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Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém
| Foto: Valter Cirillo/Pixabay

De 17 a 19 de outubro, terei o privilégio de participar, junto com outros 20 representantes cristãos do Brasil, do evento Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém (TJCII), na capital de Israel, quando se encontrarão representantes carismáticos, católicos, judeus messiânicos, ortodoxos, pentecostais e protestantes do mundo todo. Compartilho aqui um pouco da história e alvos desse movimento, servindo-me do livro Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém: visão, origem e documentos, publicado pela Associação Ministério Ensinando de Sião, em 2013.

No livro dos Atos dos Apóstolos é descrita a realização do Concílio em Jerusalém, quando todos os apóstolos e os presbíteros que participaram eram judeus (At 15,6). Nesse Concílio, os representantes da nascente Igreja decidiram os termos da admissão dos gentios convertidos ao Corpo do Messias. Os líderes reunidos em Jerusalém foram guiados pelo Espírito Santo no sentido de serem generosos no que se referia à imposição de condições mínimas aos gentios crentes: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês maior encargo além destas coisas essenciais: que vocês se abstenham das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e da imoralidade sexual; se evitarem essas coisas, farão bem” (At 15,28-29).

O alvo dos organizadores do encontro Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém é preparar o caminho para um Segundo Concílio na cidade do grande rei, que reúna judeus e gentios crentes em Jesus, levando-os a se aceitarem um ao outro no Corpo do Messias, tentando desfazer a mais antiga divisão da igreja. Em tal concílio, se espera que os líderes gentios reconheçam os judeus crentes em Jesus, tanto pessoal quanto corporativamente, como parte integrante da igreja, enquanto permanecem membros da comunidade judaica e, sem dúvida, representantes dos antigos irmãos que vieram em primeiro lugar à fé no único Messias: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu...” (Rm 1,16). Pois desde o século 4.º a Igreja cristã excluiu qualquer expressão da identidade judaica e proibiu todo tipo de práticas judaicas pelos judeus crentes em Jesus, o Filho de Deus e Filho de Davi. Portanto, almeja-se que esse Segundo Concílio promova a reconciliação dos crentes judeus e gentios, que não deveria se restringir à aceitação mútua, mas também a que os gentios reconheçam e honrem o lugar legítimo dos judeus no Corpo do Messias. Ou seja, que haja por parte dos crentes gentios honra em lugar de desprezo, humildade em lugar de orgulho para com os crentes judeus. Pois os irmãos mais novos devem honrar o irmão mais velho, o primogênito.

Espera-se que os líderes gentios reconheçam os judeus crentes em Jesus, tanto pessoal quanto corporativamente, como parte integrante da igreja, enquanto permanecem membros da comunidade judaica

O anseio por um Segundo Concílio de Jerusalém

Um dos líderes do movimento judaico-messiânico, composto pelos judeus que creem em Jesus (Yeshua) como o único Messias (HaMashiach) prometido ao povo de Israel, Dan Juster, autor de livros como Raízes judaicas: entendendo as origens da nossa fé, rememorou como esse anseio por um Segundo Concílio de Jerusalém começou:

“No fim de janeiro de 1995 eu estava ministrando na Conferência de Líderes do Meio Leste (Mid East Leardership Conference) em Gettysburg, Pensilvânia, EUA. Eu havia sido um membro da diretoria desta conferência por muitos anos, e também líder da [sinagoga messiânica] Beth Messiah, onde fui pastor e permaneci por muitos anos. Os ministrantes daquele ano foram John Dawson, atual presidente da Jocum (Youth With a Mission), e Wellington Boone, um renomado líder de uma rede que congrega a maioria das igrejas afro-americanas nos EUA. A mensagem de John enfocou o arrependimento mútuo e o perdão entre grupos que tinham uma história significa de divisão, tendo como causa o pecado de um dos grupos ou de ambos. Esses grupos poderiam ser nações, grupos étnicos, raças ou igrejas.

[...] John escrevera um importante livro intitulado Healing America’s Wounds (‘Curando as feridas da América’) [...]. John ministrava sobre tal reconciliação em encontros nos Estados Unidos, África e na Ásia Oriental. O ponto de vista de John era que quando representantes de grupos cristãos divididos se encontrassem para arrependimento e reconciliação, o poder seria derramado para o avanço do Evangelho. Muitos exemplos eram dados por ele.

Muitos de nossas congregações judaicas messiânicas ficaram admirados de John não mencionar a grande ferida que havia entre o povo judeu e a Igreja. Um de nossos líderes observou que esta era a maior de todas as feridas. Tudo isso estava acontecendo durante as comemorações do 50.º aniversário da libertação de Auschwitz. Elie Weisel até mesmo orou para que Deus não se esquecesse, por toda a eternidade, daqueles que cometeram o Holocausto. Fiquei conturbado ao compreender que o arrependimento da Igreja perante o povo judeu, e em especial para com o remanescente judeu messiânico, era a mais fundamental de todas as formas de arrependimento e reconciliação. Ao fim da conferência, me aproximei de John e mencionei que ele não tinha citado o povo judeu e que era o 50.º aniversário da libertação de Auschwitz. Ele se espantou, pois ele mesmo considerava a ferida entre a Igreja e o povo judeu como a maior ferida na história. Ele mesmo já havia escrito em seu livro que a cura desta ferida liberaria o poder maior para a colheita mundial. Como não havia mencionado isso? Ele viu o fato como providencial. Eu disse a John que a rejeição do povo judeu pela Igreja tinha raízes na rejeição [... da] comunidade judaico-messiânica.

Se esta comunidade judaica atual tivesse sido aceita (os judeus messiânicos), teria sido impossível rejeitar o povo judeu como um todo. John não tinha visto isso antes. Além disso, os encontros de John para arrependimento e perdão eram feitos com pessoas que representavam seus respectivos grupos, e todas que eram crentes. Perguntei, então, a John se eu poderia levar um representante da comunidade judaico-messiânica [...] caso ele trouxesse um representante da Igreja. Isto poderia ajudar a Igreja a se alinhar aos judeus messiânicos e à comunidade judaica em geral, o que teria implicações enormes. John estava convencido e pediu-me para registrar isso numa carta.

No mês seguinte, se não me falha a memória, dois outros eventos ocorreram, o que me deixou maravilhado. O primeiro foi a visita do padre Peter Hocken em meu escritório, em Gaithersburg, Maryland, EUA. Peter me trouxe um livro e disse que podia me interessar, pois falava sobre Israel. Neste livro, The Glory and the Shame (‘A glória e a vergonha’), ele apresentava seu argumento de que a Igreja não teria unidade nem curaria suas divisões a menos que tratasse a rejeição, desde os primeiros séculos, das comunidades judaico-messiânicas. Ele escreveu que seria como se a comunidade judaico-messiânica ressurgisse dos mortos. A igreja precisava se arrepender e tratar com seus pecados históricos, buscando reconciliação com esta comunidade. Isto levaria à unidade, tempo de colheita e à segunda vinda do Messias. Fiquei assombrado e chorei muito quando li este livro. Peter até mesmo vira a importância de o movimento judaico-messiânico ter um governo próprio, uma vez que seu chamado era tanto para com o judeu como para a Igreja. Ele não poderia estar, consequentemente, sob o governo de nenhuma instituição eclesiástica. Sem dúvida, a Igreja só poderia desfrutar dessa nova unidade reavaliando sua teologia através do retorno às suas raízes judaicas. Eu sabia que esse ajuntamento que John e eu havíamos visualizado seria muito importante.

Eu pretendia falar a Marty Waldman [rabino da sinagoga messiânica Baruch HaShem em Dallas, Texas, e que foi presidente da União das Congregações Judaico-Messiânicas] do meu encontro com John Dawson. Mas, antes que tivesse oportunidade de falar-lhe, [...] Marty compartilhou comigo uma visão que lhe fora dada enquanto preparava um sermão. Ele estava incomodado por causa da visão. Ele acreditava que havia sido chamado por Deus para reunir os líderes da Igreja num concílio com o intuito de reverter muitas decisões das igrejas que rejeitavam a legitimidade, a identidade e o estilo de vida judaico dos discípulos de Yeshua [Jesus] que eram judeus. As igrejas precisavam se arrepender e abraçar o movimento judaico-messiânico. Ele teve a visão de um concílio onde isso aconteceria. Seria chamado de ‘Segundo Concílio de Jerusalém’. [...] Logo de início [de outra reunião], Peter Hocken levantou a questão de que seria difícil para nós convocar um Concílio mundial, mas poderíamos chamar líderes de Igrejas para alcançarmos esse objetivo. Seria mais fácil conseguirmos esse apoio se chamássemos nossa iniciativa de ‘Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém’ (TJCII – Toward Jerusalem Council II), vislumbrando um concílio eclesiástico em vários corpos governamentais de igrejas. Isso deixou claro que as antigas igrejas históricas eram também importantes para nós, uma vez que estavam diretamente ligadas aos concílios que rejeitaram a identidade e o estilo de vida judaico na Nova Aliança. O envolvimento delas era crucial.”

Oremos para que tais esforços possam contribuir ao já crescente movimento de reconciliação entre os discípulos judeus e gentios de Jesus entre as nações, e sejam sinais da volta vitoriosa do único Messias, o Senhor Jesus

Eventos significativos na história da organização para o Segundo Concílio de Jerusalém

A partir desses contatos iniciais, várias reuniões e encontros ocorreram. Estes foram os principais eventos que ocorreram até 2009, e que servem de preparação para organizar o evento Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém, que ocorrerá em outubro desse ano:

Março de 1996: Primeiro encontro do Comitê Executivo na Sinagoga Messiânica Baruch HaShem, em Dallas, Texas, EUA.
Setembro de 1996: Segundo encontro do Comitê Executivo no Shady Grove Prayer Center, em Grand Prairie, Texas, EUA. Finalizada a estruturação básica inicial do TJCII.
Maio de 1997: Viagem diplomática de cinco membros do Comitê por Inglaterra, França, República Tcheca, Eslováquia e Áustria. Importante encontro com o cardeal-arcebispo Christoph Schönborn, de Viena, Áustria.
Setembro de 1997: Consulta internacional em Emmetten, Suíça.
Março de 1998: Primeira viagem para oração, visitando Granada, Córdoba e Toledo, na Espanha.
Setembro de 1998: Segunda viagem para oração, visitando Roma (encontro com o cardeal Joseph Ratzinger, futuro papa Bento XVI) e Niceia (hoje Izmit, na Turquia).
Abril de 1999: Terceira viagem para oração realizada em Israel, incluindo Yavneh e Jerusalém.
Outubro de 2000: Reorganização da iniciativa TJCII no encontro do Comitê Executivo em Dallas. Marty Waldman torna-se secretário-executivo geral. Dave e Raquel Pyles, de Dallas, recebem a responsabilidade de supervisionar a intercessão pelo TJCII.
Outubro de 2001: Fundado o escritório europeu em Viena, Áustria. Primeira consulta europeia em Viena.
2002: Publicada a primeira edição do livreto Toward Jerusalem Council II: Vision and History (“Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém: visão e história”).
Fevereiro de 2003: Segunda consulta europeia em Viena, Áustria. Primeiro contato do Jerusalem Olive Tree Fellowship com o TJCII.
Maio de 2003: Primeira consulta norte-americana em Dallas, Texas, EUA.
Maio de 2004:Consulta em Addis Ababa, Etiópia. Encontro com o patriarca Paulos, da Igreja Ortodoxa Copta.
Outubro de 2004: Terceira consulta europeia em Viena. Início da formação de grupos nacionais do TJCII na Europa. Publicação do livreto The Messianic Jewish Movement: An Introduction (“O movimento judaico messiânico: uma introdução”).
Fevereiro de 2005: Publicação do primeiro communiqué (informativo) do TJCII.
Maio de 2005: Encontro do Comitê Executivo em Dallas. Padre Vasile Mihoc une-se ao comitê como o primeiro membro vindo da Igreja Ortodoxa.
Setembro de 2005: Primeira consulta latino-americana em Buenos Aires, Argentina.
Maio de 2006: Encontro do Comitê e jornada de oração em Antioquia (hoje Antakya, na Turquia), como o lugar onde a Igreja de “um novo homem” teve seu início e de onde a missão aos gentios começou. Este encontro foi seguido de outros encontros com grupos menores em Nairobi (importante encontro com o arcebispo anglicano Benjamin Nzimbi) e no Egito.
Julho de 2006: Primeira consulta à Igreja Ortodoxa em Brancoveanu, Romênia.
Setembro de 2006:Encontro Internacional de Oração em Jerusalém, copatrocinado pelo TJCII e pelo Jerusalem Olive Tree Fellowship. Publicação pelo TJCII de A Cry to The Church (“Um clamor à Igreja”). Decisão do Comitê Executivo de estabelecer comitês continentais do TJCII. Publicação do livreto The Marranos: A History In Need of Healing (“Os marranos, uma história que precisa de cura”).
Outubro de 2006: Primeiro encontro de líderes europeus em Helvoirt, Holanda.
2008: Firmada aliança dos líderes do TJCII e Jerusalem Olive Tree Fellowship. Benjamin Berger e Marcel Rebiai se tornaram os representantes da Olive Tree no Comitê Executivo do TJCII.
Setembro de 2008:Encontro internacional de líderes em Gnadenthal, Alemanha, com aproximadamente 100 líderes presentes. Jovens líderes convidados como uma categoria distinta.
Maio de 2009: Foi concluído e publicado o documento The Theological Task of TJCII (“A tarefa teológica do TJCII”).
Outubro de 2009: Encontro do Comitê Executivo em Israel. Alguns líderes jovens participam e fazem contato com os membros executivos.

Os alvos do Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém

Assim, o Rumo ao Segundo Concílio de Jerusalém, que ocorrerá em outubro deste ano, é um encontro de líderes cristãos gentios e líderes judeus messiânicos para promover os seguintes objetivos, de acordo com a declaração de visão do TJCII elaborada em 2002:

Em primeiro lugar, “tornar conhecida aos líderes da igreja e estudiosos cristãos a restauração dos segmentos judaicos da Igreja (a igreja da circuncisão ou Comunidades Judaico-Messiânicas)”.

Em segundo lugar, “encorajar o arrependimento pelos pecados dos gentios cristãos e da Igreja cristã contra o povo judeu, especialmente pela supressão do testemunho judaico corporativo de [... Jesus], o Messias”.

Em terceiro lugar, “incentivar a intercessão nas Igrejas para o abandono de todas as formas de ensino relacionado à substituição do chamado e da eleição de Israel [pela Igreja gentílica], reconhecendo o papel dos judeus no corpo do Messias”.

Por fim, “encorajar a comunidade judaico-messiânica dentro e fora de Israel a abraçar a visão da reconciliação e restauração e, como consequência, fomentar a unidade entre as diferentes correntes e organizações dentro do Movimento Judaico-Messiânico”.

Que haja por parte dos crentes gentios honra em lugar de desprezo, humildade em lugar de orgulho para com os crentes judeus. Pois os irmãos mais novos devem honrar o irmão mais velho, o primogênito

Portanto, “neste processo, [...] deverá se reunir em Jerusalém o maior número possível de representantes de igrejas/denominações de todos os continentes com o propósito de anunciar um chamado a todo o mundo cristão para o reconhecimento da igreja da circuncisão. Fazemos isto para que Deus possa ser honrado por meio da obra de reconciliação de Seu Filho, mediante a cura do cisma original no corpo de Cristo, que ocorreu entre os componentes judaico e gentílico. O propósito final da unificação do Corpo e restauração dos crentes judeus ao seu lugar de direito é apressar a vinda do Senhor [Jesus...] em glória e completar finalmente sua obra de redenção no Reino de Deus”.

Um clamor

À luz da importância de tal encontro, oremos para que tais esforços possam contribuir ao já crescente movimento de reconciliação, tanto corporativamente quanto individualmente, entre os discípulos judeus e gentios de Jesus entre as nações, e sejam sinais da volta vitoriosa do único Messias, o Senhor Jesus, que esmagará todos os seus inimigos e congregará todos os seus.

Supliquemos, portanto: “Deus Pai, Criador; Deus Filho Redentor; Deus Espírito Santo, defensor e guia; Santa, Bendita e Gloriosa Trindade [...], governa e dirige a tua santa Igreja; enche-a de amor e de verdade; concede-lhe a unidade que tu desejas. Dai-lhe a coragem de pregar o Evangelho em todo mundo e de fazer discípulos de todas as nações. Ilumina os teus ministros com sabedoria e conhecimento para que, por suas vidas e ensino, proclamem a tua Palavra. [...] Dá ao teu povo a graça de ouvir e de acolher da tua Palavra e de produzir o fruto do Espírito. Leva ao caminho da verdade os que estão no erro ou andam iludidos. Fortalece os que estão de pé; ampara os fracos; levanta os que caíram; e ajuda-nos a triunfar sobre o mal. [...] Deus Santo, Santo e forte; Santo e imortal, tem misericórdia de nós”.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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