para Jerusalém durante o cerco assírio, arqueólogos descobriram um sistema de fosso ao redor da cidade antiga. Tal infraestrutura de defesa mostra que Ezequias não apenas confiou em sua fé, mas também se preparou militarmente, como descrito em 2Crônicas 32.5.
Essas descobertas, junto com o reforço das muralhas e a inscrição de Siloé, um texto comemorativo encontrado dentro do Túnel de Ezequias, oferecem um retrato detalhado da administração e das prioridades do rei frente à ameaça do Império Assírio.
7. O Palácio de Davi – Jerusalém
Ao sul das muralhas atuais de Jerusalém, foi descoberta uma estrutura monumental por Eilat Mazar, arqueóloga israelense falecida em 2021. O edifício, com paredes espessas e vista para a antiga fortaleza dos jebuseus, coincide em tempo e espaço com a narrativa bíblica sobre o palácio construído para o rei Davi.
Embora a identificação do edifício como o palácio do grande rei ainda seja motivo de muito debate entre os estudiosos, a ausência de estruturas equivalentes datadas do mesmo período na região fortalece significativamente a hipótese de que a estrutura foi o palácio do rei Davi.
A presença de fragmentos cerâmicos do século X a.C., combinada com achados como lacres, selos e vestígios de atividade administrativa, aponta para uma função de alta importância, possivelmente palaciana ou governamental, condizente com um centro de poder da monarquia da dinastia de Davi.
Aliás, um dos achados mais notáveis nas escavações no local é um pequeno selo de argila (bula) com a inscrição “Yehukal ben Shelemyahu ben Shovi” – ou seja, Jeucal, filho de Selemias, filho de Shovi.
Esse nome aparece na Bíblia, especificamente no livro de Jeremias (37.3; 38.1), como o oficial da corte do rei Zedequias, que governou Judá pouco antes da destruição de Jerusalém pelos babilônios, no século VI a.C.
A descoberta é significativa por conectar diretamente um personagem bíblico ao contexto arqueológico do final do período do Primeiro Templo. Além de reforçar a historicidade de figuras mencionadas nas Escrituras, o achado também fortalece a hipótese de que a área escavada serviu como centro administrativo e político do reino de Judá para a dinastia do rei Davi.
8. Escrita hebraica antiga
Inscrições encontradas em sítios como Tel Zayit, Gezer e Khirbet Qeiyafa provam que os israelitas sabiam ler e escrever no século X a.C., derrubando antigas teses de que haveria analfabetismo generalizado em Israel. A inscrição de Tel Zayit, por exemplo, apresenta um alfabeto completo (abecedário) em hebraico primitivo.
Essas evidências indicam que uma cultura letrada existia em Israel durante o tempo dos reis Davi e Salomão, o que torna plausível que textos bíblicos fossem compostos ou preservados já nessa época.
9. Onde repousou a Arca da Aliança – Quiriate-Jearim
Em Deir el-Azar, os arqueólogos da Universidade de Tel Aviv descobriram uma grande plataforma datada do século VIII a.C., compatível com a descrição de Quiriate-Jearim em 1Samuel 7. Acredita-se que o local tenha abrigado a Arca da Aliança por duas décadas na época dos reis Saul e Davi.
O local revela também evidências de que ali foi um lugar de veneração, com estruturas de grande porte e vestígios de oferendas. A descoberta fornece contexto material para um dos objetos mais sagrados do povo de Israel.
10. Os Manuscritos do Mar Morto – Qumran
Qumran, localizado às margens do Mar Morto, tornou-se fundamental para os estudos da Escritura após a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, entre 1947 e 1956. Esses documentos, datados entre o século III a.C. e o século I d.C., incluem cópias quase completas de livros do Antigo Testamento, além de textos apócrifos, comentários aos livros bíblicos e regras comunitárias. São os manuscritos bíblicos mais antigos já encontrados, permitindo comparar versões do texto sagrado e avaliar a precisão de sua transmissão ao longo dos séculos.
Acredita-se que a comunidade de Qumran era formada por essênios, um grupo judaico rigoroso e messiânico. Seus escritos oferecem uma percepção da diversidade do pensamento religioso no judaísmo do Segundo Templo, com ênfases em escatologia, pureza ritual e críticas ao sacerdócio oficial. Muitos desses elementos dialogam com o ambiente da vinda do Senhor Jesus, o Messias de Israel, ajudando a contextualizar o surgimento do cristianismo.
Além disso, os manuscritos de Qumran são cruciais para a crítica textual, ao serem comparados com o texto massorético e outras versões antigas das Escrituras. Assim, Qumran é uma ligação essencial entre a arqueologia, a história e os estudos bíblicos.
A terra de Israel nos faz crescer na fé
As escavações arqueológicas em Israel continuam a revelar fragmentos de uma história tratada por muitos como lendária ou mitológica. No entanto, cada inscrição gravada em pedra, cada fortificação desenterrada, cada artefato ritual descoberto confirma algo maior: que os textos bíblicos não surgiram no vazio. Eles nasceram de contextos reais, de pessoas reais, de eventos que moldaram a identidade de um povo milenar – e, por consequência, do mundo ocidental.
Essas descobertas em Israel não provam a existência do único Deus ou a veracidade das Escrituras, mas reforçam a historicidade de relatos registrados nos textos sagrados que, por séculos, sustentaram a devoção de bilhões de pessoas em todo o mundo.
O papel da arqueologia bíblica é iluminar o pano de fundo histórico e cultural onde essas histórias se desenrolaram
E quando esse pano de fundo se revela em camadas de terra, ruínas, ossadas e inscrições, deveríamos ser motivados a buscar ainda mais profundamente o Deus Criador revelado nas páginas da Escritura.
Como afirmou Naftali, em seu texto: “Essas descobertas não provam a Bíblia. A Bíblia não precisa ser provada. Mas o que elas fazem é confirmar algo muito simples e muito poderoso: as histórias foram escritas porque aconteceram. Bem, as pedras [em Israel] não estão apenas clamando – elas estão gritando. E o mundo deveria estar ouvindo.”
Talvez o maior convite da arqueologia bíblica seja este: não apenas desvendar o passado sob camadas de terra, mas ouvir o chamado da história redentiva como revelada na Escritura Sagrada, que reverbera através dos séculos, moldando vidas e nações com o poder que vem do Deus de Israel e do seu Messias, o Servo sofredor.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes