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Gabriel Sestrem

Gabriel Sestrem

Paternidade

O homem é o provedor. Mas a preocupação financeira é biblicamente correta?

Homem provedor
O dinheiro é a preocupação número um de muitos homens, principalmente depois que se tornam pais. Mas essa inquietação é biblicamente correta? (Foto: Feita com Google IA)

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Do ponto de vista histórico, das primeiras civilizações, os homens eram responsáveis pela caça e defesa do grupo. Nós preservamos essa estrutura, mas a adaptamos para o nosso tempo. O homem antigo, que tinha a missão de proteger sua tribo contra grupos rivais e animais selvagens, hoje é o principal responsável pela proteção da sua família. 

Já o homem caçador se tornou o provedor do lar: se antes a missão era caçar para alimentar a tribo, hoje permanece o dever de trazer sustento por meio do trabalho, garantindo que nada fale. Isso, aliás, é um princípio bíblico mostrado em Efésios 5:25-29.

Trazemos, portanto, essa aspiração – e, na perspectiva bíblica, esse chamado – de ser o principal provedor para a família. É por isso que a provisão financeira é a preocupação número um de grande parte dos homens, principalmente depois que se tornam pais. Mesmo que tudo esteja bem, é comum que nossa cabeça esteja sempre pensando em formas de trazer mais recursos e dar mais conforto para quem depende de nós.

Até aí não há nada de errado. O problema começa quando passamos a idealizar que nossos filhos só serão felizes se pudermos dar a eles uma vida muito acima da média, com direito a absolutamente tudo o que não tivemos e mais um pouco.

Se você é um pai cristão, seu foco deveria estar onde muitos homens falham: amar, orientar e proteger todos os dias, com tempo e paciência, construindo um legado eterno na vida dos filhos. Quando a provisão financeira é o único dos quatro princípios da paternidade aplicados, a criança será muito mais pobre do que se imagina e carregará por toda a vida carências emocionais e lacunas de aprendizado, tudo graças à negligência do pai a princípios essenciais.

Em outras palavras, dedicar atenção excessiva ao dinheiro inevitavelmente vai comprometer outros princípios. O pai que trabalha 12 ou 14 horas por dia imaginando estar dando o melhor aos filhos pode, na verdade, estar sacrificando algo ainda mais valioso: o tempo ao lado deles (a história do Edson, que contei neste artigo, é um exemplo real disso)

É claro que vez ou outra pode ser necessário trabalhar a mais. O que não se pode é acostumar com a ideia de que trazer mais dinheiro sempre será mais importante do que o tempo passado juntos.

Mesmo não sendo o centro, o aspecto financeiro é essencial

Feita essa ponderação, a provisão financeira é um importantíssimo princípio bíblico para a criação de filhos e a manutenção da família.

“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente”. (1 Tm 5:8)

O cuidado, no versículo acima, tem a ver com garantir o sustento – dar um teto para morar, roupas para vestir, não deixar faltar alimento e proporcionar lazer quando possível. Então, respondendo ao título do artigo, sim, a preocupação em trazer dinheiro para casa é biblicamente correta, desde que sob uma perspectiva de equilíbrio.

Como pais, em alguns momentos pode ser assustador pensar em todas as necessidades financeiras que os filhos terão ao longo da vida. Mas há, na Bíblia, várias promessas sobre a fidelidade de Deus quanto ao sustento: o homem justo nunca vai passar necessidade, assim como seus filhos. Pelo contrário, a Bíblia ensina que o justo tem ainda mais do que o necessário, para poder repartir com os outros.

“Já fui jovem e agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado, nem seus filhos mendigando o pão. Ele é sempre generoso e empresta com boa vontade; seus filhos serão abençoados. Desvie-se do mal e faça o bem; e você terá sempre onde morar. Pois o Senhor ama quem pratica a justiça, e não abandonará os seus fiéis”. (Sl 37: 25-28)

Obviamente nos cabe fazer a nossa parte. O “justo”, descrito acima, também tem deveres, e um deles é o de ser um excelente profissional, dedicado com suas funções. José, pai adotivo de Jesus, não deu apenas amor, orientação e proteção física, mas também garantiu o sustento de Maria e de Jesus.

E como fez isso? A Bíblia se preocupou em revelar sua profissão: José era carpinteiro. Foi com o suor de um trabalho árduo e zeloso que ele proveu ao próprio Filho de Deus.

Cabe dizer que, além do trabalho, existem outros princípios bíblicos importantes que impactam na questão financeira e não podem ser negligenciados, como: integridade (Pv 10:9), generosidade e ajuda ao próximo (Pv 19:17), dízimos e ofertas (Ml 3:10), e administração responsável do dinheiro (Pv 21:20).

O homem provedor não pode confiar só na força do braço

O que se pode concluir da sabedoria bíblica é que apesar da enorme relevância de trazer provisão para casa, a preocupação com isso não pode ser exagerada a ponto de tirar o foco de outras coisas igualmente importantes. Jesus tratou claramente desse assunto no Sermão do Monte, em Mateus 6:25-26.

Em outras palavras, um homem e um pai que confia em Deus não tenta resolver tudo só com “a força do braço”, trabalhando muito além do que deveria e se desesperando diante das incertezas da vida (que não são poucas).

Ele apenas coloca em prática, dia após dia, tudo o que está ao seu alcance – trabalho dedicado, integridade, generosidade e administração sábia dos recursos – sabendo que Deus é o principal interessado em que ele tenha o necessário para prover tudo para a sua família.

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