(Imagem: Arquivo Gazeta do Povo)| Foto:
CARREGANDO :)

Coitado do quadro negro. É sempre o primeiro a ser acusado, e o último a ser defendido quando o assunto é modernizar as salas de aula e os meios de ensino. Ele parece ser o vilão até o final do filme, quando ele dá o último suspiro e você descobre que o mocinho era ele.

O quadro negro foi concebido para substituir, de maneira prática e econômica, o uso do papel, em grandes turmas. Através dele milhares e milhares de pessoas puderam ser alfabetizadas com poucos recursos. Os freis-cristãos na França do século XVI foram os responsáveis por essa grande revolução didática.  Nessa época, o papel, a pena e a tinta, além de caros, eram difíceis de manusear. O uso do quadro negro foi um sucesso tão grande que, após popularizado, permaneceu espalhado pelo mundo por mais de cinco séculos. Agora finalmente começa a dar seus primeiros sinais de senilidade, mas ainda não de morte.

Publicidade

Enquanto o quadro negro envelhece, o papel por sua vez parece ter acesso à lendária fórmula da juventude. Permanece tão jovial quanto à época de sua invenção, há mais de dois mil anos. Digamos que o papel equivale ao da “viúva negra” que já sepultou vários maridos.

O papel atravessou os tempos, os povos e os territórios com uma incrível capacidade de adaptação. Inventado pelos chineses, teve sua técnica de produção mantida em segredo por quinhentos anos. Com os japoneses, foi utilizado em blocos batidos com carimbos, para publicar orações.

O acesso às técnicas de produção do papel foi uma das principais conquistas de várias guerras. Chegou aos árabes, depois aos italianos, aos franceses, aos alemães e a toda Europa. Atravessou todas fronteiras e oceanos. Adentrou os mosteiros mais longínquos. Sobreviveu à tinta e à pena de ganso, teve seu tempo de glória com a impressão da primeira Bíblia Sagrada por Guttemberg.

Foi ele, o papel, o veículo através do qual a filosofia, a arte, a religião a literatura e os descobrimentos científicos alcançaram o mundo. Viu nascer e morrer muitas tecnologias e modernidades. Teve um caso de amor e ódio com a máquina de escrever, foi embrulho de compras, registrou casos de amor e sentenças de morte. Nele foram feitas as declarações de guerra e os acordos de paz. Os registros do nascimento e da morte. E em plena expansão da tecnologia parece mais vivo que nunca. Afinal os computadores mudam de tamanho e formato, mas não vivem sem uma boa impressora.

As tímidas iniciativas de conscientização de pensar na natureza antes de imprimir alguma coisa, parecem pálidas como papel frente aos papéis que acumulamos durante a vida. As escolas, os escritórios e os órgãos públicos parecem que vão ser afogados em papel.

Publicidade

Apesar da insistência do velho quadro negro em permanecer em nossas escolas, o velho papel é ainda mais insistente que ele. E não vai diminuir seu “papel” em nossas escolas tão facilmente, a não ser que somemos esforços para reduzir sua utilização. Afinal, o “papel” que o papel desempenha nas escolas pode ser reduzido um pouco, você não acha?

*Artigo escrito por Raquel Momm, diretora do Centro Educacional Evangélico e conselheira do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.  

**Quer saber mais sobre cidadania, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Acompanhe o Instituto GRPCOM também no Facebook  InstitutoGrpcom e no Twitter @InstitutoGRPCOM