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A expressão empreendedorismo foi cunhada na década de 40 pelo austríaco Joseph Schumpeter no contexto do apogeu do neoliberalismo. No seu sentido original, a ideia-força de empreendedorismo está relacionada com a teoria da destruição criadora, do mesmo Schumpeter, que representa a capacidade que todo empreendedor deve ter de se reinventar e, muitas vezes, destruir para criar crescimento econômico. Novos produtos destroem os antigos, novas ideias destroem as velhas. É a inovação vista como a arte da destruição.

Mas se buscarmos por conceitos de empreendedorismo, seja nos dicionários ou nos teóricos, descobriremos, com certo espanto, que o sentido original dessa palavra é absolutamente desprovido de sentido ético: representa a capacidade de ser criativo, remover obstáculos, de perseverar, de ambicionar.

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Mas tudo isso para que? Não há uma só linha nessa teoria que proponha claramente qualquer objetivo ético do empreendedorismo. Isso significa que o empreendedorismo pode perfeitamente ser do bem ou do mal.

É do mal o empreendedorismo que despreza a necessidade de ser sustentável, tanto do ponto de vista social como ambiental – ou socioambiental. É aquele que a partir do desprezo por pessoas e de vidas – da massa trabalhadora – saca o seu lucro, mesmo que o faça dentro das regras, ou abusando delas. Esse é aquele que solapa recursos naturais ou humilha recursos humanos, ou as duas coisas, para obter seus resultados.

Também é empreendedorismo do mal aquele protagonizado pelos empresários que ultimamente têm frequentado as celas da Lava Jato. Estes empreendem valendo-se das mais nefastas práticas da corrupção ativa e passiva e fazem do suborno seu “core business”, a alma de seu empreendimento.

Também são empreendedores do mal aqueles envolvidos na operação Zelotes, comprando benesses fiscais em órgãos administrativos e também aquela enorme quantidade de empresários sonegadores que figuram na operação Publicano, no Paraná, flagrados em repugnante conluio com fiscais fazendários. Todos ativos empreendedores do mal que destroem a concorrência e o Estado a um só tempo.

Por esses exemplos se vê que ideia de empreendedorismo já está velha e precisa ser destruída. O conceito de empreendedorismo precisa ser qualificado, adjetivado, impregnado dos conceitos éticos da contemporaneidade.

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De fato, Schumpeter construiu esse conceito sob a égide de uma teoria econômica aética, sob a inspiração de um ser humanoide que foi recortado em sua riqueza sensorial para ser convertido em mero “homo economicus”, preocupado exclusivamente com a maximização de seus benefícios, uma espécie de Frankenstein da economia clássica. Um mitológico ser empreendedor da década de 40 que não recebeu o os genes da sustentabilidade e da solidariedade.

Essa neutralidade de valores estava escorada pela proposta de uma economia mecanicista, matematizada, formalizada e aética. Esse padrão de pensamento, no entanto, foi fortemente questionado a partir da década de 80, com os preciosos estudos sobre ética e economia de Amartya Sen.

Por isso, precisa ser destruído, como previu seu criador. Uma ideia velha que precisa ser substituída por uma ideia nova: o empreendedor do bem, capaz de realizar suas aspirações de crescimento econômico sem desprezar as necessidades sociais, ambientais e os valores éticos da vida em sociedade. Ao contrário do empreendedor aético de Schumpeter e dos empreendedores do mal da Lava Jato e outras lavagens, o empreendedor do bem tem consciência ética de seu papel na sociedade, utiliza sua capacidade criadora, sua perseverança e ambição para obter os melhores resultados não apenas para si mesmo, mas para o meio ambiente, para as pessoas, para a sociedade. Citem-se, como exemplo, o crescente grupo das chamadas “B Corps” ou Sistema B, que certifica empresas que demonstram boas práticas sociais e ambientais.

Outra vertente do empreendedorismo do bem é o empreendedorismo social. Esse conceito desenvolveu-se nas últimas duas décadas, a partir de autores como Greg Dee, David Bornstein e também pelo instigante exemplo do banqueiro social Mohamad Yunus.

O empreendedorismo social é qualificado pelo seu objetivo de solucionar problemas sociais e ambientais. É um movimento cultural contemporâneo que não apenas requalifica e atualiza ideias anteriores sobre filantropia ou assistência social, como também funde conceitos próprios de gestão empresarial a propósitos sociais e ambientais.

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Há, de fato, uma numerosa variedade de denominações que podem estar abrangidas por este modo de ver os empreendimentos, como a inovação social, o negócio social (social business), as startups do bem, a organização híbrida, o setor 2,5 (dois e meio), o negócio de impacto, a economia criativa e outras.

O empreendedorismo do bem é uma poderosa ideia-força, ideia nova impregnada de valores sociais, capaz de destruir velhas ideias, como previu Schumpeter.

*James Marins é advogado, professor universitário, idealizador, fundador e presidente do Instituto Legado de Empreendedorismo Social. O Instituto Legado é parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.

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